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Contos-->Novo Mundo -- 28/06/2003 - 14:58 (Flavia.s) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
QUATRO DIAS

Júlia era uma menina igual às outras? Ela com certeza responderia que não. Aos 19 anos, como toda pessoa que está saindo de adolescência, ela tentava desesperadamente criar uma identidade para si, e, em verdade, seus pensamentos e atos eram bem distintos da maioria das garotas de sua idade. Contudo, tinha uma extrema dificuldade de “convencer” as pessoas disso. E de tanto escutar dos outros “você é ainda uma garotinha, às vezes, sozinha em seu quarto, ela chorava e duvidava de si mesma. E nesses momentos de solidão profunda, ela refletia sobre as coisas do mundo, conversava com as folhas de papel que logo respondiam pela sua própria caneta, forjava diálogos na solidão do seu quarto, afinal, quem a escutaria, de verdade? Nas leituras buscava respostas, que quase sempre lhe traziam decepções, noutros momentos, euforia, esta, logo esmorecia diante de seu grande senso crítico, assim, já dizia sua amiga Elisa, nem Freud explica.
Já havia desistido de tentar “fazer-se entender aos outros”, por isso, guardava só para si seus pensamentos mais íntimos. Isto tinha um grande efeito colateral, pois ela vivia estressada, brigava com todo mundo, às vezes, sem motivo algum encenava o maior drama, tornava coisas simples problemas insolúveis, e, quase sempre, espantava todos que tentavam se aproximar dela, inclusive membros de sua própria família. Por isso, era comum às pessoas dizerem “Júlia é chata, histérica, fresca, doida, mimada” Ela mandava todos se danar e voltava para a solidão de seu quarto. Muitas vezes tentava se convencer que ela deveria ser assim mesmo, que ninguém mereceria ter acesso à verdadeira Júlia. No final das contas, todas às vezes em que tentara se doar para alguém, vinha a decepção, pois até mesmo seu namorado, o qual ela acreditava amar, teimava as vezes, de repetir os mesmos erros de todos, que ela não sabia o que dizia ou “pensava demais”. Mesmo com toda intimidade, todo carinho, ela estava certa de que ele não a compreendia totalmente e talvez, jamais fosse capaz disso.
Freqüentemente os pais dela a tratavam com tanto desvelo e cuidado que se sentia uma doente dentro de casa. Suas irmãs adoravam encher o saco da “doente”, e, quando não estava nos braços de seu namorado ou estudando, preferia ficar bem longe do resto da humanidade.
O fato é que o tempo foi passando, e ela notava, a cada dia, que sua vida entrava numa rotina entediante. Cada vez mais percebia quão limitada e restrita era a visão que tinha do mundo e das pessoas, seu universo “real” se restringia ao seu namorado e a si mesma. As amigas? Com ela trocava apenas as superficialidades típicas de sua idade, aos amigos? Não tinha nenhum. Este isolamento físico e sobretudo da alma a sufocava e inquietava, tornando-a mais nervosa e suscetível a conflitos por causa de uma palha.
Foi nessa época que Elisa, uma das poucas amigas que ainda mantinha contato constante, a convidou para passar um final de semana numa praia do litoral norte. Ela logo rejeitou a idéia, pois seu namorado não poderia ir, viajaria com os pais no feriadão. Elisa insistiu tanto que Júlia foi impelida a indagar mais tarde ao namorado se ele se importava com a possibilidade da viagem com sua amiga. Para sua decepção ele não só autorizou como estimulou a viagem. Júlia só queria uma desculpa pra não ir, contudo, com verdadeira dor no coração, deu um longo beijo no amado dizendo que viajaria, mas deixaria uma parte dela mesma, guardada dentro dele. De outro lado ele dizia que seria bom pra ela sair com Elisa, pois assim, sofreria menos aquela longa ausência dele (de quatro dias).
