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Artigos-->O POETA YASUO FUJITOMI -- 31/10/2023 - 16:32 (LUIZ CARLOS LESSA VINHOLES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

O POETA YASUO FUJITOMI - 藤富ä¿ç”·

(1928 -2017)

L. C. Vinholes

 

Quando em 1963 Yasuo Fujitomi procurou-me no setor cultural da embaixada do Brasil em Tokyo, interessado em obter informações a respeito da legislação brasileira da profissão dos árbitros de futebol, foi plenamente atendido com farto material oferecido pela Federação Brasileira de Árbitros. Estava acompanhado por Seiichi Niikuni, de Sendai, nordeste do Japão, há pouco chegado a Tokyo, mas que trazia importante e singular bagagem como poeta de vanguarda: o seu livro ZERO-ON. Na realidade foi o encontro de um triunvirato de amigos que duraria por décadas e que traria resultados gratificantes.

Fujitomi, ao lado de Katsue Kitasono, nos 1950 a 1970, foi importante presença entre os membros do grupo VOU e, com Niikuni, um dos incentivadores da criação da Associação para Estudos da Arte (ASA) e da revista homônima. Como poeta, publicou nove antologias, dentre as quais se destaca 風 一 = kaze hitotsu (kaze = vento e hitotsu – um), em tradução livre em inglês o autor escolheu A Piece of Wind. Na sétima edição da revista ASA em 1974, que seria a última da série de dez edições, Fujitomi assinou o manifesto Espacialismo e Poesia Concreta 1973, juntamente com Yukinobu Kagiya, Hiro Kamimura, L. C. Vinholes, Seiichi Niikuni, Toshihiko Shimizu e Shutaro Mukai. Do mesmo número figura seu longo e denso diálogo com Niikuni, com pertinentes assuntos e questionamentos por eles apresentados, no texto em japonês, mas com título em inglês: What did we want to do these ten years,

Quarenta anos como professor de inglês, idioma que dominava com proficiência, Fujitomi decidiu enfrentar o difícil trabalho de tradução dos poemas de Ezra Pound e e. e. cummings, bem como visitar aos Estados Unidos da América do Norte para eventos de leitura de poemas pessoais e dos seus contemporâneos. Leituras que ficaram registradas em dois CDs idealizados e produzidos pelos poetas-amigos Tetsuya Taguchi e Takahashi Shohachiro. Fujitomi é também autor de biografias de Kitasono e Eric Satie. É marcante seus conhecimentos da língua chinesa e dos ideogramas nela usados, bem como da evolução desta escrita até a versão introduzida no Japão no século IX e hoje ali utilizada.

Durante muito tempo, antes e depois da I Exposição Internacional de Poesia Concreta (1964) no Sogetsu Kaikan, em Tokyo, Fujitomi e eu procurávamos uma aproximação entre Kitasono e Niikuni, levando em consideração a importância das ideias e dos feitos de ambos para a nova poesia japonesa da segunda metade do século XX. Mas os esforços ou as estratégias nunca tiveram o resultado por nós esperado. Kitasono tinha um nome e uma história consolidados e Niikuni uma trilha que cedo começou firme e que sempre foi promissora.

O interesse de Fujitomi pela poesia concreta brasileira e o papel que ela teve para o surgimento da poesia concreta no Japão sempre foram por ele reconhecidos. Uma das manifestações marcantes ocorreu em 15 de abril de 2001 quando se preparava para viajar à Colômbia a caminho do XI Festival Internacional de Poesia de Medellin (01 a 10/06/2001) para dar conferência, ilustrada com diapositivos, sobre The concreter poetry and the Visual Poetry in Japan.

Em carta daquela data escreveu: “The organization of this festival, ask me to give lecture about Japanese concrete poetry” ... “I must talk about you who introduced the concrete poetry to Japan and should like to explain by projecting the slids” … “If you were there in Medellin, I’d have been happy” (“A organização deste festival, pediu-me para dar uma conferência sobre a poesia concreta japonesa” ... “Devo falar de você que introduziu a poesia concreta no Japão e gostaria de explicar projetando os slides” ... “Se você fosse lá em Medellín, eu ficaria feliz”).

Com surpresa, capeado por carta de 26 de junho de 2001, recebi em Brasília o texto manuscrito do roteiro da citada conferência, com a reprodução de doze das suas mais recentes criações de “poesia pictórica”, onde impecáveis desenhos dão destaque ao significado e à “semântica” dos ideogramas que sustentam o imaginário dos espectadores. Durante a citada conferência, Fujitomi traça o perfil e comenta a obra de Kitasono e Niikuni; diz como a poesia concreta chegou ao Japão; lembra os primeiros contatos entre Kitasono e Haroldo de Campos; recorda a afinidade de Niikuni comigo, chamanda de “congenial spirit”; lembra os poetas seus contemporâneos e os das novas gerações Hiro Kamimura, Motoyuki Ito, Toshihio Shimizu, Ryojiro Yamanaka, Kyuyo Kajino, Shoji Yoshizawa, Yumiko Osono, Chisato Hamajo e Teruko Kunimine; cita a exposição internacional de de poesia de 1964 no Sogetsu Kaikan Hall, em Tokyo; menciona o trabalho realizado por Niikuni de parceria com o poeta francês Pierre Garnier; comenta os poemas ZEN e LIFE de Pedro Xisto e Décio Pignatari; registra que se correspondeu com e. e. cummings e que traduziu e publicou poemas deste autor em quatro volumes; e, finalmente, volta a citar a Haroldo de Campos, desta vez também como tradutor do poeta estadunidense.

Nesta última carta, o que mais chamou minha atenção e casou-me alegria está registrado no quarto parágrafo que diz: “Several artists whom you dont know appeared after you left Japan, I suppose” (Vários artistas que você não conhece apareceram depois que você deixou o Japão, suponho). A leitura subliminar que faço desta frase me diz que o trabalho de divulgação da poesia concreta brasileira no Japão, pragmaticamente iniciada em abril de 1964, surtiu efeito, fez história e ali continua firme compartilhando espaço com outras manifestações da literatura e da poesia nova no País do Sol Nascente.

Fujitomi era extrovertido, amigo, sempre de bom humor, atento e prestativo, autor de literatura infantil, primoroso desenhista que aproveitou as possibilidades oferecidas pela linguagem poética japonesa tradicional até chegar à produção mais recente, ampliando e realizando em plenitude a simbiose do texto e da imagem. Criando como que um novo ideograma, seus desenhos desta fase foram exibidos no Japão, nos Estados Unidos da América do Norte e, por iniciativa e convite do poeta John Solt, na Província de Buiriram, na Tailândia. Solt é biógrafo de Fujitomi.

No nosso último encontro na casa do casal Fujitomi em 28 de setembro de 2013, ao lado de tantas recordações e lembranças, ele não deixou de mencionar o fato de que não se conformava por não ter podido conhecer o Brasil e visitar o Maracanã.

Yasuo Fujitomi foi também reconhecido por fazer blague sempre que o momento justificava.

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