Naquele cesto de lixo havia uma toalha manchada de sangue. Um pedido de socorro ainda ecoava pelo ar. Misturado com restos de cabelos e pedaços de carne jazia a massa amorfa numa cama com lençóis de cetim. Foi assim que Marcelo compôs o ambiente esperando a chegada da polícia. Uma criança chorava segurando um brinquedo. Uma boneca. Uma boneca sem braços e pernas. Marcelo havia destruído a boneca durante a luta com o invasor do local.A escuridão foi culpada por tudo que acontecera naquela noite.
Mosquitos anofélicos circularam pela sala. Moscas também. No meio dos tecidos finos o sopro do vento provocado pelo ventilador sussurrava palavras de culpa.A chaminé apagada continuava inerte. Fora a causadora da tragédia. Marcelo chegou em casa cedo, cansado após um dia de estresse no escritório. Por volta da meia-noite viu um vulto correndo pela sala na direção de sua filha. A menina chorou assustada. Marcelo apanhou um objeto cortante na cozinha e partiu para cima do invasor. Bateu e cortou até não encontrar mais resistência. Ao acender as luzes percebeu que seu destino fora selado pelas incertezas, pelo crime. O homem assassinado sobre a cama era Papai Noel. Sua filha ficou agarrada ao presente mutilado, contemplando o pai assassino que destruiu para sempre o dia de Natal.
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