Chegando finalmente na praia dos mistérios, bem de manhãzinha, Júlia se deparou com a grande casa de veraneio de vários quartos, uma pequena piscina e uma faixa de água marinha que ficava a menos de 50 metros da casa. Afora isso, era tudo um deserto. As águas do mar eram calmas e tranqüilas naquela parte do mundo, mais parecia um lago, e ela ficou encantadissima com o aspecto “selvagem” do lugar. Parecia o último retrato do paraíso na terra. A primeira coisa que fez ao chegar foi tentar ligar para seu namorado pelo celular, em vão. Ela quase teve um acesso de choro em razão disso. Elisa vendo-a assim desconsolada chamou-a para conhecer a “turma”. Havia gente de idade bem variada entre os 14 e 30 anos, e a maior parte do grupo de cerca de 14 pessoas era de meninas. Ela foi apresentada a quase todo mundo, exceto um que não foi encontrado naquele momento. Enquanto ela ía tentando se enturmar, os rapazes logo montaram a churrasqueira, o som rolou solto e logo, foram se formando os primeiros “casais”.
A tarde ainda não havia morrido totalmente e Elisa já estava bêbada, agarrada ao seu “love” que conhecera há poucas horas. Júlia, apesar da beleza do lugar e da companhia de sua melhor amiga, estava naquele momento infeliz e profundamente arrependida de estar ali. Sua irritação aumentava porque dois rapazes insistiam para que dançasse com eles, ela se recusava delicadamente, mas já estava em ponto de implodir de enfado com aquela festinha que parecia dedicada ao Deus Baco. Mesmo diante de tanto barulho, ainda pode ouvir quando um dos insistentes sussurrou ao outro, (ela vai é sobrar). Ao ouvir isso ela ficou indignada, teve ânsias de passar na cara daqueles idiotas que ela não precisava de nenhum deles. De súbito ela se ergueu e resolveu caminhar sozinha pela praia para não correr o risco de fazer uma cena.(maldita hora que vim para esta merda de lugar) pensou.
Enquanto caminhava, a tarde morria dando seus últimos suspiros; o sol dava seu espetáculo multicor e enchia os olhos de Júlia que estavam marejados de lágrimas, como se a tristeza e sua vida naquele exato momento fossem uma só. Ela já estava a mais de um quilômetro da casa, perdida em seus pensamentos. O silêncio era só interrompido pelas débeis ondas que batiam de leve nos delicados pés da menina; toda aquela atmosfera marinha tomava ares oníricos e a realidade era um leve tecido que se moldava e se diluíra de acordo com o espírito da jovem. Esta fechava os olhos para sentir melhor a doce brisa que beijava seu rosto. Naquele exato instante, não pensava em mais nada, estava mergulhada em si, em paz. Queria aquele momento eterno, se aquilo fosse a morte, ela estaria feliz. De súbito, sentiu um arrepio a percorrer-lhe todo o corpo, tinha certeza que, ao abrir os olhos, veriam alguém, teve medo, estava sozinha longe de tudo, e sabia que, de alguma forma havia alguém por ali, talvez observando-a. O medo deu lugar à curiosidade e ela abriu os olhos e viu há alguns metros de distância um rapaz deitado de bruços na areia com um livro nas mãos iluminado apenas por uma lanterna. Ao ver aquela inusitada figura se tranqüilizou um pouco, raciocinou rapidamente que um rapaz com um livro na mão não poderia representar um risco. Não obstante, achou por bem que ele não a visse, mas não pôde resistir à tentação de contemplá-lo alguns instantes. Quem seria aquele rapaz, de onde viria, porque estaria ali sozinho na beira da praia a ler um livro, onde estariam seus amigos? Pensou logo que poderia ser justamente a pessoa a quem ela não fora apresentada, tentou lembrar seu nome, mas não conseguia. Foi tomada de uma vontade maluca de falar com ele. De uma forma ou de outra, parecia que ele também estaria se sentindo um “peixe fora d’água”. Ela sabia seus motivos para buscar aquela solidão, mas e ele? Será que ele era tímido, tinha complexo de inferioridade, ou simplesmente era antisocial? Sem pensar, começou a caminhar na direção dele Enquanto andava seu coração pulsava freneticamente, suas pernas tremiam, ela repetia para si, que é isso Júlia, pra que tanto espanto, o que você está fazendo afinal? Deixa o rapaz aí... e começou a dar meia volta, quando ele velozmente voltou-se pra ela, sem se levantar, sorriu na penumbra e disse:
— Não fuja! Creio que chegou a hora de você parar de fugir, e eu, de te dar uma chance... pergunte...
Ela balbuciou:
— Eu não tenho nada a dizer...eu... tava passando e...
— Por favor! Eu vi o que teus olhos tanto viram nos poucos minutos que ficaste a me contemplar, e li o que eles queriam saber, por isso, estou agora te dando a oportunidade de saciar tuas perguntas, faze-as, sei bem quais são, mais quero escutar de tua voz...
