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Infanto_Juvenil-->Às onze e meia no site do Sandro -- 29/01/2003 - 00:19 (William Henrique Pereira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos





Às onze e meia no site do Sandro


Wilson Barbera acordou às oito e meia. Se sentia ligeiramente diferente.
Na cama, a preguiça bateu gostosamente enquanto se revirava mais uma vez sob os lençóis, fazendo hora na cama. Bocejou. Pensou na vida. Estava de férias na escola, teria a manhã livre. Legal. O que o aborrecia era Ter que ir trabalhar à tarde. O emprego de digitador até que não era tão ruim, afinal, dava pra ganhar um dinheirinho pra gastar à vontade. Acontece que quem tinha arranjado o emprego pra ele tinha sido seu padrasto, Jorge. E ele não suportava o padrasto. Achava que ficava numa situação má, pois parecia que devia algo a ele, que lhe dera o emprego. Jorge e a mãe dele viviam a viajar pelo mundo, conhecendo Paris, as ilhas gregas, o Caribe, Califórnia, Suíça... e sempre deixavam Wilson sozinho em casa, de saco cheio. O cara era ricaço, tinha o rabo cheio de grana, e nem trabalhar trabalhava. Era marajá. Aí, casou-se com a mãe de Wilson, dois anos após o falecimento do pai. Ela, coitada, não tinha culpa. Tinha ficado extremamente abalado, desamparada e tonta ao enviuvar. Não sabia como agir. Acabou casando de novo, achando que era a melhor solução. Mas não parecia muito feliz. Às vezes Wilson pensava que a mãe até que era bem feliz, quando chegava com Jorge de um cruzeiro caríssimo, carregada de compras e presentes para Wilson. Sorrisos, beijos e saudades. Mas, no outro mês, lá ia a dupla infalível viajar de novo. Para Wilson, era um saco.
Resolveu se levantar logo, pra parar de pensar na vida e na porcaria do padrasto. O negócio era preparar o café da manhã, tomar banho...
Wilson pegou uma caneca e encheu de café. Reparou que estava aos poucos se tornando viciado em café, como aqueles caras que são jornalistas, ou algo parecido, e varam a madrugada tomando café. Wilson ficava acordado a madrugada toda, principalmente nas férias, sempre vendo TV, ou no computador. O computador era seu maior amigo. Com ele podia se divertir na Internet, ou jogar simuladores de vôo, a qualquer hora. Bem mais humano que sua mãe e seu padrasto.
Ligou o computador. Em seguida a TV.
O legal era que Wilson tinha a casa à sua disposição por um mês, agora. Isso mesmo. Era sempre assim. Quando ficava sozinho, levava seu computador para a sala, e o instalava lá, pra poder ver TV e navegar na Internet. Aí aproveitava o embalo e dormia no sofá, todo dia. A sala era o seu quarto. No sofá cama, sempre o cobertor esticado. Sobre a cadeira do computador, suas roupas. Até que ficar sozinho não era tão ruim.
Na noite passada César e Aline tinham vindo à sua casa, e eles quase que viraram a madrugada comendo pizza e assistindo vídeos alugados. Agora, de manhã, jaziam sobre a mesinha e sobre os sofás embalagens de fast-food, caixa de pizza, copos descartáveis e fitas de vídeo. Os dois eram seus grandes amigos na escola, e sempre vinham se reunir em sua casa, pois era a casa mais tranqüila para se reunir. Ninguém pra encher o saco. Ficaram até as três acordados, batendo papo. Era quase toda noite assim, principalmente nas férias. Às vezes eles dormiam na casa dele. E não tinha problema, pois ambos moravam na mesma rua de Wilson.
Às nove horas, o interfone tocou. Wilson se assustou, correu até a porta e tropeçou nas caixinhas de hambúrguer.
- Quem é? – disse ele.
- Tem um tal de César querendo falar com você, Wilson.
- Ah, Zé. Manda ele subir, é meu amigo.
Zé era o novo porteiro. Não conhecia César ainda. Muito desconfiado, esse Zé.
César chegou no apartamento logo depois, meio afobado. Entrou e fechou a porta.
