Num botequim boêmio de uma das esquinas transversais à Praça Tiradentes, após uma afatigada tarde de trabalho, um homem chega só e, na ànsia por aliviar as tensões do dia, pega logo um cigarro no bolso da calça batida, levando-o a boca em seguida. Num gesto automático apalpa novamente a calça, o bolso da camisa, coça a cabeça e, não encontrando o que pretendia, não hexita em fazer o pedido ao senhor sentado ao lado, dando início a um diálogo entre eles:
- Com licença... o senhor tem fósforos?
- Desculpe-me, mas não posso lhe emprestar - rebate sem piedade.
- M-mas por quê? - insiste inconformado.
- O motivo é óbvio: se eu te acender o cigarro, começaremos a conversar. Se começarmos a conversar, nos tornaremos amigos. Tornando-nos amigos, em uma tarde como essa, você irá me telefonar...
- O senhor deve estar louco. Isso é impossível!
- Isso até que telefone para minha casa. Me telefonando, é provável que atenda-lhe minha esposa. Atendendo-lhe, sua voz o fará desejar conhece-la. Conhecendo-a, se apaixonarão. Apaixonando-se, fugirão para longe. Então irei procurá-los. Procurando, os encontrarei. E, se eu encontrar vocês, juro que mato os dois, seu safado!
Fábio dos Santos Cezar
fabioscezar@yahoo.com.br |