Júlia estava confusa, não sabia o que dizer, ela tremia muito, suava, estava com medo daquele homem que parecia advinhar-lhe os pensamentos, seus olhos? Era noite, tudo escuro; sentia-se invadida, nua, não conseguia abrir a boca, ele continuou...
— Dou-te um adiantamento, você pensou agorinha: como ele viu meus olhos nas trevas? porque aquele cara tá lá, sozinho, sem falar com ninguém isolado, lendo um livro? Porque ele é tímido? Porque ele é doente? Porque tem medo de rejeição? Pelos mesmos motivos que eu? Nenhuma das anteriores. É que vim aqui justamente para ficar só, pensando na vida e devorando um bom livro...
— Mas...
— Porque eu vim com o grupo? Sei que parece contraditório eu querer ficar só e vir com toda essa gente, simples: vim aqui porque tinha esperanças de encontrar uma pessoa....
— Ahhh! Bom, tá explicado, sua noiva, namorada?
— Não. Esse não, dito de forma tão incisiva fez Júlia estremecer.
— Posso saber...quem é? Ela se arrependeu imediatamente ao fazer a pergunta.
— Você sabe. Ao dizer isso, seu olhar flamejou na noite e encontrou o de Júlia de tal forma, que ela ficou sem ar, mais trépida do que nunca, desesperada e extasiada; ele pegou suas mãos docemente e disse numa voz muda, macia, firme e terna falou: Você. Mas a curiosidade e o enleio foram suplantados pela cautela e pudor, afinal, ela estava completamente sozinha com um estranho, e não seria conveniente falar assim com ele tão a sós e ela se foi correndo.

Naquele mesmo dia, à noitinha, ela quase que não teve coragem de sair da casa, tinha medo de encontrá-lo, mas, mesmo assim, saiu. Estavam todos na piscina, inclusive ele, mesmo que longe do grupo. Deitado numa cadeira ao canto da varanda, parecia perdido em contemplar aquele céu límpido e forrado de estrelas. Ela preferiu ficar o mais longe possível dele, uma vez ou outra ela o olhava, ele parecia não saber de sua presença. No fundo do coração dela, havia certeza de que ele a procuraria naquela noite, o tempo passava e nada. Ela riu alto, tentou chamar a atenção, mas ele não esboçava nenhuma reação. Ela queria que ele tentasse falar-lhe, de outro lado rezava para que aquilo não acontecesse. Ele não veio, à noite se ia e a madrugada chegava, poucas pessoas ainda estavam sob o luar, e de repente, lentamente, aquele rapaz tão misterioso e intrigante se ergueu, e sem dizer palavra, se encaminhou em direção a escuridão.
Ao vê-lo se erguer, um desespero tomou conta de si. Ele não falara com ela, como era possível? Ela tinha que saber, tinha que saber quem era aquele homem que a enlouquecia.... e sem pensar, pegou uma cerveja e segui-o na escuridão. Há poucos metros da casa ele falou:
— Você não tem medo? Perguntou sem olhar pra trás o homem misterioso.
— Tenho medo, muito medo! Vou embora, eu não sou disso, eu não posso fazer isso...
— Medo de mim? Atalhou ele tranqüilamente ainda sem volver-se.

Ela teve um momento de pasmo que durou um segundo, e em seguida respondeu mentalmente, de mim, continuou a caminhar...
Eles já estavam à beira do mar a cerca de 100 metros da casa, a lua e as estrelas tocavam ás águas que pareciam o espelho do céu, a brisa suave balançava os longos cabelos de Juli que tremia de frio. Ela disse apressadamente pra o estranho que só tinha vindo trazer-lhe uma cerveja e que tinha quer ir. Ela voltava-se para partir, quando ele pegou levemente sua mão e a conduziu a sentar-se com ele na areia. E ela pode compreender na escuridão iluminada pelo luar e o grande manto de estrelas, seu olhar convidando-a a ficar, ela não respondeu, ficou.
— Quem é você? Perguntou ela numa súplica. Ele respondeu serenamente.
