Uma leitora elogiou minha força na superação de tantos problemas. Agradeço. Realmente posso dizer que tenho sido muito forte, mas não superei a depressão. Tenho criado mecanismos para identificar com antecedência o que pode me levar a cair. Nem sempre dá certo. Ainda caio.
Vinha muito bem quando há cerca de um mês vários fatores me perturbaram. Um entrevistado interpretou errado um de meus comentários, o atraso na entrega de alguns artigos, alguns amigos que sumiram sem explicações, a sensação de que meus textos haviam caído de qualidade, entre outras encucações que potencializei. Com a depressão potencializamos os problemas. Um simples mal entendido pode durar meses martelando nossa mente.
Mantive a “fortaleza” aparente e isto não é bom. Chega uma hora que estoura e a máscara cai. Estourou.
Uma crise depressiva. De médio porte digamos. Isolamento. Chego em casa sem vontade de fazer nada a não ser ficar na cama, estou sem fome, não estou conseguindo ler e com grande dificuldade para escrever. Tenho conseguido trabalhar cumprir compromissos, mas a duras penas e com extremo esforço. O pior é a perda temporária do prazer nas atividades. Este é o termômetro principal.
Portanto. Este espaço não é o de um super–herói que escreve sobre um pedestal, é o de alguém que continuará lutando com unhas, dentes e fazendo o que for preciso para controlar a depressão e ajudar outras pessoas com o mesmo problema.
O que posso afirmar para quem tem enfrentado o mesmo dilema é que um apoio espiritual seja lá qual for, ajuda e muito. Bato papo com Deus. Ele não quer me ver triste e doente. Tenho certeza.
Acompanhamento médico é fundamental. Voltarei a procurar ajuda caso não supere o desânimo nos próximos dias.
Para quem tem seus pais próximos recorra a eles. Pode ser difícil no início, mas eles acabarão entendo, te ouvindo e compreendendo que você não está com frescura, querendo chamar atenção ou viajando na maionese.
Vale a pena sempre repetir que cada caso é um caso.
Lembrar das coisas boas que fiz nos últimos tempos tem me ajudado. Sigo em frente
Não é fácil encontrar a felicidade em nós mesmos, e é impossível encontrá-la em outro lugar
Agnes Repplier (1855-1950)
Pela complexidade da questão solicito, através deste veículo, a colaboração de profissionais da área médica que tenham disponibilidade para me auxiliar no esclarecimento de dúvidas que vêm surgindo em número maior a cada dia por parte de leitores e membros de nosso grupo de discussão. Basta entrar em contato pelo e-mail: silvioalvarez@terra.com.br
Convido a todos os interessados pelo tema a participar do nosso grupo de discussão via Internet. Basta enviar um e-mail:
assinar-adepressao@grupos.com.br
Nota do autor:
Segundo a Revista Superinteressante – Mundo Estranho, de agosto / 2002, estrategicamente arquivada, as lagartixas se desfazem da cauda por vontade própria. Não se trata de nenhuma crise masoquista de autoflagelação e, sim, de uma estratégia espertíssima que ajuda o bicho a salvar a vida. Quando perseguido, ele corta um pedaço do próprio rabo, que continua se movimentando, o suficiente para distrair o predador e ele fugir.
A idéia aqui é utilizar esta metáfora animal para simbolizar o poder de recuperação dos seres humanos e suas táticas de sobrevivência. As múltiplas interpretações, incluindo as de mau gosto, do por que da escolha desta figura são fantásticas e enriquecem a discussão. Aguardo a viagem de cada um!
Silvio Alvarez é assessor de imprensa da banda rock pop YSLAUSS, artista plástico de colagem e colunista.
Ilustração - Bruno César: brunoartes@uol.com.br