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Artigos-->Inverdade. Intercambio Brasil-Japão -- 21/01/2024 - 14:31 (LUIZ CARLOS LESSA VINHOLES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Inverdade.

Intercâmbio Brasil-Japão

Centenário da Imigração.

 

L. C. Vinholes

20231200

 

Nem sempre os projetos que visam a concretização de algo pessoal ou coletivo transcorrem da maneira que se almeje, embora o planejamento tenha sido cuidadoso e apropriado, nos seus mínimos detalhes.

 

Às vésperas da data do Centenário da Imigração japonesa para Brasil, em 18 de junho de 2008, evento de suma importância para os dois países envolvidos, teria sido planejada a publicação de uma revista especial para reunir textos que documentassem as diversas facetas das relações nipo-brasileiras ou, como gostaríamos de dizer, as relações Brasil-Japão. A revista, cujo título oficial desconheço, passou a ser chamada Revista do Centenário.

 

Lotado na Agência de Cooperação Técnica, como Assessor do Diretor-Geral e, em diversas ocasiões, como responsável pelo programa bilateral de cooperação Brasil-Japão, fui sondado e, logo, convidado a escrever um texto que abrangesse o Intercâmbio cultural e artístico nas relações Brasil-Japão. Conforme foi justificado, meu nome surgiu como o indicado para desempenhar esta tarefa por ter sido especialmente reconhecido o trabalho que desenvolvi nos períodos vividos no Japão quer como bolsista, quer como funcionário da Comissão de Compras de Tokyo da Usiminas, quer quando lotado na embaixada, de junho de 1957 a 1967 e de 1974 a 1977 - nos quais adquiri confortável conhecimento do idioma japonês -, bem como meu relacionamento com artistas, poetas, escritores e engenheiros e professores das principais cidades japonesas de Hokkaido a Kyushu. Não poso deixar de lembrar que, por ocasião da visita do Príncipe Herdeiro Akihito e sua esposa Princesa Michiko, recebi do Cerimonial do Ministério das Relações Exteriores credencial identificando-me como “Intérprete Oficial, válida para o período de 22 a 28 de maio de 1967”, coincidentemente o período da visita de Suas Altezas.

 

Munido de muito material amealhado durante anos, não deixei de procurar e contar com a colaboração de funcionários de fontes especializadas, tais como o Serviço de Documentação da Marinha, a revista Mundo Monárquico, o Arquivo Histórico, o Museu Histórico Diplomático do Palácio Itamaraty, bem como publicações específicas dentre as quais destaco Roteiro Lírico (1939), de Jorge Fonseca Júnior; e Anais IX, X, XII Colóquios de Estudos Luso-Brasileiros (1975, 1976 e 1978), conforme consta do último parágrafo do texto que produzi e assinei, publicado à páginas 17 a 37 do Boletim Iberoamericana, Vol. XVII, Nº 2, do segundo semestre de 1995.

 

Passado o período do Centenário só fiquei sabendo que “houve um atraso na entrega do meu trabalho à Comissão” Japonesa do Centenário da Imigração, explicação que, pelo que parece, nunca teve um motivo que justificasse ou um responsável apontado.

 

Anos mais tarde, décadas, encontro-me na difícil fase de limpa gavetas, de selecionar o que ainda vale ou que não tem mais serventia. E neste lufa-lufa, não é que encontro duas cartas que me fazem voltar ao assunto do meu trabalho que não foi publicado na Revista do Centenário, fato que até hoje me é incômodo. Aqui, não vou escrever mais do que escrevi acima, mas simplesmente transcrever o que consta da carta de 18 de novembro de 1996 do embaixador Fernando Guimarães Reis, datilografada em papel timbrado com as Armas Nacionais do Brasil da Embaixada do Brasil em Tokyo, e o que respondi com minha carta de 9 de dezembro do mesmo ano.

 

Carta recebida

 

Prezado Luiz Carlos,

 

Ao agradecer sua gentil carta portadora de boas novas, tenho o prazer de remeter-lhe, em anexo, o Boletim “Iberoamericana” Vol. XVII, Número 2, publicado pelo Instituto Iberoamericano da Universidade Sofia de Tóquio, no qual está incluído o artigo de sua autora “Intercâmbio Cultural e Artístico nas Relações Brasil-Japão”. A presente publicação em periódico de língua portuguesa nos possibilitará proceder a uma divulgação do primeiro texto aos meios acadêmicos ligados à cultura brasileira, que, como você sabe, têm uma presença significativa neste país.

 

Informo-lhe, a propósito, que um exemplar do periódico já foi encaminhado, por expediente oficial, ao departamento Cultural.

 

Infelizmente, não foi possível efetuar ainda, na Embaixada, a tradução do texto para o japonês. Assim que isso ocorrer, esteja certo de que você será a primeira pessoa a receber o texto.

 

Muito me alegrou tomar conhecimento de suas atividades na área cultural do Itamaraty bem como do lançamento do seu livro-poema menina só. A esse propósito, formulamos, Edileuza e eu, as congratulações pelo fértil momento de sua carreira bem como nossos votos de êxito continuado no mundo das letras e da cultura.

 

 

Carta de resposta

 

Minha carta, como todo e qualquer documento por mim assinado às vésperas dos 500 anos do início do saqueio luso-brasileiro, dito descobrimento do Brasil, tem no canto superior direito meu singelo protesto e, logo a seguir, minha resposta, nos seguintes termos:

 

Ano 2.000

500 de Brasil

Muitos mais de Pindorama.

