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Cronicas-->Cócegas no Peito -- 27/01/2003 - 10:48 (Elane Tomich) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Cócegas no Peito
Elane Tomich

Vivo à beira da saudade dos trilhos vazios da Bahia e Minas!
Guardo com um sentido de dor alegre, que tem marcado meu olhar nesses
tempos, devagar baixando a mira para um chão bem pisado de vida, a foto da
primeira locomotiva da estrada! `A lenha, bem lembrado!
Do maquinista que passava pela Estação Mangaló, fazenda dos meus avós.. e
soava três vezes o badalo de seu Zé , contrariando as regras do Ministério
dos Transportes que determinava duas para o "oral de cima" e uma vez para o
"oral de baixo". Ficava todo mundo feliz, se qualquer dos "oral" passasse no
horário, ainda que fosse do dia anterior.
O "oral de cima "vinha de Ponta de Areia e o "oral de baixo" vinha das
bandas de Teófilo Otoni.
Então descíamos a ladeira correndo para esperar seu Zé que descia do trem e
trazia coisas estranhas como, certa vez , uma jaguatirica que meu avó
comprou e me deu!
Eu tinha oito anos .
Glória maior nunca tive! Nem casamento, paixão consumada ou títulos da vida
adulta jamais me cobriram de tanta cheísse de mim mesma.Sonhava que era no
mínimo,heroína saída de um gibi, com a onça amiga que me protegia. Jane de
Tarzan era minha súdita.
Fora a reverência e inveja, das outras crianças!
Aos domingos era dia de briga de facão entre Torquato e Nego Pêgo na venda
da Estação.Uma disputa que deve continuar no céu , já que ambos foram para
lá cumprir o resto de suas sinas e tomar a cachaça que tanto ofereceram aos
Santos.
Se o trem "descarrilava", ou um dos maquinistas dizia estar faltando lenha,
meu avó mandava matar um boi , minha avó trazia carotes de leite, muito
biscoito de goma e o largo da Estação virava um circo mambembe e
improvisado.
Fazia-se uma fogueira , pois ali o trem passaria a noite . O ponto alto da
festa era quando Nego Pêgo bebia o sangue do boi ainda quente , logo após o
sacrifício do
bicho - churrasco.
Maria Pêgo rezava o ofício de Nossa Senhora, misturado com um alguma
"inscelença" fúnebre, para nosso desespero:a reza era interminável e carecia
do gasto dos joelhos pregados na terra ou a Virgem Maria continuaria para
sempre ajoelhada por nós, chorando entre os anjos
Tia Dora cantava Sonhos de Guarapari.
Toquato, negro de um metro e noventa de altura, riscava o chão com o facão
para não ficar pra trás.
Sebastião Lulu, lobisomem constatado e aprovado em noites de lua cheia
,vinha não se sabe de onde, para nosso prazer e terror infantis. E... bebia
, bebia muito , nos ameaçando velada e sadicamente.
A Bahia e Minas foi extinta logo depois pelo governo Castelo Branco.
Até hoje, quando vejo algum documentário sobre ecologia , preservação da
mata Atlàntica e aparece uma jaguatirica, ficam irremediavelmente ligados ,
a onça pintada, a fogueira na estação, casos de assombração e muita ,muita
felicidade, daquelas quase inconfessáveis. Daquelas que dão cócegas no
peito, quase pecaminosas.

É... Meus amigos, como dizia o Sérgio Porto:"o trem tá atrasado ou já
passou"
Beijos, Elane

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