- E aí, César? Que foi, essa cara? – disse Wilson.
- Nossa, Wilson, tô com um negócio urgente aqui. Preciso imprimir um negócio no seu computador.
- O que?
- Minha mãe vai dar uma festa e eu preciso imprimir uns troços dela, você sabe, tem várias listas e tal... – César estava sem fôlego – Escuta, quem é aquele boçal lá na portaria? E o Santana, cadê ele?
- Ah, o Santana foi demitido. Aquele lá é o Zé, o novo porteiro.
- Zé?
- É. Dá o disquete, vou pôr pra imprimir. E aí, dormiu tarde ontem? – perguntou Wilson.
- Claro. Cheguei em cada três e quinze, depois fiquei ouvindo música até umas quatro...
- Eu também, quase varei a noite... – disse Wilson, sentando-se na cadeira do computador.
César sentou-se no sofá e ligou a TV.
- Onde você arranjou essa proteção de tela 3D?
- Ah, peguei ontem na Internet, depois te passo o endereço de um site que tem vários pra fazer download – disse Wilson.
- Seus pais chegam quando?
- Meus o que?
- Desculpa. Sua mãe e seu padrasto... chegam quando?
- Mês que vem. Vou dar uma festa aqui no apartamento.
- Sério?! Quando?
- Não sei ainda... semana que vem... vou chamar todo mundo que eu lembrar... só de raiva daqueles dois.
- Você não gosta do Jorge mesmo, né?
- Claro, o cara é um merda... só tem dinheiro, de caráter nada – replicou Wilson.
- Não tá passando nada que presta na televisão.
Naquele momento aconteceu algo que deixou os dois paralisados e inconformados. Enquanto o arquivo estava sendo imprimido, subitamente a porta do drive de CD-ROM do computador de Wilson se abriu sozinha.
Eles se olharam.
- Você viu isso?
- Vi.
- O que é?
- Não sei.
Eles permaneceram imóveis.
· - Você...
· - Não. Eu apenas abri o meu texto. Não tem CD aqui dentro - espantado ainda mais, César apertou o botão para fechar o drive.
· Os dois olharam um tempo para o computador. Nada aconteceu. Wilson franziu a testa e se levantou. O drive abriu de novo.
· - Mas que...? - ia dizer Wilson, quando o telefone tocou. Foi atender no sem-fio.
· - Pronto.
· - Que bom que já está de pé, seu falso! - disse a voz do outro lado da linha.
· - Quem... quem é?
· - É a perua asquerosa, espertinho. A maior vadia do planeta. - Em seguida ficou muda.
· - Quem... Meu Deus, é você, Aline?
· - O pior é que não tem coragem de dizer nada na minha frente, seu covarde! Tem que usar o e-mail.
· - Do que você está falando?
· - Cínico.
· - O quê?!
· - Cínico.
· - Aline, eu não te mandei nenhum e-mail...
· - Como não? Além de tudo tem amnésia?
· - Eu juro. Eu não sei o que...
· - Eu estou indo aí, ouviu? - e desligou.
· Wilson e César, confusos, se olharam.
· - Era a Aline? Estava brava? - indagou César.
· - Sim. Ela recebeu um e-mail ontem... e disse que era xingando ela, e disse que eu o mandei. Como pode? - disse Wilson.
· - Que coisa mais... - começou César, confuso.
· - Ela vem para cá. Eu vou ao banheiro. Se ela chegar, manda subir.
· César ficou na sala, imprimindo seu texto. Ao terminar, olhou em direção ao corredor e gritou:
· - Wilson, posso pegar uma coisa para o meu primo na Internet? É rápido.
· - Pode! - gritou o outro - Eu já volto!
· César entrou na Internet bem rápido e foi checar os e-mails de Wilson. Eles sabiam a senha um do outro, de modo que logo apareceram os e-mails de Wilson, que sempre salvava todos, deixando-os lá por um tempo, caso desejasse consultá-los outro dia.
