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Cronicas-->Rato de Praia -- 28/01/2003 - 16:25 (William Henrique Pereira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos



Ainda estamos vivos. E o que passou já acabou... ou não. O que importa é que caímos e levantamos no verão passado.
O sol cobria-nos de arrepios intergaláticos indescritíveis quando, logo pela manhã, atravessávamos nuances de diversão ou agitação e sentimentos de déja vu referentes aos verões passados quando olhávamos as ruas, e quando olhávamos o mar.
Um de nós era um filósofo. E todos são poetas da vivência. De felicidade e de dor. E ele percebeu que aquele mar era o mesmo que estivera ali pelos últimos milhões de anos, e a respeito disto não se tinha absolutamente nenhuma dúvida. E o Sol, o Sol era aquele. Ajoelhar e louvar a Ele? Não. Mas no mínimo sorrir pra vida, que aí ele agradece. E te banha com confortantes banhos bronzeados. Porque bronzeado o ser humano vai exalar o salmo, a essência para o sexo. E consequentemente o acasalamento, função vital. Função Solar. The Dark Side Of The Moon.
O que é a moda, o que é a falsa beleza que nos rodeia? É algo mais.
O que é o dinheiro enfiado nas entranhas daqueles animais que nos observam lá de cima da cobertura do prédio que fica na avenida da praia, e de frente pra mesma? É algo mais.
E, agora, o que é aquele sorriso nos lábios da garotinha a brincar sentada na areia, e um casal de velhos sentindo a maré nos pés no fim de tarde? Não é nada mais...
Depressão e solidão pioram quando entram em cena cenas de uma juventude arrogante e sem perdão. Mas eis que de repente estão a andar depois do almoço com as pranchas atadas ao corpo como a fêmea marsupial, que tem o filho colado ao útero. E ao andar contempla-se a beleza de uma meninota de doze ou treze anos a andar sozinha pela calçada, sobre pés de inocência e sensibilidade. A virgem.
E você é o guerreiro? Não é. Você não é tampouco o sacerdote e nem o Rei. Você não é nativo. É bárbaro, é estrangeiro, estranho, é alienista alienado ou alien. Na Terra do Sol. Toda beleza e juventude e candidez incomparável se resume na moçoila, na rapariga pequena e de biquíni.
E a música começa.
Você se lembra que muitas o recusaram e muitas arrancaram lágrimas de seus olhos. E agora é pior, porque estamos no verão. Nunca te disseram que o verão é cruel, e que não tem piedade ao te deixar marcas e feridas quando tudo termina? Suas costas ardem, o peito arde, a dor sufoca. O coração reclama. A vermelhidão do fogo, do Deus-Sol, do Verão-Mefisto. E aí sofre, e é dor que demora a ir-se. Somente lá por fins de Março é que podereis voltar a respirar... Águas de Março.
Mas se Homero não permaneceu sentado e acomodado e partiu desbravador... você sente que precisa ir também.
E os quiosques intermináveis ao redor de uma orla marítima, na praia, redutos de "língua preta" infectados. Esgoto. Pule o esgoto e continue.
De repente ela se foi. Com a onda do mar. Pra onde, não se sabe.
E à noite, após tanto sofrimento, são muitas as almas, e muita a lama na alma. Das pessoas ao redor. Porque o natural corrompe, o natural e o verão corrompem a alma, fazem ela querer se libertar em danças frívolas e exultantes que idealizam imagens havaianas e flores coloridas, assim como coquetéis de desespero. Boemia.
À noite é como o manto negro. E até o mar é negro, e você é só sombra. A areia lhe chega gelada aos pés, e é fresco como a pele de sua mãe. Você quer a ela, então começa a acariciar aqueles medonhos rostos arenosos que se formam em sulcos no chão praieiro. A maré logo subirá, e aí será hora de voltar. Pena... a noite é um refúgio, é o manto, é toca, esconderijo, é mãe.
E conforme os dias passam, você percebe a decadência. Esconde-se atrás das lentes escuras, e procura a companhia dos amigos. E das amigas. E o carinho sem valor. O carinho do orgasmo. De gózo e da paixão. Paixão não é amor. Sexo é mentira. E você não é burro.
E, se um de vocês é filósofo, ele logo nota o egoísmo concentrado nas almas litoràneas. São podres seres se barro, são água barrenta. Porque eles são como o Giacomo, o Casanova. E querem o recorde de trepadas. E é como ter piscina quando se mora na praia. É querer ter tudo, e ser Deus cerca de dezenove horas por dia. Belzebu dourado. Satanás salgado.
Quando você dorme, sente muito calor e sonha com coisas medonhas. E o sal nunca sai de sua boca, por mais que você lave.
Então, um dia, de manhã, o mar está cheio de criaturas. São pessoas, mas você não as enxerga. Você vê multidões de bichos marinhos gigantes, criaturas que ilustram mentes imaginativas e livros que falam de velhos mitos marinhos da costa sudoeste da África.
E lá no fundo você vê alguém se mexer de um modo estranho, de um modo mágico. Ele é um rapaz do mar, ele surfa. Ou não. Não surfa. Ele tem a prancha, mas ele não surfa. Ele olha as ondas o dia inteiro, e ele pensa muito. Lá no fundo. Mas nunca surfa. E volta caminhando pela areia. Seus passos são os passos da filosofia, ele é pensador, ele é poeta do pessimismo e da solidão e também da descrença neste mundo pobre e podre. Você quer ser como ele, você quer ser amigo do Surfista que não surfa. Mas o problema é que ele só anda sozinho... e talvez ele seja como o personagem de J. D. Salinger, e só entre no mar com o objetivo de proteger e olhar as criancinhas que se arriscam pelo fundo, pra que elas não se afoguem. O Apanhador do Mar.
Sua mente gira em círculos no universo transversal e óptico dos tetraedros giratórios. Isso ninguém pode explicar... e de repente, você volta a encontrar a sua garota virgem, pois ela está passeando pela praia, é um brilho, é um sorriso, uma ofuscante Garota de Ipanema que não é de Ipanema.
Ela é perfeita no jeito belo e excitante de ser. Ela é cabelo molhado, ela é olhos de mar verde e lábios salgados e é corpo-areia, e corpo molhado... são seios e são dobras salgadas, são pernas e pés descalços. Ela é rapariga-menina fecundadora, dona da fruta ainda imatura, fruta-pitanga jabuticaba, rosada e leve, molhada, é vagina loura e delicada. Flor de maracujá, hormónio de crescimento. Definitivamente angiosperma, solteira e menor de idade. Comê-la-ei, mas comê-la-ei limpa e com beleza, sem repúdio, sem pedofilia, com prazer e com amor sem fim... pór uma semente de vida dentro dela. E me casar com ela.
Mas tudo passa mesmo, até a menina dourada passa. Ela se vai, ela te despreza antes mesmo que você tente falar com ela. Ela foi embora. Agora o negócio é sofrer, sofrer, e chorar, e tentar esquecer. Ela nunca foi sua Capitu, foi somente garota idealizada bucolicamente, sonhadoramente, por um poeta da segunda geração romàntica... sonhos.
O carro vai partir, tudo acabou, tudo tem um fim. Em seguida, virá a estrada do adeus, e o tchau-maresia. Adeus água mar. Adeus Avenida.
Ainda estamos vivos. E o que passou já acabou... ou não. O que importa é que caímos e levantamos no verão passado.

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