A LEBRE E A CHOCA
História popular da Guiné Bussau
Narrador: Macário Perdigão. Ano de 1979
Texto recolhido por: João Ferreira
Era uma vez. uma lebre e uma choca(1) que resolveram brincar de escondidas.
Chegou a vez da lebre se esconder.
E a choca saíu para encontrá-la.
Elas disputavam quem seria mais esperta.
Então a choca disse:
- Lebre, sai daí que eu já te vi.
Aí, a lebre, de um salto, saíu.
Depois foi a vez de a choca se esconder.
Por sua vez, a lebre tentou a mesma artimanha e disse:
- Ué! Sai daí que eu já te vi.
Mas a choca não respondeu. Sabia que a lebre não a tinha visto.
A lebre continuou a procurar. Virou tudo do avesso procurando por todo o lado, até que cansada, tirou o barcafon(2) e pendurou-o nos pés da choca que repousava ali, de pernas para o ar!
Então a choca disse: - já estou cansada de segurar e de esperar.
-Tira o barcafon.
E a lebre disse: choca, você ganhou a aposta!!!
Moral da história: esperteza.
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(1) Choca: nome crioulo dado à perdiz na Guiné Bissau.
(2) Barcafon : saco ou bolsa de viagem.
Observação. Macário Perdigão era estudante da Guiné Bissau na Universidade de Brasília em 1979. Posteriormente seguiu a carreira diplomática e foi embaixador de seu país em várias capitais de países que mantinham relações diplomáticas com a Guiné Bissau. Macário me disse que estas histórias eram contadas nas "seroadas" entre familiares ou amigos e que essas seroadas eram por vezes bem prolongadas. Cada participante tinha seu banco individual chamado "turpeça". A norma que orientava a seroada era: "quem sabe, conta".
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