· César passou os olhos. E-mails de segunda feira... terça feira... quarta... quinta feira! Paolo... Mirian... Sr. Hugo Brasi... Aline! Ele começou a ler o e-mail, que era assim:
· "Oi, querida Aline! Chega de mentiras, não é? Eu acho você uma vadia, garota! A maior do planeta. nunca vi alguém como você. Uma pessoa precisa ser bem otária para ser a perua asquerosa que você é! Como foi o encontro com aquela besta humana com quem você saiu? Foi bom? Ele deve ter ficado bem decepcionado. Até mais! Ass: Wilson, seu grande amigo."
· César contorceu o rosto e ficou pensativo. Ele, Wilson e Aline eram grandes amigos. Como isso poderia ter sido escrito por ele? Como? Mas estava lá. Na sua frente.
· Como que acordado de um sonho, ouviu o trinco da porta do banheiro. Saiu rapidamente da Internet.
· Wilson apareceu na sala e César olhou-o, dizendo:
· - Eu... não tinha... eu... não achei o que queria.
· - Ela não veio ainda. César, me ajude. Eu não sei o que... - começou Wilson.
· - Ora, vamos! - interrompeu César - Arque com as conseqüências, agora! O que deu em você? Aline é tão legal...
· - O quê?! Quem disse que eu... - Wilson não terminou, pois viu que César acessava novamente a Internet. Viu ele andar por seus e-mails e expor o e-mail enviado a Aline.
· Wilson não sabia o que dizer. Se sentou na poltrona e tentou falar.
· - Como... é possível... César! Meu Deus! Eu não escrevi isso!
· Nessa hora, o drive abriu novamente.
· Os dois não sabiam o que dizer. Ouviram alguém bater na porta.
· - É Aline! Deve ter passado lá embaixo sem ser vista! - disse Wilson, e em seguida olhou pelo olho mágico. Ela estava com muita raiva. Ele abriu a porta.
· - Então? - disse ela, entrando - O que diz? Oi, César - virou-se para César instantaneamente e voltou o olhar para Wilson.
· - Aline... - começou ele - Você tem a minha palavra de que...
· - Ah, é? Não mandou o e-mail? Quem foi então? Seu gato? - perguntou Aline, irônica.
· Wilson, envergonhado, tinha o olhar perdido. Olhava para o sofá, para a televisão, o computador, a impressora, as folhas de César...
· De repente voltou o olhar para essas folhas. Com o rosto grave, aproximou-se e leu de perto.
· - César... Meu Deus...
· - O que foi? - perguntou, curioso, César - São as folhas que eu imprimi... um texto que eu peguei uma semana antes de um amigo meu. Ele é programador... e me deu este...
· - Veja só! Fala sobre... - interrompeu Wilson.
· - Hackers que invadem...
· - Computadores dos outros, quando a vítima está na Internet! - gritou Wilson - Aqui diz que, o usuário, quando em rede, corre mais riscos de pegar vírus ou programas que na verdade não são programas, e sim uma passagem aberta para que o hacker invada seu computador. Eu pego um programa qualquer em um site, como um salva-telas, por exemplo - disse, apontando para a tela que mostrava o salva0telas 3D - Assim o hacker, por meio deste "falso programa", tem acesso completo ao meu computador. Isso inclui textos, arquivos, meus drives e...
· - O e-mail! - gritou Aline - O hacker verificou sua senha e mandou um e-mail para o primeiro endereço que leu no seu computador, no caso o meu. Wilson, eu não sei o que dizer...
· - Tudo bem, você não sabia... - disse Wilson, sorrindo - César, seu amigo que lhe deu este arquivo é hacker?
· - Não, é boa gente. Na verdade, o arquivo não ensina como acessar computadores, e sim como se prevenir nestes casos. Pode ficar com ele, assim você elimina este problema. E não vá pegar novamente arquivos de sites duvidosos... sites obscuros, nada confiáveis.
· Tudo bem, mas o hacker provavelmente já aprontou outras, a esta altura. Tenho arquivos importantes salvos no computador. Tenho e-mails de gente séria... como o Sr. Hugo Brasi, meu patrão... meu Deus! Meu Deus! - desesperou-se Wilson.
· Acalme-se. Vamos pensar - sugeriu Aline - Vou pegar umas rosquinhas.
