Toca o telefone. O ilustre Nelpídio do Nascimento das Cruzes do Santo me diz que está encaminhando um projeto para a criação do Novo Estado de Rondónia. Ainda bem. Fugiu do hospício.
Só mais um dos que acha o número do nosso telefone e começa a delirar, em plena era da internet.
De outra feita quem ligou foi Maria Aparecida das Dores de Jesus, uma senhora que me contou estar sendo vítima de um compló internacional, armado por CIA, KGB e FBI. O propósito dos órgãos de informação é a sua eliminação física. Mas antes querem sua desmoralização pública, e Maria disse que traria o atestado de insanidade que forjaram contra ela. Foi dopada com pentatol e outras substàncias químicas.
O resultado é que dona Maria ficou fã de Fernando Henrique Cardoso, Carlos Menem e de Domingo Cavallo. Maria é muito bem informada. Anda na rua com a camisa do governador, torce para o Vasco no meio da galera do Flamengo, e vibra com os gols de video-tape nos programas de televisão, aos domingos, na rede Bandeirantes.
Cada gol que o apresentador Milton Neves seleciona é motivo de gritaria. A família da senhora padece.
No episódio da renúncia de António Carlos Magalhães chorou copiosamente. Chorou junto com com Roberto Arruda. Chorou com os demitidos na praça e queria bater neles, ajudando os policiais em serviço.
Incoerente criatura, filha de filhos da ditadura, assiste toda a programação da rede Globo, e acredita piamente no Jornal Nacional. É contra o MST, pois acha que o governo está fazendo reforma agrária, e não sabe por que as pessoas reclamam do salário mínimo. É devota da Seleção Brasileira de Futebol, tem poster de Eurico Miranda e do presidente George Bush, grande benemérito do Brasil(opinião dela).
Maria não falou, mas suspeito que seja parente do Nelpídio. Questão de analogia de nomes. Santidades exacerbadas e neurónios difusos.
Maria disse que sabe quem é o próximo governador de Rondónia, resultado de uma aliança entre a esquerda e a direita, devidamente coordenada pelo pessoal do centro. É uma articulação forte suficiente para penetrar no seio do eleitorado rondoniano. Bem no centro político. Prefiro deixar de lado. Maria e Nelpídio são loucos para terem seus nomes publicados.
Um momento de glória para quem teve o infortúnio de nascer numa dessas ruas pobres da Amazónia. E saber usar um telefone de vez em quando.
