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Contos-->O Poder da lagartixa - crônicas de um depressivo 4 -- 04/07/2003 - 13:51 (Silvio Alvarez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Volto a esta coluna semanal no papel de um doente de depressão que passou por experiências traumáticas, diversos tratamentos e que hoje vem administrando a doença com técnicas desenvolvidas a partir do que vivenciei e debati com médicos e pessoas que sofrem do mesmo mal.

Esclareço sempre que não sou médico, tenho muito a estudar sobre o assunto, tenho total consciência da responsabilidade assumida e de que quando se trata de depressão cada caso é um caso. Deixo bem claro, principalmente, que todo e qualquer tratamento deve ser acompanhado por um profissional da área médica.

Em O Poder da Lagartixa conto minhas experiências e procuro estimular o debate sobre este tema complexo que, ao meu ver, necessita ser abordado a exaustão. Informação nunca é demais.

Gostaria a priori citar algumas passagens do livro O Rival: O Homem Contra Si Mesmo de Jones Neves Filho

“(...)” A compreensão é a essência do que se obtém a partir de informações intencionalmente adquiridas e de experiências que foram vividas por nós mesmos.

“(...)” A compreensão, como já disse, resulta do conjunto das informações intencionalmente adquiridas e das experiências pessoais. Ao passo que o saber é somente a memória automatizada de uma quantidade de palavras aprendidas numa seqüência.

“(...)” Não só é impossível, apesar de todo o desejo que se tem, transmitir a outras pessoas uma compreensão interior, constituída no curso de uma vida, graças aos fatores mencionados; mas existe até uma lei segundo a qual a qualidade do que é percebido, no momento da transmissão, depende, tanto para o saber quanto para a compreensão, da qualidade dos dados cristalizados naquele que fala.

Portanto, segue um pequeno histórico de minha doença para que os leitores possam conhecer um pouco a respeito de quem está levantando todas as questões aqui mencionadas.

Nasci em São Paulo – SP em 1966.

Na infância fui muito introvertido e tinha dificuldade em fazer amizades. Convivia muito com adultos. Meus pais trabalhavam e fui criado por minha avó. Cercado por mimações em excesso, fui crescendo contando com o carinho de minha família. Através de minha avó e outros parentes católicos construí uma imagem de Deus altamente punitiva, vingativa e por vezes cruel frente aos mínimos “pecados”. Potencializava as faltas. Para mim tudo, ou quase tudo, era pecado.

Aos dezesseis anos trabalhei em teatro amador e passei a colaborar com jornais, escrevendo sobre música.

Colaborei com os jornais: Jornal de Santana, Revista Moema In, Folha do Comércio de Santana e Jornal de Jundiaí, escrevendo sobre música e variedades: eventos, teatro, vídeo, cinema, artes plásticas e música.

De 1984 a 1997 trabalhei no Clube Esperia em São Paulo: iniciei como DJ, gerenciei o night club assumi a direção artística da casa, promovia domingueiras teen em um salão com capacidade para cinco mil pessoas por seis anos.

Nesta fase passei a ter uma rotina de trabalho bastante irresponsável. Trocava o dia pela noite, me alimentava mal e apelava para bebidas alcoólicas que, supostamente, cortavam a timidez (sou gago em certas situações) e “adquiria status”. Passei a fumar também, até chegar nos dois maços por dia. Já experimentei (maconha), mas não fiz uso de drogas por tempo prolongado, além do álcool, do cigarro e dos medicamentos que viriam em seguida. Costumo dizer hoje, que só não entrei nas drogas por que não tinha referências. Meu círculo de amizades era totalmente “careta”.

Como locutor de rádio trasbalhei nas rádios Líder de Guarulhos – SP e Imprensa FM.

Criei a Silvio Alvarez Produções Artísticas para produzir e comercializar shows com artistas dos mais diversos gêneros.

Aos dezoito anos iniciei terapias com psicólogos e psicanalistas. Achava que o mundo não havia sido feito para mim. Cheguei a me tratar cinco anos com a mesma psicóloga.

Em 1993 descobri ter depressão, passando por experiências marcantes.

O único lugar que me atraía era a cama. A luz do sol me incomodava. Paralisei meu trabalho. Não conseguia concentração para nada. Não queria ver ninguém. Não tinha fome. Passei a ficar agressivo e a quebrar objetos. Minha auto estima foi a zero. Ficava alguns dias sem tomar banho. Troquei o dia pela noite e dormia muito pouco.