— Não importa quem eu fui, e apenas quem sou e o que sou desde o momento em que te conheci. Para mim, foi um novo nascimento, por isso, vamos fazer um pacto, somos quem somos e só. Isso nos bastará. Também me prometa que nunca perguntará a mim as razões dos sentimentos, porque todo sentimento é despido de razão, a gente escolhe em segui-lo ou, chamar a razão para nos convencer a não aceitá-lo, então buscamos justificativas para ampararem a razão. A culpa, a fé, religião, amigos, trabalho, e lá se vai o sentimento sufocado pela razão. Depois do medo, o maior inimigo do amor é a razão. Mas ressalto, que se falo de amor não quero falar do amor comum, amar para mim é o bem querer, e basta. Classificar e medir sentimentos é tão absurdo quanto querer saber o seu valor.
Ela não respondeu, apenas assentiu com a cabeça, e ao lado dele, bem juntos, sentindo a pele um do outro, conversaram toda noite. Eles, a princípio, se viram como pessoas totalmente diferentes, mas gradativamente ao descobrirem sua essência encontravam uma afinidade, sintonia, intimidade fora do comum, impossível em tão pouco tempo. Ele parecia saber de tudo, lia sua alma sem ao menos olhar seu olhos, conversaram sobre as artes, as vidas e os sonhos de amor. Filosofaram sobre o grande inimigo que é o tempo, e grande aliada que é a esperança. Ela ficara extasiada, encantada, se sentia flutuando em algum lugar além do infinito. As palavras que saíam da boca dele entravam em seus ouvidos e a tiravam de si mesma, como se sua alma fosse sendo sugada por aquele homem. Nunca nenhum ser humano conseguira deixa-la daquele jeito, tão a vontade para falar de tudo, parecia até que ao escutá-lo, ouvia seu próprio coração. O simples contato de sua mão, da sua perna junto a dele intumesciam seus seios e encharcavam seu ventre, aquela voz, doce e firme, pareciam carícias. Na escuridão, ela fechava os olhos, para sentir o gozo daquele momento... até que, embriagada naquele sonho vivo, adormeceu em seu colo.
Pela manhã, Júlia acordara dentro do quarto “das meninas”. Sorriu ao pensar que de alguma forma aquele anjo maravilhoso a levara pra lá. Sentiu vergonha de ser tão dorminhoca. Mas apenas um sorriso largo predominava nos seus olhos brilhantes. De novo, lembrou de seu namorado, sentiu um fio de culpa que logo foi substituído pela certeza que não fizera nada demais, a não ser conversar com alguém, só. Mas outra voz dizia, “e os pensamentos que passaram pela sua cabeça?” e logo a outra prontamente respondia: “Se todos fossem punidos por pensamentos pecaminosos...”, e logo o sorriso voltou, o advogado da liberdade estava mais solícito que o promotor da razão e todo pecado seria perdoado pela sensibilidade do júri do coração.
E, neste dia, eles conversaram o tempo todo. Distantes do resto do grupo, ele mostrou pra ela alguns textos seus, a fez criar um, falaram sobre a vida e o mundo, correram na praia como duas crianças, exploraram a natureza ao redor, e admiraram lado a lado a indefinível maravilha de um pôr-do-sol. E os dois dias seguintes foram iguais. Júlia estava tomada de tanta alegria que esquecera o resto do mundo. Eles apenas conversavam, mas os olhos diziam outras coisas, queriam mais, mas, até então, havia apenas os olhos e o pensamento.
