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Artigos-->O tango dos miseráveis -- 02/06/2002 - 23:05 (Marissom Ricardo Roso) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
“Ó personalidade humana! É possível que durante sessenta séculos tu tenhas te corrompido nesta abjeção! Tu te dizes santa e sagrada e não és senão prostituída, infatigável, gratuita de teus lacaios, de teus monges e de teus velhos soldados. Tu o sabes e o tu o sofres! (Pierre Joseph Proudhon – A Propriedade é um roubo e outros escritos anarquistas)”.



Conta uma piada infame que “globalização é uma princesa inglesa com um playboy egípcio em um carro alemão com motor holandês e pneus americanos, dirigido por um motorista belga, embriagado com whisky escocês e capotando em um túnel francês, perseguidos por paparazzi italianos com máquinas fotográficas japonesas e socorridos por um médico brasileiro”.



Esta situação representa muito bem o que é a globalização. Glamourosa no princípio, terrivelmente trágica no final. Mas a globalização neoliberal é muito mais do que isto, e sua mais nova vítima é o povo argentino. A “Argentina potência”, do trigo, do petróleo e sem negros, já não existe mais. Depois de vender todo o patrimônio público, a nação caiu, vítima da própria arrogância.



Ainda lembro quando estive em Buenos Aires, a trabalho, em plena dolarização. Eles pareciam os donos do mundo com seu característico orgulho inflado ainda mais. Ao ver uma guitarra “Jimi Hendrix signature”, da Fender, e maravilhado com a beleza daquela obra de arte, entrei na loja e perguntei ao atendente quanto custava. Ele, sem mover um músculo da face, me devolveu a pergunta com a fleuma característica dos ingleses, duvidando que eu tivesse os dólares necessários para adquiri-la, “o senhor vai comprar?” Logo mais, na rodoviária, ao pedir uma garrafinha de água mineral, escandalizado com o preço de um dólar, perguntei ao garçom se havia lei na Argentina. Quase fui agredido!



Ao ler os jornais de hoje, lembrei de uma palestra proferida pelo Dr. Jarbas Lima, em simpósio jurídico na cidade de Santo Ângelo, que versava sobre a reforma do Poder Judiciário brasileiro, quando então, o brilhante tribuno e jurista revelou-nos a existência de um dossiê confeccionado pelo Banco Mundial, com sugestões para a reforma do Poder Judiciário da América Latina e Caribe, abrindo a porta do galinheiro para a raposa faminta da privatização. Uma punhalada na soberania nacional.



A culpa da derrocada da Argentina não é do FMI, mas sim de uma elite parasita e seus políticos corruptos. Dizem as línguas ferinas que a Argentina trabalha para sustentar Buenos Aires, e Buenos Aires trabalha para sustentar sua elite. Não sei se é exagero, mas todos, povo, políticos e elite, têm uma parcela de culpa nesta história. Ninguém questiona a legitimidade destas pessoas que retiram dinheiro dos organismos internacionais. Muito menos fiscalizam onde vai parar estes recursos e como se realiza este processo nefasto.



O próprio FMI não se importa se os recursos são aplicados corretamente para o que foram destinados, se povo perde emprego e passa fome, muito menos se a elite vive num paraíso irreal às custas de seus escravos. O Fundo vende dinheiro e cobra muito bem por isto. A cada nova fatura, mais uma empresa é privatizada e isso é que importa. É assim que se sustentam as ilhas de prosperidade, chamadas “primeiro mundo”.



Hoje a elite Argentina pode comemorar sua salvação. O senado acaba de revogar uma lei que punia banqueiros e empresários por crimes contra a economia do país, por imposição do FMI, para voltar a socorrer a Argentina com mais dólares. Nada mais justo, pois só salvando a elite parasita e os políticos corruptos, seus únicos sócios, é que o FMI continuará sua caminhada até a completa destruição das chamadas nações emergentes.



Hoje, a pergunta que fiz ao garçom na rodoviária de Buenos Aires, finalmente me foi respondida. Sim, há lei na Argentina, mas quem legisla é o Fundo Monetário Internacional, fato que me leva a duvidar se ainda existe diferença entre “fundar um banco ou assaltar um banco”.



Enfim, tudo começa a voltar ao normal. Os ladrões que quebraram o país estão livres, já podem voltar a roubar; a elite já tem seu caviar e champanha garantido novamente; e o povo, ah o povo, este vai voltar a trabalhar cheio de idealismo e esperança para reconstruir o país maravilhoso que não souberam cuidar.



Mesmo não estando o Brasil muito longe disto, Deus nos livre de tamanha tragédia. Amém!

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