Há coisas no coração
das quais precisamos falar,
e é exatamente sobre elas
que estamos sempre a calar.
Por que calamos?
Por que não as deixamos ir?
Por não as compreendermos
ou por não ter como as parir?
Por não encontrarmos, exatas,
as palavras e adequado o momento,
ou apenas por não haver, contadas,
as palavras para o sentimento?
Não as deixamos partir
de dentro de nós, quem sabe,
por medo de que, na partida,
levem consigo a metade
da exata, justa medida
do que nos vai cá por dentro...
Não as deixamos voar
com as palavras escolhidas
porque tal vôo nos dá
sensação de despedida,
de abandono, saudade,
nos dá apenas metade
da emoção desmedida...
Não as deixamos, talvez,
porque nem mesmo nós sabemos,
precisar com nitidez,
ou ter ao certo clareza,
se que nos vai lá no peito
é o que nos vai na cabeça,
o que é causa ou efeito,
se emoção ou arremedo...
Falta coragem, sobra medo...
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