· Eu vou olhar se há mais e-mails mandados por ele. Minha nossa! - Wilson leu outro e-mail - Ele ofendeu meu chefe! Eu não tenho mais emprego! O Sr. Brasi já andava de olho em mim, e disse que não tolerava abusos! Mesmo sendo eu somente o office-boy, com certeza perdi o emprego. Se eu pego o infeliz...
· Primeiro vamos ver se há outros e-mails...
· Achei este - disse Wilson - Foi mandado para o site de um cara, Sandro, que sempre me vendia pedras preciosas. Havia no site uma relação das pedras que ele tinha para vender e ele dizia que através de e-mails as pessoas podiam fazer os pedidos e receber em casa a pedra. Eu já comprei várias, e hoje ia estar em seu site três novas pedras, as quais eu ia comprar. Acontece que somente eu sabia que elas iriam estar no site. O cara é meu chegado, e me disse antecipadamente. Assim eu poderia entrar no site antes de qualquer um e comprá-las, hoje, assim que fossem mostradas na tela do site. Como só havia um exemplar de cada uma, eu ia acessar o site e comprá-las rapidamente. Acontece que hoje, quando eu acordei, fui acessar e as pedras tinham sido vendidas. Fiquei sem entender, pois o cara tinha me falado até mesmo a hora em que eu deveria entrar no site. Era às 11:30 da manhã. Não pensei mais nisso depois. Agora, este e-mail explica tudo.
· O e-mail dizia o seguinte:
· “Oi, Sandro, aqui é o Wilson. Acontece que não vai dar para eu comprar as pedras amanhã. Se puder, por favor, ponha somente na semana que vem. Mande-me um e-mail marcando a hora. Obrigado.”
· E o Sandro mandou o e-mail marcando a hora, Wilson - disse César - Veja. Você não tinha visto. Chegou hoje de manhã. Com esse e-mail você pensaria que as pedras estariam em rede só na próxima semana. O hacker deixou todos os e-mails salvos, tanto o da Aline, quanto os outros, para fazer você lê-los e se sentir mais irado ainda.
· Já saquei - interferiu Aline - O hacker não perdeu tempo. Quando teve acesso ao seu computador, ontem, quando você pegou o salva-telas, ele olhou os e-mails e viu que você mantinha contato com esse Sandro e que você havia combinado com ele de comprar as pedras antes de qualquer um. Além disso, ele viu os seus arquivos. Você tem um relação das pedras que possui salva no computador. Como você é afobado, escreveu nesta relação as pedras que iria comprar no site, antes de tê-las. O hacker viu que você colecionava e adorava estas pedras e, de pirraça, mandou este e-mail para o Sandro, em seu nome, dizendo que não ia mais comprar as pedras. E dizendo para o Sandro colocar as pedras no ar só na semana que vem.
· Espere aí - disse César - Se o Sandro for pôr as pedras no site na próxima semana, o Wilson pode comprar ... quando chegar este dia.
· É mesmo - disse Aline - Não havia pensado nisso.
· Já sei - disse Wilson - Vou ligar para o Sandro. Ele me fala tudo e o problema será resolvido.
· Wilson discou e o telefone estava chamando. Era interurbano. Depois de cinco minutos ele desligou.
· O que o Sandro disse - perguntou César, comendo uma rosquinha.
· Amigos - fez uma pausa - Esse hacker não é fraco não! Sandro me falou sobre os e-mails que foram trocados entre ele e o hacker. Acontece que há mais um e-mail, que não está salvo como os outros. Um e-mail mandado pelo hacker através do meu computador, e que não foi salvo.
· O que dizia este? - perguntou Aline.
· Foi mandado depois dos outros e dizia que eu, ou melhor, o hacker, tinha nudado de idéia e ia querer as pedras hoje mesmo, em vez de só na semana que vem. Assim, enquanto eu achava que ia sair no site dali a uma semana, na verdade elas saíram hoje de manhã, mesmo. E como eu não estava no site na hora certa, e sim horas depois, as pedras foram compradas por alguém e eu não as vi quando acessei. O que ele fez foi desmarcar e depois marcar de novo para hoje, esta última vez sem eu saber, porque ele não salvou o último e-mail.