 

Caro Embaixador Fernando Reis,

 

            Meu muito obrigado pela sua carta de 18 de novembro recém-findo, recebida na última sexta-feira, dia 6. Agradeço igualmente o exempla da revista Iberoamericana do instituto homônimo da Universidade Sofia que se junta aos dois últimos dos dez que me restam daqueles anteriormente recebidos, com a redução do texto/mosáico que escrevi sobre o intercâmbio Brasil-Japão na área cultural.

 

Devo ser sincero em dizer que o terceiro parágrafo da sua carta fez com que, durante todo este final de semana, dele não me esquecesse. Confesso que não entendi o “não foi possível efetuar ainda, na Embaixada, a tradução do texto para o japonês”.

 

A respeito da referida tradução, dou a notícia do que sei não só para o Embaixador, mas, também, para o amigo que há tantos anos merece minha admiração e que sempre terá a minha total sinceridade. Quando saí de Tokyo, no dia 6 de novembro de 95, a tradução do meu trabalho estava já nos pormenores. Esta tradução foi autorizada em fins de agosto pelo, também meu amigo, embaixador Pires do Rio que estava muito desgostoso com o fato de meu trabalho não ter saído no livro do Centenário, por não ter sido comunicado a tempo, aos organizadores dos eventos do programa japonês do Centenário, ter o Itamaraty a mim encomendado a redação do texto sobre as relações culturais. Lembro ainda que, no início de setembro de 95, fiquei sabendo, inclusive, que 5.000 dólares, postos à disposição pelo então Conselheiro Ligiero, podiam ser usados para a referida tradução. Certa vez, em fins de outubro, o Conselheiro Mendonça Lima disse-me que sua esposa daria uma lida no texto japonês antes de me mandar.

 

Rememorando: A senhorita Emiko Suga, tradutora, contratada para servir no setor da imprensa e financiamento, chefiada pelo Conselheiro João Mendonça Lima Neto, foi dedicada e atenta na empreitada de que se incumbiu. Inúmeras vezes fui opor ela consultado para esclarecer algum detalhe do texto onde apareciam palavras ou expressões de linguagem técnica, com as quais ela não estava familiarizada. Outras para verificar se os ideogramas escolhidos estavam certos. O senhor Susumu Guibu, velho amigo de Tokyo e tradutor experiente, ajudou também a esclarecer algumas dúvidas.

Lembro-me, por exemplo, os casos dos ideogramas do nome de Miyasaka Kunihito, do nome japonês dado ao poeta Pedro Xisto (Kashimoto Hakuseki), do da cidade de Suzu, na Província de Ishikawa, além do uso de katakana para a expressão “concrete poem” para evitar que este “concerto” que vem do latim “concrecere” fosse confundido com o “concreto” (gutai) que se contrapõe ao “abstrato”. No início de dezembro, mandei para a senhorita Suga outros esclarecimentos que faltavam (como, por exemplo, o nome japonês da Sociedade Internacional de Artes Plásticas e Audiovisuais - ISPAA) e que eu tinha no meu arquivo em Brasília.

 

Como, no passado, vi muita coisa estranha acontecer nesta Embaixada, decidi informa-lo do que precede.

 

Guilherme Figueiredo e Álvaro Teixeira Soares

 

Quero terminar este artigo transcrevendo trecho da carta do grande dramaturgo Guilherme Figueiredo que teve sua peça A Raposa e as uvas, traduzida para o japonês por Jun Shimaji com minha colaboração, quando utilizamos os textos em russo, idioma que Shimaji dominava, e em português. A peça teve exitosas apresentações pelo grupo teatral Budo no Kai (Cacho de uvas) e fez parte da antologia com peças de autores brasileiros, impressa com financiamento da Vale do Rio Doce Alumínio S.A; transcrever também parágrafo da carta de 2 de janeiro de 1977, do grande amigo embaixador Álvaro Teixeira Soares, comentando o catálogo de minhas composições patrocinado pelo Departamento de Cooperação Cultural, Científica e Tecnológica do Ministério das Relações Exteriores, com valiosa assessoria do pianista Paulo Afonso de Moura Ferreira, presidente da Seção Brasileira da Sociedade Internacional de Música Contemporânea.

 

Guilherme Figueiredo, na carta de 18 de dezembro de 1967, depois de comentar “Sinto-me orgulhoso de ter a nossa ´Raposa´ incluída na antologia japonesa; devo-o a você a ao nosso Jun Shimaji, preciosa criatura que generosamente decidiu descobrir o Brasil”, lembra a visita dos representantes da Casa Imperial do Japão e escreve: “Minhas felicitações pela sua atuação como interprete real; disseram-me que havia no séquito um brasileiro douto em japonês, um assombro. Parabéns”.

 

O embaixador Álvaro Teixeira Soares, um dos grandes chefes e amigos que ganhei em meus anos de Itamaraty, escreveu assim:

 

“Mal podia eu imaginar que você houvesse realizado, nestes últimos anos, tão copiosa produção musical, que você deverá aumentar, disso estou certo. Mas, o fato de estar você incluído tão honrosamente nessa coleção de Compositores Brasileiros, publicação oficial do Itamaraty, é uma resposta, não direi contundente, mas limpa e preciosa àqueles que tanto guerrearem você. Motivo pelo qual a vitória que você acaba de obter com essa consagração é simplesmente MERECIDA e NOTAVEL ”.

 

Concluindo, informo que as duas cartas, a credencial do Cerimonial e o exemplar do boletim Iberoamericana acima mencionado, encontram-se no acervo permanente da Discoteca L. C. Vinholes, do Centro de Artes da Universidade Federal de Pelotas.

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