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Artigos-->PREFÁCIOS, NOTAS AO LEITOR, INTRODUCÕES -- 01/11/2023 - 01:49 (João Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Prefácios, notas ao leitor, introduções, pórticos e apresentações



João Ferreira



20 de agosto de 2010



Em sua variedade de apresentação, é fácil observar que todo o livro tem uma espinha dorsal. A lógica do discurso humano mostra que o autor de um livro, quando parte para a escrita, tem dois objetivos: ou escreve porque quer experienciar para ele mesmo uma forma pessoal de expressão de uma ideia ou então para comunicar a um público aquilo que pensa ou aquilo que gostaria de dizer para os outros. Habitualmente, o  autor escreve porque  tem uma mensagem a comunicar.



No decorrer dos tempos a prática da escrita ficou circunscrita a um modelo, a uma forma usual de apresentação. Dependendo do tipo de livro, essa estrutura foi-se afinando com o tempo. O que temos hoje bem claro é que o objetivo principal do livro se cumpre através da mensagem. Para preservar com mais clareza a mensagem, com o tempo foi-se dividindo o livro em partes que ganharam seus próprios nomes.



A prática da divisão do livro na antiguidade Greco-latina



Em termos mais compreensivos, pegando a terminologia da tradição Greco-latina, a mensagem era colocada no discurso principal: no logos entre os gregos, e no sermo, entre os romanos ou latinos. Antes da formalidade do discurso, os autores querendo preparar o leitor antes de lhe oferecerem o discurso principal, introduziram o prólogo (gregos) ou o praefatio (romanos). Aconteceu porém que depois de o autor ter prevenido seu leitor com prólogos ou prefácios e de ter exposto suas ideias ou sua mensagem através do discurso principal, ainda acontecia, por vezes, entre os autores, a ideia de dizer algo mais, acrescentar algo complementar. Os gregos criaram para essa parte do livro o epílogo. Os latinos chamaram-lhe o posfácio. Era um tipo de adendo. Esta era a ordem greco-latina, que herdamos no Ocidente.



Dentro da tradição Greco-latina é o próprio autor que escreve o prefácio de seu livro



Immanuel Kant (+1804), em pleno século XVIII, faz preceder sua Fundamentação da metafísica dos costumes (Grundlegung zur Metaphysik der Sitten) com um prefácio  (Vorrede, em alemão).



Em pleno século XX, Étienne Gilson, em Le Thomisme (Paris, Librairie Philosophique J.Vrin, 1948), escreve um “Préface”, onde diz que “esta nova edição difere da precedente não apenas por adições bastante consideráveis mas ainda por certas modificações na distribuição das partes conservadas. As principais mudanças são as seguintes[...].



Falemos de um livro bem contemporâneo que esteve na origem de um filme de Steven Spielberg. É o livro de Thomas Heneally “A lista de Schindler” (trad. Tati Moraes), Rio de Janeiro: Bestbolso, 2007. No livro encontramos inicialmente uma “Nota do autor” em que é dada uma explicação básica sobre a história de Oscar Schindler e sobre as bases da narrativa. Depois segue-se um Prólogo, outono de 1943. E, em seguida, a narrativa dividida por capítulos numerados de 1  a 38. O livro fecha com um epílogo. No livro Os Problemas da Filosofia de Bertrand Russel publicados em tradução portuguesa de Antonio Sérgio pela Armênio Amado de Coimbra , na 5ª edição feita em 1980, há curiosamente um prefácio do autor (Bertrand Russell) e um prefácio do tradutor (Antonio Sérgio). No badalado livro L’Art de la Prose de Gustave Lanson (Paris: A.G.Nizet [1968], o livro abre com um “Avertissement” (Advertência) assinada pelo próprio Gustave Lanson, em que ele explica a textura do livro.



A forma estrutural do livro na idade contemporânea



A tônica da organização do livro é livre e plural. Muitos contemporâneos continuam apresentando seus livros com prefácio, discurso principal portador da mensagem e posfácio ou epílogo.  No fundo há uma obediência clássica dos autores em se comportarem dentro de uma certa ordem para comunicarem seu discurso ou suas ideias.



Muitos autores, porém, dependendo do tipo de livro, preferiram preservar a intocabilidade do discurso principal



 



Através da pesquisa podemos observar que a história do livro mostra que, com o decorrer do tempo, as formas rígidas de apresentação do livro nem sempre aconteceram. No fundo há normalmente um ritual que se cumpre. Mas de forma variada. Uns, cumprem-no à risca, com prólogo (prefácio), logos (mensagem discursiva, sermão) e epílogo (posfácio). Outros,  o cumpriram de forma equivalente. E nos deram em vez de rigoroso prefácio, uma nota preliminar ao leitor, à guisa de prefácio e de introdução. Outros, simplesmente, nos apresentam secamente seus livros colocando apenas o discurso principal, sem prefácios e posfácios.