· Não entendo uma coisa - disse Aline - Ele teve tanto esforço para fazer isso, e conseguiu. Mas... para quê?
· A pergunta ficou no ar. Eles não sabiam a resposta. Seria um ávido colecionador de pedras preciosas? Ou um lunático preocupado somente em se divertir no computador?
· O hacker comprou a pedra, ou não? - perguntou Aline.
· Não dá pra saber. Ele pode ter dado o nome dele para o Sandro se comprou, mas o que adianta? Não sabemos como o safado se chama.
· De qualquer jeito, vou ligar de novo e perguntar ao Sandro o nome do comprador. Mas pode ser um nome e um endereço falsos, certo?
· Mesmo assim, ligou. Um minuto depois, tinha o nome anotado.
· Então... quem é ele?
· É ela - respondeu Wilson - Suzana Yamamoto. Também me deu o endereço e o telefone. Vamos ligar? - perguntou Wilson.
· Deixe-me ligar - sugeriu Aline - Sou mulher. Posso persuadir alguém melhor do que vocês.
· Não quer dizer que teremos mesmo que persuadir alguém, mas tudo bem, Sra. Convencida. Aqui está - disse Wilson, passando o telefone a Aline.
· Ela discou.
· Está ocupado.
· Esperou um minuto e voltou a discar.
· Está chamando. Alô. Eu queria falar com a Suzana...
· Um momento... - disse uma voz.
· Logo Aline ouviu a voz de Suzana.
· Pode falar.
· Hã... - começou Aline - Oi. Aqui é a sócia de Sandro - mentiu ela, piscando para César e Wilson - Você comprou hoje uma de nossas pedras, certo?
· Hã... comprei. Hoje de manhã.
· Suzana Yamamoto?
· Certo.
· Aline confirmou o endereço, em seguida.
· Precisava verificar, sabe? - disse Aline.
· Tudo bem - respondeu Suzana.
· Bem... obrigada. Eu precisava preencher uma ficha e não tinha certeza.
· De nada. Tchau!
· Aline desligou o telefone e disse:
· Bom... ela parecia honesta.
· Disse que comprou, então?
· Hoje de manhã - respondeu Aline, pensativa.
· O telefone, na mão de Aline, tocou.
· Pode deixar - disse Wilson, pegando-o da mão de Aline - Pronto. Oi, mãe. É. Tudo bem aí? Legal. Sim, está tudo bem. Não. Não. Tá bom. Certo. Tá . Tchau.
· Onde sua mãe está, mesmo? - perguntou César quando Wilson desligou.
· Ela e o meu “pai” estão em Cancun - respondeu Wilson - Odeio chamar ele de pai.
· Você não se sente bem com ele, né? - perguntou Aline.
· Não. Pai só se tem um. Não há substitutos. E o meu pai já não está mais conosco.
· Em seguida ficaram em silêncio. Alguém bateu na porta, com muita força.. Wilson olhou pelo olho-mágico e disse aos amigos que era o síndico. E abriu a porta.
· Oi, seu Lázaro. Bom dia.
· Uma ova, Wilson. Se acha que só porque está sozinho no apartamento pode deixar o chuveiro aberto uma eternidade, está muito enganado.
· Ah... é que ontem eu estava cansado e... bem... não vai acontecer de novo.
· Ah, não? Vamos ver.
· Lázaro olhou dentro do apartamento e viu o computador.
· Você fica com este troço ligado o dia todo, não é, Wilson? - continuou o síndico - Não ganha nada com isso.
· Não incomoda ninguém - respondeu Wilson.
· Vê se anda na linha - finalizou Lázaro, soltando em seguida um grunhido pré-histórico em direção aos três. E saiu resmungando pelo corredor. Wilson fechou a porta e suspirou, balançando a cabeça.
· Bem - disse César - O que acha de irmos até a casa de nossa querida amante de pedras preciosas para... “verificar”?
· Ei! É claro! Vamos, sim! - disse Aline, entusiasmada.
· Não sei... - disse Wilson - Sair e ir lá , assim, de uma vez...