Vale ressaltar uma frase característica que ouvi nesta época: Isto é frescura. Foi falta de apanhar quando criança.

Minha primeira internação foi no Instituto Américo Bairral em Itapira – SP. Fui por livre e espontânea vontade. Pensava em suicídio constantemente e passei a ter crises diagnosticadas como síndrome do pânico. Aqui iniciei a tomar antidepressivos e ansiolíticos.

Ao todo passei por sete internações. Três delas em manicômios que não suportei permanecer por mais de três dias.

Devo esclarecer que por inúmeras vezes não segui as recomendações médicas. Tomava doses erradas dos medicamentos receitados e, o que era o pior, misturava com álcool.

Mudei para Joanópolis no interior de São Paulo em 1997, onde editei por dois anos o Jornal A Jóia da Mantiqueira.

Contratado pelo prefeito de Joanópolis – SP para assumir a assessoria de imprensa do município participei do processo que elevou a localidade à Estância Turística.

Em 2000 profissionalizei meu hobby de colagens, passando a expor em locais de expressão: Metrô de São Paulo, Terminal Rodoviário do Tietê, Mercado Municipal de São Paulo e Novo Hotel Center Norte.

Em 2001 passei a trabalhar como assessor de imprensa da banda rock pop paulista Yslauss, cargo que ocupo até hoje. Este também foi o ano de minha última internação.

Todos a minha volta compreendiam meu problema. Mas não sabiam como ajudar. Os amigos de antigamente conheciam todo o processo, tentavam auxiliar e não conseguiam, desistindo frente a minha teimosia.

Em 2002, voltei a escrever e hoje colaboro com vários veículos, entre jornais, sites e revistas, procurando passar aos leitores através das colunas Perdido na Metrópole e O Poder da Lagartixa – Crônicas de um Depressivo que a recuperação e administração da depressão é possível desde que devidamente controlada após tratamento médico específico.

Este é um breve histórico. Nada aconteceu em um passe de mágica. Ainda tenho minhas crises. O que mudou é que aprendi a identificá-las para poder procurar ajuda médica no tempo certo. Tenho a intenção de complementar ou citar nos próximos artigos os fatos omitidos ou resumidos aqui para que o texto não ficasse extenso em demasia.

Vou dedicar um artigo exclusivo ao tema. Entretanto, não posso deixar de mencionar o acompanhamento de meus pais em todo o processo. Constantemente ao meu lado carregavam a sensação de mãos atadas frente ao meu problema. Recebiam orientações dos médicos, todavia meu egoísmo era maior que o amor incondicional de um pai e uma mãe por seu filho. São meus amigos de todas as horas e lhes devo a minha vida.

Pela complexidade da questão solicito, através deste veículo, a colaboração de profissionais da área médica que tenham disponibilidade para me auxiliar no esclarecimento de dúvidas que vêm surgindo em número maior a cada dia por parte de leitores e membros de nosso grupo de discussão. Basta entrar em contato pelo e-mail: silvioalvarez@terra.com.br

Convido a todos os interessados pelo tema a participar do nosso grupo de discussão via Internet. Basta enviar um e-mail:
assinar-adepressao@grupos.com.br


Nota do autor:

Segundo a Revista Superinteressante – Mundo Estranho, de agosto / 2002, estrategicamente arquivada, as lagartixas se desfazem da cauda por vontade própria. Não se trata de nenhuma crise masoquista de autoflagelação e, sim, de uma estratégia espertíssima que ajuda o bicho a salvar a vida. Quando perseguido, ele corta um pedaço do próprio rabo, que continua se movimentando, o suficiente para distrair o predador e ele fugir.

A idéia aqui é utilizar esta metáfora animal para simbolizar o poder de recuperação dos seres humanos e suas táticas de sobrevivência. As múltiplas interpretações, incluindo as de mau gosto, do por que da escolha desta figura são fantásticas e enriquecem a discussão. Aguardo a viagem de cada um!

Silvio Alvarez é assessor de imprensa da banda rock pop YSLAUSS, artista plástico de colagem e colunista.
Ilustração - Bruno César: brunoartes@uol.com.br






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