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Contos-->Blog 1 = Dedico-o a Mestre EGÍDIO -- 01/07/2003 - 21:46 (António Torre da Guia) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Blog?!... O que é um blog? Mais... Qual o objectivo fundamento do conjunto destas quatro letras na disposta situação? Porque não "glob", "bolg" ou "gbol"?...

Dá-me ideia de que aqui na Usina sempre tive disponível o meu blog... E que estendal de blog... Que monte, que amálgama densa e intensa, que enorme sarilho de palavras inseri desde o imprevisto dia 21 de Dezembro de 2001, às 02h44 do Brasil.

Uma página web actualizada frequentemente?!... A Usina tem-me disponibilizado esse interessante privilégio permanentemente e, se ainda não fiz mais e melhor, deve-se tão só à minha própria vontade e limite possível do que eventualmente possa fazer.

Bem... Mas no que a blog e a blogger porventura concirna, sem explicativas delongas e justificações, vou dedicar o meu primeiro usinal blog a Mestre EGÍDIO, texto deveras inédito, um conto real, cujo efeito autêntico ocorreu em 1951, tinha eu então quase 12 anos de idade.

O BILHETINHO...

Naquele tempo, eu gostava, eu adorava que meu Pai fizesse amor com minha Mãe. Sentia-me esplêndido e algo de inexplicável me enchia o peito de orgulho logo que meus ouvidos captavam os ininteligíveis murmúrios de ambos no seu quarto de cama, e isto à parte do meu óbvio e subreptício interesse.

O meu quarto era um tanto ou quanto afastado do deles. Ora pois, quando pressentia que eles entravam a fazer doçuras um ao outro, levanta-me num ápice e percorria pé ante pé um corredor com cerca de 20 metros.

Chegado junto do amoroso quarto, cuja entrada estava provida de um farto cortinado, deitava-me no assoalhado e rastejava por baixo da cortina até junto do bengaleiro móvel onde meu Pai pendurava seu vestuário.

Ena... Pá... Que sofreguidão esplendorosa, que enlevo, que paixão... Tudo aquilo bem ali à frente de meus olhos, dois corpos devorando-se de amor na penumbra, sob a luz mortiça que brotava do candeeiro de cabeceira, semi-tapado com um jornal.

Eu tremia, suava frio, suspenso de minha essencial intenção. Oportuno, de respiração suspensa, soerguia-me até alcançar pelo tacto o promissor bolsinho do colete de meu Pai. Meus dedos sondavam e, entre as moedas, eis a emoção do papel, notas dobradas... Que arrepiozinho emocionante por todo me tomava.

Apalpei, acariciei... Fechei a mão e quase paralisado de medo regressei pelo trilho inverso ao meu quarto. Zás... Toninho... Tomava então de pronto uma das minhas peúgas, introduzia lá a nota e metia tudo dentro de um dos meus sapatos.

Eu já tinha feito aquela cena dezenas de vezes, primeiro, só moedas, e por último atrevia-me a surripiar notas. Se de 20, 50 ou 100 escudos, só pela manhã saberia, pois eu actuava completamente às escuras. Cem escudos, naquela época, constituía metade do ordenado mensal de um operário bem cotado.

"Maria... Tiraste-me ontem dinheiro do bolso?..." Inquiria meu Pai de minha Mãe. "Não... Homem... Sabes muito bem que nunca te mexo nos bolsos sem te avisar...". "É... Devo ter perdido 100 escudos... Não sei como...".

Como descrevia, naquela altura, vinda a manhã, tirei a suposta nota da peúga e sem ver meti-a de imediato no bolso dos calções. Tomei o pequeno almoço, peguei a bolsa dos livros e fui para o liceu. "Caramba" - disse minha Mãe - "Hoje estás cheio de pressa...".

Quando enfim me apanhei na rua, puxei ansiosamente pela nota... Mas... Oh... Era só um papelinho dobrado. Perplexo, desdobrei-o e li o que estava escrito: "Apanhei-te, meu rato... Logo vais jantar comida de urso."

Oh céus, exclamei, estou lixado... Arre...

Bem... Imagine-se o que passei em sofrimento íntimo nos tempos seguintes. Meu pai só sorria irónico para mim e não havia meio de referir-se ao assunto. Passados uns dias, em dado momento disse para minha Mãe: "Sabes Maria?!... Parece-me que arranjei forma de nunca mais perder dinheiro...".

E arranjou mesmo. A partir dali nunca mais subtraí nada ao meu excepcional progenitor.

E esta, Mestre Egídio?!... Gostou da história?... Dedico-lhe pois o meu primeiro blog na Usina.
De resto, aqui lhe deixo um franco e luso abraço... E cá vamos nós, Mestre, na nossa nau das letras. Praza que sempre faça bom mar e as sereias não nos confundam a alma entre os assobios dos búzios.

Avante marinheiros e que as descobertas se proporcionem bem à medida da expectativa dos sonhos... Sobretudo sem naufrágios ou encalhes.
 

 
Torre da Guia
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