Em alguns momentos de minha vida pensava que tudo teria de dar errado em todos os setores, que todos me perseguiam e que meus problemas eram os maiores e os únicos do mundo. Na época era uma das características básicas da depressão.
Um amigo disse certa vez que nestas ocasiões eu deveria mudar o foco, a maneira de encarar as situações que me desagradassem. Parece simples demais, mas funciona, dependendo do estágio da doença.
Demorei, mas entendi o que ele quis dizer com mudar o foco na prática. No dia a dia me acostumei a vivenciar as circunstâncias à minha maneira. Na época que a depressão se manifestou não parei para ouvir opiniões ou rever conceitos. Fui levando e deu no que deu.
Quando percebo que estou potencializando os aspectos negativos em demasia, seja qual for a situação, paro o que estiver fazendo e procuro refletir e espairecer sem remoer o problema (sem encucar). Utilizo qualquer recurso que me ocorrer. Procuro perdoar quem me ofendeu, mentalizo uma oração, converso com Deus, lavo o rosto, saio para respirar, dou uma volta no quarteirão, ouço música... Sempre dá certo? Não! Mas não tenho tido crises nervosas e acessos de choro, freqüentes antigamente.
Aciono a tecla pause para repetir o que escreverei até a exaustão nesta coluna, se preciso for. Quando o assunto é depressão cada caso é um caso. O que funciona para mim pode não funcionar para você e vice versa.
Respondi a um e-mail esta semana citando a terapia do trabalho e do prazer que adotei em minha vida. Defendo a tese de que a depressão, nas fases iniciais ou depois de controlada, pode ser muito melhor administrada fazendo o que se gosta. Nem que seja apenas um hobby. Compreendo que isto nem sempre é possível, mas impossível também não é!
Convido a todos os interessados pelo tema a participar do nosso grupo de discussão via Internet. Basta enviar um e-mail:
assinar-adepressao@grupos.com.br
Qualquer dúvida silvioalvarez@terra.com.br
Nota do autor:
Segundo a Revista Superinteressante – Mundo Estranho, de agosto / 2002, estrategicamente arquivada, as lagartixas se desfazem da cauda por vontade própria. Não se trata de nenhuma crise masoquista de autoflagelação e, sim, de uma estratégia espertíssima que ajuda o bicho a salvar a vida. Quando perseguido, ele corta um pedaço do próprio rabo, que continua se movimentando, o suficiente para distrair o predador e ele fugir.
A idéia aqui é utilizar esta metáfora animal para simbolizar o poder de recuperação dos seres humanos e suas táticas de sobrevivência. As múltiplas interpretações, incluindo as de mau gosto, do por que da escolha desta figura são fantásticas e enriquecem a discussão. Aguardo a viagem de cada um!
Silvio Alvarez é assessor de imprensa da banda rock pop YSLAUSS, artista plástico de colagem e colunista.
Ilustração - Bruno César: brunoartes@uol.com.br