Usina de Letras
Usina de Letras
152 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62213 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10450)

Cronicas (22535)

Discursos (3238)

Ensaios - (10356)

Erótico (13568)

Frases (50606)

Humor (20029)

Infantil (5429)

Infanto Juvenil (4764)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140798)

Redação (3303)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6185)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Poesias-->O estrangeiro -- 19/01/2004 - 17:21 (Ricardo França de Gusmão) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Não faça poema na cidade dos outros.

A cidade dos outros não te pertence.

Não chegue John Wayne montado em um cavalo

Vindo assim mocinho-bandido forasteiro

A desafiar os xerifes nos saloons e nos societys

Da província.

Há um pórtico na entrada e outro na saída

Com câmeras assustadas a vigiar

Aqueles que chegam

E uma placa mentirosa dizendo “bem vindo”.

Nesse momento, sorria, que você estará sendo filmado,

Ardilosamente fichado, checado, catalogado,

Nesse sistema ovo.

Entre as faces decoradas deste povo

O teu rosto atômico de cidadão universal

É indolente e cativa uma experiência misteriosa

E ameaçadora.

Portanto, haja como um turista ocasional: sorria,

Peça informações, disfarça.

Não diga de onde veio, pois isto será checado.



Na cidade dos outros existe uma rede conectada

Uma classe social decadente ameaçada

Uma casta pseudo-intelectual carente de atenção

E uma situação carnavalesca tosca

Em meio a essa imensa papagaiada.

Mas isso tudo, para eles, é coisa muito séria.

Existem outros toscos igualmente bregas:

Seriais killer de ídolos locais generais trovadores

Com medalhas na pele incrustadas rugas

Poetas deuses de salada russa

Prosaicos senhores auto-intitulados de qualquer coisa.

Caras de pastéis condecorados com

me(r)dalhas, me(r)dalhinhas, me(r)dalhões.



Há muitos desses senhores na cidade dos outros:

Os senhores de qualquer coisa

Que para eles é muita coisa

Uma grande coisa

Ser uma coisa

Mesmo que essa coisa

Seja coisa nenhuma.

Isso é mais um título ensimesmado

No currículo quilométrico desses patéticos.



Crie uma forma de participar não participando

De estar não estando

De ser cidadão no varejo sem virar notícia.



Na cidade dos outros não há o que ensinar

Pois eles já sabem tudo do mundo exterior

E dos peregrinos ciganos e dos viajantes

Turistas de tempos sazonais sem direito a voto.



Há de se respeitar o profano

E as sacanagens por debaixo dos panos

Desses poetas municipais.

Mesmo que só saibam rimar

AABB, ABBA, ABAB,

Em quadrinhas bonitinhas, parabéns pra você.

Mesmo que a Semana de 22

Ainda não tenha acontecido lá,

Na terra dos malditos parnasianos.

Mesmo que os trovadores continuem

Distribuindo troféus entre si

Em concursos semanais nos anais

Das academias bairrenses.

Há de se respeitar a mesmice estética

Pois a mesmice é patrimônio deles,

Passada de geração a geração

Como uma aberração genética.



Ande esguio pelas ruas, vai pela sombra

Sob as marquises mas sequer pise

Nos acumulados de bosta e de cocô

Produzidos pelos cachorros da cidade dos outros.

Esta parte também a eles pertence

E a bosta exposta é protegida por lei municipal.



Evite fazer xixi nos postes de madrugada

Pois os postes são os pilares do reino

Engalalado

E os postes só põem ser devidamente molhados

Pelo líquido aromático dos caninos de rua

Nascidos na jurisdição da cidade dos outros.

Lembre-se do cão herói pedregulho sentado,

Êta orgulho besta, meu Deus!



Mas não beije sequer a mulher da cidade dos outros

Pois o beijo será bandido e caçado,

A culpa será taxada placa em sua testa:

“transgressor”!

Mas se em um dia de emputecimento

Você acordar violento

Acusado, acossado e acuado

Por “insubordinação mental”,

Bebe um trago de pinga, solta a língua,

Mostra aquilo roxo,

Faz sinais violentos com os dedos das mãos

Esculhamba os bons costumes,

Torce contra o futibolense,

Cospe no chão da cidade dos outros,

De preferência nas estátuas de seus ídolos

Ou nos carpetes da prefeitura,

Desdenha dos ancestrais e escarra

nos túmulos dos cemitérios municipais

e depois coma a cona, a dona, a mulher casada

a mais amada ou a mais puta

mas coma m esmo a filha da puta

e após o coito deixe o seu corpo usado inerte,

corpo morto nesta guerra intermunicipal

corpo usurpado da noite nupcial

corpo suado sugado por um forasteiro

corpo de rapariga que amanhã

talvez, produza, no dorso de uma nova geração

o filho miscigenado

a cria, a criação, o filho-poesia

de uma nova sociedade,

uma criança do tamanho de um país

órfã de um poeta que foi por aí

a fazer mais filhos nas cidades dos outros.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui