Ai, quem me dera, querido,
mostrar-te numa canção
que cabe em meu abraço amigo
toda a dor de teu coração...
Esquece o que sabes de amor,
não penses muito na dor
de não teres o amor que te ensinaram.
São cegos e sem amor
aqueles que te falaram
num amor tão limitado,
tão pequeno, tão tacanho,
que só pode ser expressado
num corpo do nosso tamanho.
Amor é coisa tão imensa,
tanto doar sem recompensa,
que engana-se e sofre quem pensa,
que quando não tem não compensa.
Amor é um bicho estranho,
mas faz valer qualquer ganho,
por pequenino que seja,
quando nele se percebe,
que a amizade sobeja,
e a cumplicidade se excede.
Aprendemos, meu querido,
tão errado, nessa vida,
de gente tão mal resolvida,
que amor é igual à paixão,
que é o mesmo que tesão,
que nos esquecemos do resto.
Tiramos-lhe o valor certo,
a paixão ganha ares de importante,
tesão vira algo gigante,
viramos escravos dos complementos,
de lado ficam os sentimentos
e um coração amordaçado.
Perdido o tesão, esquecida a paixão
passamos a achar, então,
que não há amor, que é tudo passado.
Saímos por outras estradas,
buscando a felicidade
com aquilo que aprendemos
a chamar amor de verdade.
Quantos amores existem?
De quantas formas amamos?
Que sentimentos persistem
depois que nos separamos?
Teremos então que ver ruir
o que custou-se a construir,
que tantos sonhos gerou,
tanto carinho alimentou,
tanto fez florescer...
e então, como cada um diz o que quer
que amor é isto, aquilo é,
todos temos que perder
o amor que sabemos ter...
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