· Ah, deixa disso! Vai ser legal! - disse Aline - Você não está curioso para esclarecer isso tudo?
· Wilson parou um momento e em seguida disse, vencido:
· Certo... vou me trocar.
· Cinco minutos depois eles saíram do apartamento. O prédio de Suzana ficava razoavelmente longe, de modo que os três pegaram um ônibus. Wilson e Aline sentaram-se em um banco no fundo do corredor e César perto deles, em outro banco. O ônibus estava um pouco cheio. Então eles notaram que dois caras discutiam, lá na frente. Eram dois tipos mal-encarados. Começaram a empurrar um ao outro, e um deles, mais esquentado, chutou o outro, fazendo este cair no meio do ônibus. Eles passaram então a rolar no chão cheios de raiva, enquanto todos os passageiros olhavam, apreensivos.
· Um deles, com sangue no nariz, tirou uma arma do casaco e apontou para o outro. Começou o rebuliço no ônibus. As pessoa levantavam, corriam, tropeçavam e gritavam, enquanto o motorista continuava dirigindo, amedrontado.
· César levantou-se e fez sinal para descer. Os três foram, apressados, para a porta e saíram, junto com outras pessoas, para a rua. Observaram o ônibus andar, e quando estava quase no fim da rua, viram que uma janela era estourada, ao mesmo tempo em que ouviam tiros.
· Os três continuaram andando, impressionados, conversando, enquanto procuravam o prédio. Finalmente acharam o velho e sujo prédio, em uma ruazinha. Com três andares, era todo encardido. E não tinha nem portão. Eles se olharam e continuaram, subindo as escadas até o terceiro andar. Wilson decidiu que ele mesmo iria falar com ela , e tocou no apartamento. Depois de um tempo a porta foi aberta e uma garota japonesa disse:
· Pois não?
· Oi - começou Wilson - Hã... soubemos que comprou algumas pedras no site de um conhecido meu, hoje de manhã... o Sandro.
· Sim, eu comprei.
· Eu também coleciono estas pedras, sabe? - disse Wilson, amigavelmente - Será que eu poderia vê-las?
· Só um momento - Suzana entrou, deixando a porta aberta.
· Wilson virou-se para os amigos e disse:
· Ela não é hacker, com certeza. Provavelmente só entrou no site e comprou-as, hoje cedo.
· Concordo - disse César - É muito gente fina para ser hacker.
· Aline não disse nada, desconfiada.
· Suzana voltou, com uma caixa de papelão.
· Entrem, vou mostrar as pedras.
· O apartamento era bem humilde, com sofás gastos pelo tempo, uma televisão antiga, uma cortina velha e outros objetos velhos. Havia no chão um papel de presente amassado.
· Sentem-se. Não faz muito tempo que comecei a colecionar. Para dizer a verdade, comecei hoje mesmo. Não são lindas?
· Wilson viu as três pedras e confirmou. Eram as pedras que iria comprar.
· Enquanto os dois conversavam sobre as pedras, César olhou em direção ao corredor. Viu um quarto com um computador. Era um modelo bem simples, e em cima da mesa em que estava havia objetos e papéis organizados e algumas pastas, o que fez com que César concluísse que o computador deveria ser do pai dela. Ele devia usar para trabalho. Suzana devia mexer pouco, no computador.
· Um hacker jamais teria um computador dos mais simples, com seus papéis na mesa, bem organizados.
· Foi então que surgiu do quarto um velho japonês, que veio andando em direção à sala.
· Falou algo em japonês com Suzana, que disse a todos: - É meu pai. Se assustou com as vozes estranhas vindas da sala.
· O que ele faz? - perguntou Wilson.
· Trabalha em casa, mesmo. No computador - respondeu Suzana.
· A teoria de César estava confirmada.
· Bom - disse Wilson, levantando-se - Foi um prazer, Suzana.
· Já vão? - disse ela - Vou abrir a porta.
· Eles saíram do apartamento e viram que havia um cara no apartamento em frente à sua porta. Eles se olharam, depois o rapaz olhou para Suzana, que sorriu para ele.