Na noite do último dia, ficaram de novo à beira do mar, sozinhos, e em determinado momento, mesmo com o vento fresco a tomar conta do ar, a conversa foi se tornando quente, as palavras tinham alguma entonação sapeca. Sentados lado a lado ela entrecruzava as pernas nas dele, roçando uma na outra, ele até aí não se movia, apenas olhava-a profundamente, e ela sorrindo. E em seu sorriso pegou a mão dele, deixou-a cair sobre sua perna e quase desmaiou de prazer ao sentir a mão quente, que começou a bailar nas suas coxas. Ela estava de saia, e a mão dele descia por suas pernas e subia até bem perto do centro de prazer para logo descer novamente... cada vez que ela despencava pra longe, Júlia mentalmente implorava para que a mão subisse mais e mais... Tudo isso era feito em silêncio. Ele apenas a fitava, com um olhar envolvente, ela também o encarava, nunca tivera coragem de fazer isso, olhava-o bem fundo nos olhos, fechava-os em intervalos conforme sentia as carícias de suas mãos. Fora de si, saltou no colo dele, agachando-se com as pernas em sua cintura e o beijou freneticamente. Enquanto o beijava, ela sentiu seu membro viril, tocando-a. Este contato tirou dela quaisquer resquícios de pudor e razão. Começou a se mover freneticamente enquanto beijava-o alucinadamente, a boca, o pescoço, o peito, apertava-o com força as costas, comprimia seu corpo no dele, sentia-lhe a língua quente a bailar por sua boca, sua nuca, a sugar e mordiscar seus mimosos seios que estavam libertos da blusa; sentia as mãos dele por debaixo de sua saia, por dentro da calcinha, massageando sua bunda, apertando-a contra ele. Ela gemia muito, cada vez que sentia o contato de seu membro roçando em seu ventre, aquelas mãos que estavam em todos os lugares ao mesmo tempo, até que num grito de prazer, ela teve um gozo, o maior gozo de sua vida, e o abraçou. Mas no instante seguinte, ela saltou de seus braços, começou a vestir a blusa e se recompor rapidamente. Ele a inquiriu com os olhos ela respondeu quase entre lágrimas:
— Eu não sou assim, eu não sou disso, eu não podia ter feito isso... não podia... nunca fiz... eu não sou assim, não pense que sou assim...
— Bem, se você for melhor do que isso,quero casar agora mesmo... disse ele sorrindo tentando abraçá-la enquanto ela se esquivava e repetia sem parar que não era assim. Ele conseguiu envolvê-la em seus braços depois de algumas tentativas e disse: Eu espero que você não se culpe por ser assim, mas, ao contrário, que se alegre e se orgulhe, tenho certeza absoluta que você está aqui, não porque é uma tarada maluca, mas porque algo superior te trouxe e te fez fazer o que fez.
— Mas, e meu namorado, e meu sonho...
— Sonhe, e se você amar seu namorado volte pra ele, se quiser me conhecer melhor fique comigo, mas não se culpe nunca, de ter seguido seu coração... você antes de tudo, tem que ser fiel ao seu coração. Não chore e não se culpe, fique comigo, viva este momento, e se você quis sempre um amor eterno, que este momento fique para sempre guardados em nossos corações. Mas se seu medo é maior... vá embora agora, se fugir vai te fazer bem, fuja meu anjo.
Ao ouvir aquelas palavras, ela puxou-o para si e sem dizer palavra, o beijou, de leve, carinhosamente, e as línguas antes aflitas e ansiosas agora começavam a se conhecer, a brindar e se acariciar ternamente, passando em poucos minutos de colegas para velhas amigas e amantes, e Júlia nesta noite aprendeu que elas poderiam percorrer todos os caminhos, adentrar todas as portas e sugar até a última gota, a seiva do prazer. E se amaram toda a noite de todas as formas, o sentiu em todas as estações mais íntimas se sua feminilidade, ele falava sempre ao seu ouvido o que sentia a cada beijo, cada carícia, isto a enlouquecia ainda mais. Loucura.
Na manhã do quarto dia, eles dormiram, à tarde se despediram. Ela voltou para casa e nunca mais viu aquele homem misterioso, mas jamais o esqueceu. E, desde então, a vida pra ela se tornou mais fácil de entender e simplesmente de viver. Principalmente quando ela concluiu que jamais encontraria todas as respostas, sobretudo, que não se deve fazer certas perguntas. Percebeu que poderia conviver com o mundo mesmo sendo diferente, e não precisaria se angustiar em fazer-se entender, e seria até melhor que muitos não soubessem quem na verdade era ela, viveria sua vida e em seu mundo, sempre que pudesse. Ela continuou com seu namorado por algum tempo. Após o fim deste, que fora seu primeiro grande relacionamento, passou um longo tempo só e pela primeira vez, mesmo só, ela não sentiu solidão. Júlia teve muitos namorados, até casar e ter filhos. Um dia ela recebera uma carta do homem misterioso, onde ele dizia que mesmo depois de tanto tempo pensava nela e acompanhava sua vida, e assegurava que um dia ele a procuraria. Ao receber esta carta Júlia teve a certeza de que muitas vezes na vida, só um momento pode conter toda uma eternidade. Junto com a carta havia um livro, na contra capa viu a foto daquele homem que lhe deixou louca e sã, ele era o autor. Finalmente soube o nome dele, o título do livro era Quatro Dias. Foi assim que ela aprendeu a abrir os olhos.














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