Eu que não existo em ti
jamais existirei em mim
Inexisto na pele e no toque e existo no pensar e agir
Nas impontuadas linhas de um ser que ama e sente
vejo pronomes em flores e um triste trocar de nomes
Eu que não existo em mim
jamais existirei em ti amor
Existo no nome e conjugo verbos combinando cores
e pronomes pessoais e impessoais no chegar ao cais
De metáfora em metáfora dizes o nada dizendo tudo
Eu que não existo nela
jamais existirei para Ela
Finjo existir em sonho enquanto calado canto a alegre
canção dos gansos e engano no canto cobrindo-te tal
qual um santo no ir e vir das ondas e sozinho danço
Eu que inexisto para tu ou vós
jamais existirei conjugando o nós
Se tu existis em mim é porque existi em ti mesmo sem
voz cantei a formosa canção do nós desatando os nós
de um laço frouxo no anverso do poema e de um verso
Eu que não levarei nada da vida
jamais terei o triste sabor da morte
São nessas alegres horas que solto largos sorrisos
mesmo que em versos pois sei que jamais chegará
minha triste alegre hora porque os homens matam e
os versos imortalizam os seres vivemos e morrentes
Eu que insisto em existir em ti aumento os teus anos
enquanto imortalizas em mim somando-os em ti tudo
que somaste em mim e nos outros nós que deste voz
E nós que existimos inexistindo
jamais seremos divididos em nós
nos grandes nós que damos em
sonoras vozes que mudas cantam