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Artigos-->Há cem anos os Ocarinistas Portugueses visitaram Pelotas -- 19/11/2023 - 11:24 (LUIZ CARLOS LESSA VINHOLES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Há cem anos

os Ocarinistas Portugueses visitaram Pelotas

e aqui deixaram a marca de sua influência.

 

 L. C. Vinholes

19.11.2023

 

Nota: Este artigo foi escrito para o Diário Popular de Pelotas e por ele publicado em 07 de julho de 1978.

 

Quem tiver a curiosidade de examinar as coleções dos jornais Diário Popular, Jornal do Comércio e Correio Mercantil, de 19 de agosto de 1877 a 9 de junho de 1878, existentes no acervo da Biblioteca Pública de Pelotas, poderá encontrar farto noticiário e abundância de dados e informações relativas à visita feita a esta cidade pelo conjunto Ocarinistas Portugueses” e à influência que estes músicos tiveram na formação de conjuntos congêneres em Pelotas, Rio Grande e Porto Alegre. Tudo leva a crer que os destas duas últimas cidades tiveram vida efêmera. Entretanto, as fontes referidas não deixam a menor dúvida quanto à importância e ao significado de que se reveste a criação, a existência e a atividade dos Ocarinistas Pelotenses.

 

Tendo como integrantes o seu diretor-artístico, o compositor e intérprete João Pinto Bandeira, 1º soprano, e os professores Antonio Pinto Bandeira, irmão do primeiro, 2º soprano, Luiz José Rodrigues de Almeida, 1º alto, Manoel Valendo da Costa Leite, 2º alto, J. M. Paulo Abbadie, 1º tenor, João Adelino P. de Campos Brito, barítono, e Adolfo Lidner, baixo, a Companhia Sul Rio-Grandense de Ocarinistas Pelotenses marcou época não só em Pelotas, mas, também, nas cidades por ela visitadas e nas que se fez ouvir: Jaguarão, Artigas, Mello (Cerro Largo), Bagé, São Gabriel, São Miguel, Santana, Alegrete e Uruguaiana. Os músicos acima relacionados eram membros da Sociedade Musical Santa Cecília que ao lado da Sociedade União era, na época, uma das organizações artísticas mais ativas.

 

O maestro João Pinto Bandeira, impressionado com a sonoridade das ocarinas portuguesas, decidiu organizar um conjunto semelhante, decisão esta que exigiu a criação de, por assim dizer, uma nova linha de produção na fábrica de louças do ceramista português Miguel Fernandes, radicado à Rua Conde d´Eu, nº 28, no lado oposto ao prédio do Quartel da Brigada Militar, na atual avenida Bento Gonçalves. Para quem conhece a história da fabricação de ocarinas é desnecessário dizer que é bastante difícil o processo de afinação destes instrumentos, principalmente quando destinados a uso em conjunto. Certa vez, o maestro José Duprat Pinto Bandeira comentou que seu pai, João Pinto Bandeira, contava ter passado horas, dias e semanas inteiras testando, aprovando e recusando as ocarinas que, com esmero e dedicação, eram produzidas pelo lusitano Miguel Fernandes. Esta informação é reforçada pelo parágrafo décimo do “folhetim” da apresentação dos Ocarinistas Pelotenses, assinado por Sulpício: “A princípio, surgiram inúmeras dificuldades e obstáculos que pareciam insuperáveis. Como, porém – quem porfia mata a caça. João Pinto Bandeira, depois de muitos esforços e sacrifícios, de muito trabalho e da mais louvável perseverança, conseguiu a fabricação dos instrumentos em condições perfeitamente semelhantes, para não dizer superiores aos que usavam os ocarinistas portugueses”.

 

A passagem por Pelotas, na última semana de janeiro de 1878, dos rio-grandenses Marquês do Herval (Osório) e Gaspar Silveira Martins, Ministros da Guerra e da Fazenda do Gabinete empossado em 5 daquele mesmo mês, mereceram dos Ocarinistas Pelotenses a maior atenção e a mais significativa acolhida. Organizaram um concerto realizado no histórico Theatro 7 de Abril que foi assistido pelos dois homens de Governo e durante o qual foi apresentado, em primeira audição mundial, o Hino da Vitória, de autoria do pelotense João Pinto Bandeira e por este dedicado ao marquês. Esta obra foi, posteriormente, também conhecida por Hino a Osório. Foi com absoluta certeza a primeira obra escrita para ocarinas por um autor latino-americano.

 

As atividades artísticas dos Ocarinistas Pelotenses interessaram ao público em geral, à imprensa da época, e aos intelectuais que tiveram ocasião de assistir às suas apresentações. Em carta datada de São João, em 20 de abril de 1878, dirigida a um ex-colega e redator do Diário de Pelotas o poeta rio-grandense Menezes Paredes informa que recomendara os referidos músicos à toda a imprensa da Província, inclusive à Revista Gabrielense, e que eles, “em véspera da viagem obsequiaram-me, bem como a alguns amigos meus, com um concerto particular em que pudéssemos ajuizar dos instrumentos sua harmonia e proficiência com que são executadas as composições musicais”.

