O dia estava cinzento e fazia um pouco de frio. Para os olhos sonolentos de Fernanda aquilo era quase o paraíso em plena terra. Nada melhor que arrumar uma desculpa para não sair debaixo do edredon.
Mas o horário das aulas urgia. Ela tinha que conseguir juntar forças suficientes para levantar suas pálpebras. Tarefa hercúlea de se fazer à s sete da manhã. Impossível sua realização numa Belo Horizonte que ainda mal tinha se recuperado dos festejos de reveillon. Duas voltinhas a mais do ponteiro pequeno não vão fazer mal a ninguém, pensou nossa heroína. E lá se foi de ela brincar de amarelinha junto ao morfeu.
Acordou apenas na hora de perceber que o sol estava a pino. Inferno em pleno meio-dia. Não tinha fome, muito menos como assistir alguma aula do curso de psicologia. Queria apenas passear pra descansar a cabeça da festinha da noite anterior. E que festinha. Fugiu a noite inteira da turma sarada de educação física. E ainda tem gente que acredita que em Minas não existe tubarão só porque não tem mar. Mas ela adorava se sentir desejada daquela forma. Ao menos a faz esquecer que está há mais de quatro meses sem uma beijo de língua. Óbvio que por opção. E não era promessa alguma pra Santa Edwirgens. A causa era muito menos milagrosa e irritava a macharia de beagá: namoro à distància.
Estava ficando quente, muito quente pra Nanda. E a fome chegando de mansinho. Não queria, mas resolveu ir ao shopping para almoçar, comprar algumas roupas e divertir-se à custa dos olhares vesgos dos garotos. Roupa de guerra: calça jeans, sandalinhas de dedo, óculos escuros e um blusa branca de alcinhas bem justa, que destacava, e muito, o piercing do seu umbigo. Sabia muito bem o estrago que o ar-condicionado do shopping poderia fazer até mesmo aos relacionamentos apaixonados. E era essa a intenção.
Uma curta caminhada de dez minutos que deu pra suar. Dentro do shopping, o plano começou a fluir. Seus seios enrijeceram na hora, como dois faróis de Alexandria. Guiavam os olhares do incautos para a perdição. Assim foi durante a tarde inteira. No restaurante, na livraria, nas lojas de grife e mesmo na fila do cinema.
No caminho de volta, uma passadinha na lagoa da Pampulha pra comer cachorro-quente e pensar um pouco no dia de amanhã. Já em casa, tomou um banho delicioso e se preparou para dormir. Estava sem sono e não tinha mais nada pra fazer. Ligar pro namorado? É ruim. Estava meio abusada dele. Lembrou que tinha o telefone de um menino interessante que conhecera meses atrás pela internet. Mas já passava da meia-noite. Dane-se o horário. Nunca tinha ligado. Hoje seria o dia.
- Oi, Tudo bom?
- Tudo.
- Sabe quem está falando - Uma risadinha nervosa escapou de seus lábios.
- Claro que eu sei. É Fernanda. Pensei que você nunca me ligaria.
- Estou ligando agora, ué. Então... Como é que você está?
- Apenas de bermuda.
- Só de bermuda, é? - Os olhos de Fernandinha brilharam. - Uhuuuuu.