Em nossa cultura ocidental, o leitor mais culto tem uma ideia estrutural do que é um livro. Tem a ideia de que um livro ou é uma publicação onde se expõe ou se discute um tema ou uma doutrina, ou um tratado através do qual se transmitem conhecimentos. Por ser uma publicação, é da natureza do livro tornar-se uma obra aberta ao público. Pela familiaridade habitual com o livro, o público ganha a noção do que seja a sua estrutura habitual. Há partes constitutivas do livro. A parte inicial sói apresentar os nomes de prefácio, prólogo, abertura, nota ao leitor, apresentação, advertência, introdução ou outras. Após o prefácio ou abertura do livro, vem a parte principal que constitui o livro propriamente dito. Por fim, vem o epílogo ou posfácio que é discurso em torno do assunto tratado e que fecha o livro. Os livros monográficos, críticos e científicos de pesquisa apresentam ainda partes complementares com bibliografias, índices remissivos, índices por autores e sumário. Nem todos os livros têm epílogo ou palavras finais. Alguns livros prescindem do prefácio ou de nota ao leitor. Entram diretamente no assunto. Como primeiro contato você tem o início do texto principal que constitui o todo exclusivo do livro. Excepcionalmente, e já com originalidade, você tem casos em que o capítulo primeiro é um tipo de prefácio. Ou seja, uma conversa com o leitor sobre o titulo do livro ou matéria que será tratada no miolo do livro. Singularmente, é isso o que se passa com Machado de Assis em Dom Casmurro. Se fizermos uma visitinha de observação ao dito romance do maior escritor brasileiro verificaremos que é no primeiro capítulo que Machado explica o nome Dom Casmurro que deu título ao romance e que na verdade vai ser  o nome do narrador do romance escrito em primeira pessoa. Tudo o que está ali, normalmente, um autor diria num prefácio. Mas porque é original, Machado quis dizê-lo de outra maneira, inovando.



O prefácio pertence de direito ao autor do livro.  O autor é a figura principal do palco da escrita. Seu papel é essencial no domínio da escrita, só comparável ao do leitor no domínio da recepção da mensagem através da leitura. Por ser autor, genitor e pai daquela escrita é normal que ele tenha a autoridade e o domínio para zelar e abrir ou fechar seu livro à intervenção ou participação de outras pessoas. Assim é. É o que acontece com Eça de Queiroz. Em O crime do Padre Amaro, Eça de Queiroz escreve um prefácio para a segunda edição e outro para a terceira edição para explicar para a crítica quando e como surgiu a escrita de seu romance. O mesmo fez Machado de Assis em Memórias póstumas de Brás Cubas. Escreveu um prefácio à terceira edição do livro para se explicar perante a crítica relativamente a influências estrangeiras em sua obra.  Se, em teoria pertence ao próprio autor escrever o prefácio de seus livros, há entretanto casos em que o autor entrega a palavra do prefácio, da introdução ou da apresentação a amigos ou a peritos na pesquisa da temática versada no livro. Isto porque é ele, enquanto autor,  o dono da bola e da palavra. Há autores que variam a nomenclatura deste mini-discurso prévio. Ferreira de Castro, por exemplo, em A Selva escreve duas páginas para abrir seu livro sob o nome de “pórtico”. ´Pórtico” é portal, entrada. Através dessas três páginas, o autor tem uma conversa inicial com o leitor. Em “A Bagaceira” de José Américo, notável representante do romance brasileiro de 30, não há  um prefácio formal. Há duas páginas “Antes que me falem” que são pensamentos que tocam de raiz os grandes símbolos  veiculados no livro: naturalismo, instinto, violência, miséria, falsa verdade. Em rigor José Américo não faz um “prefácio” nominal. Mas dá seu recado sintético e objetivo para quem quiser entender a intencionalidade artística do seu livro. A obra “Germinal” de Émile Zola(1840-1902), tem apenas o texto principal. Não há prefácio, nem nota ao leitor nem epílogo. Abrindo o capítulo I: “Na estrada de terra que liga a pequena cidade de Marchiennes, no Norte da França, um homem caminha, só, durante a noite sem estrelas.”. O autor entrega a mensagem global de uma vez ao seu leitor. E só. A parte principal é a que representa a mensagem essencial do livro. É o discurso central construído em cima de palavras, de frases e conteúdos linguisticamente organizados. Este discurso principal que constitui a parte central ou essencial do livro é geralmente precedido de uma pequena parte que pode assumir vários nomes. Prefácio, prólogo, avant-propos, nota ao leitor, pórtico, apresentação, nota prévia, ao leitor e variadíssimas formas de o autor se apresentar a seu leitor e lhe antecipar alguma informação ou explicação sobre a intencionalidade, natureza ou pesquisa relativas à temática do livro.



Finalizando, importa destacar então, que a forma mais habitual na tradição editorial do livro no Ocidente tem sido a de fazer preceder o discurso ou mensagem principal por um pequeno discurso a que se chama prefácio. Prefácio vem do latim: praefatium que significa “fala prévia”, “discurso prévio”. A lógica é a seguinte: quando falamos de prefácio e de posfácio de um livro estamos deixando implícito que na parte central do livro há um discurso ou logos maior, ou seja uma parte nuclear onde se expande a tese ou a mensagem que justificou a escrita e a publicação do livro. Acontece, porém, que na ótica do autor, ele se vê na necessidade, ou na conveniência de entrar em contato direto com seu leitor, dirigindo-lhe umas palavras iniciais que são veiculadas através do prefácio havendo entretanto autores que optam por apor ao discurso principal um posfácio no final do livro, depois da mensagem principal.



Rigorosamente, pertenceria ao autor escrever o prefácio ou o prólogo de seu livro. Isto porque sendo ele o autor ou o dono do discurso principal, é lógico pensar que seja ele também a fazer um primeiro contato com seus leitores para apresentar a obra ou para dirigir-lhes uma pequena mensagem através de um prefácio.



 


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