 

Do repertório dos Ocarinistas Pelotenses constavam canções e trechos líricos mais em voga, em arranjos de autoria não esclarecida, mas que poderá ser, sem muita margem de dúvida, atribuída ao próprio maestro João Pinto Bandeira e/ou ao seu irmão Antonio Pinto Bandeira. Merece ser destacado o programa do ensaio geral realizado em 12 de janeiro de 1878, para a “imprensa local, algumas ilustres famílias e diversos cavalheiros”: Bolero da Mágica - As Três Rocas de Cristal, ária de tenor da ópera Traviata; grande polca Bailarina, cavatina para tenor da ópera Ernani; dueto para sopranos da ópera Norma, de Belini; e polca O Canto do rouxinol, a mesma dos Ocarinistas Portugueses. Do programa de estréia, em 20 de janeiro de 1878, figuraram: Hino Nacional Brasileiro, grande polca Bailarina; grande cavatina da ópera Belizário, de Donizetti; Bolero da Mágica – As Três Rocas de Cristal, dueto para soprano da ópera Norma e Mandolinata, canção popular napolitana, também do repertório dos citados artistas portugueses.

 

Nos seus concertos, os integrantes do conjunto Ocarinistas Pelotenses apresentavam também números executados com seus “instrumentos comuns”, isto é, violoncelo, dois violinos, piston, flauta, clarineta e trombone. Para aqueles que, por razões profissionais, estão diretamente ligados às atividades das vanguardas musicais mais recentes ou que estudam as diferentes fazes da evolução da música instrumental, não causará surpresa esta aparente heterogeneidade dos instrumentos convencionais usados pelos Ocarinistas Pelotenses. De conjuntos assim constituídos obtém-se resultados musicalmente singulares e de inigualável beleza.

 

Os Ocarinistas Pelotenses destacaram-se ainda pelo seu interesse em colaborar com o desenvolvimento comunitário não só no campo da música, mas, através desta, também no aprimoramento da educação da juventude e da mocidade de Pelotas. No domingo, 27 de janeiro de 1878, realizaram uma apresentação cuja renda reverteu, conforme registra a imprensa da época, em benefício da Biblioteca Pública Pelotense, “em vista dos reais e importantes serviços que ela presta ao povo, não só com seus cursos noturnos como com a franca leitura de livros”.

 

No Correio Mercantil, de 9 de junho de 1878, texto lacônico em linguagem quase telegráfica, informou ao público sobre os Ocarinistas Pelotenses: “Consta-nos que de comum acordo foi dissolvida a companhia destes distintos artistas”.

 

Apesar da Companhia Sul Rio-Grandense de Ocarinistas Pelotenses ter sido aplaudida pelo público e pela imprensa de todas as localidades onde se apresentou, não teve resultados positivos no que diz respeito à parte financeira de suas atividades. Os gastos com a organização do grupo, confecção dos instrumentos e dos uniformes feitos nos moldes do que usavam os Ocarinistas Portugueses que, por sua vez, haviam copiado os trajes originais dos Ocarinistas dos Apeninos – conjunto italiano que, em meados do século XIX visitou a península Ibérica -, somados às despesas com a viagem que realizaram, ultrapassaram as estimativas e determinaram à dissolução do grupo.

 

Com o passar dos anos, foram paulatinamente desaparecendo as fontes de informações e o material relacionado à terceira orquestra de ocarinistas existente no mundo. O seu esquecimento total é eminente realidade, se todos os que interessam por assuntos de história e de cultura não se unirem para, registrando, salvar o que, por ventura, ainda exista sobre ela. O que concretamente resta sobre os Ocarinistas Pelotenses se encontra nas silenciosas e empoeiradas estantes das Bibliotecas de Pelotas e Rio Grande. Quem particularmente, tiver qualquer informação ou dado a mais que divulgue e que revele, pois estará ajudando a escrever a história da evolução musical e da cultura pelotense.

 

Interessei-me pelos Ocarinistas Pelotenses quando em 1950 e 1951 estudei com o maestro José Duprat Pinto Bandeira. Mostrando-me um exemplar de uma ocarina baixo, pintada de preto e com as letras MF, em maiúsculas, inscritas na parte inferior da embocadura. Meu primeiro mestre confidenciou-me os primeiros dados que, sumariamente, registrei neste trabalho e em entrevista dada ao Diário Popular em 29 de maio de 1977. Mais alguns anos de pesquisa certamente permitirão publicar algo que possa permanecer como registro insofismável nas prateleiras de nossa história.

 

A pressa é inimiga da perfeição.

Comentarios

Maria do Carmo Maciel Di Primio  - 04/12/2023

Ler os artigos do Professor Vinholes quase sempre provoca pesquisas!!! Ao ler o título " os Ocarinistas Portugueses visitaram Pelotas e aqui deixaram a marca de sua influencia", fiquei intrigada!! Ocarinista? Pesquisando, encontrei fotografias deste belo instrumento de sopro com formatos também intrigantes e bonitos. Criado pelos Maias !! Descubro, ainda, que a Ocarina é o ítem central de um jogo de Nintendo !!! A descrição do instrumento musical encontrei na Wikipédia com texto extremamente detalhado. Grata professor Vinholes por mais este conhecimento. Saudações !!

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