· Então o rapaz entrou novamente e fechou a porta. Os quatro ouviram vindo de dentro do apartamento dele um barulho muito conhecido, o som da discagem quando se entra na Internet.
· A japonesa sorriu e disse: - Internet. Ele acessa, também.
· Foi então que César se lembrou do quarto do pai dela e disse:
· Suzana... eu posso estar sendo intrometido, mas... não há nenhuma linha telefônica no quarto de seu pai. E você disse que acessou a Internet hoje... certo?
· Ela ficou muda um momento. Depois disse, de um modo pouco natural:
· Eu... Meu pai cancelou hoje, a Internet. E ... ele... tirou a linha telefônica do quarto. Horas depois de eu comprar as pedras...
· Que coisa estranha! - disse Aline, interrompendo-a - Assim, logo cedo, tão rápido, ele cancelou a Internet?
· Ouviram um barulho de fechadura atrás deles. Era o rapaz do outro apartamento, que voltara.
· O que querem com ela? - perguntou, ríspido.
· Estamos conversando - esclareceu Aline - Com ela - Frizou bem a última palavra.
· Os vizinhos trocaram um olhar, em seguida.
· Qual é o seu problema? - perguntou Aline ao rapaz - Gosta de se intrometer?
· Eu não tenho problemas. É voc6e quem tem no momento, perua asquerosa! Digo...
· Do que me chamou? - perguntou Aline, pensativa.
· Ele disse “perua asquerosa” - esclareceu Wilson, sarcástico.
· Nessa hora os três perceberam que o rapaz tinha nas mãos uma espécie de faixa, daquela que se coloca quando se torce a mão ou o pé.
· Ora, ora - disse César - Seria tendinite, o que tem nas mãos?
· Eu soube - disse Wilson - Que o uso exagerado do teclado do computador causa isso. Mas a pessoa teria que usar muito, mesmo, o computador. Seria alguém que trabalha no computador ou até mesmo um...
· Hacker - completou Aline.
· Foi então que Wilson, perdendo a calma, se jogou contra o rapaz, indo parar dentro do apartamento dele. O outro tentou se defender, mas Wilson prendeu-o contra o chão.
· César tentou separá-los. E reparou em uma mesa no apartamento. Havia uma folha com algo escrito. Ele pegou e leu:
· “Feliz Aniversário, Suzana!
· De seu namorado que te ama há dois anos...
· Giovanni.”
· Pensou e logo concluiu. Fez com que os dois se separassem. E perguntou para Suzana:
· Hoje é seu aniversário, não é?
· Sim - respondeu - Escutem... Giovanni foi o único que pôde me dar um presente. Minha família é muito pobre. Ele sabia que eu adorava essas pedras preciosas, pois são japonesas. E combinou comigo de fazer toda esta confusão. Acessando seu computador, descobriu sobre as pedras de Sandro.
· Isso nós sabemos - disse Wilson.
· Suzana continuou:
· Ele colocou o meu nome no cadastro do site. Quando vocês viessem me procurar, eu diria que havia comprado hoje, quando na verdade foi ele quem comprou, para me dar de presente. Eu nem sequer tenho Internet. Mas, pensando que eu havia comprado, vocês não pensariam que eu era hacker, vendo como eu era e vendo o meu computador, que é dos mais baratos. Vocês pensariam que o hacker que fez aquilo nem me conhecia e teria feito aquilo só de sacanagem com você... Wilson. Assim, eu seria só uma inocente compradora, que navegava pela Internet e teria ficado fascinada com as novas pedras. Giovanni me ama... só queria me agradar - Suzana disse, ficando muda em seguida.
· Mas espere aí - disse Wilson - Seu namorado, além disso, ofendeu minha amiga e meu chefe. Eu perdi meu emprego!
· Wilson - disse César - E se o seu chefe ainda não viu o e-mail? Como ele não respondeu ainda, pode ser que nem saiba!
· É verdade - concordou Wilson - Há uma maneira de se desculpar, Giovanni. Você é hacker, certo?
· Sim - respondeu Giovanni, com certo orgulho.
· Como um bom hacker, você sabe acessar algumas redes com senha, certo?
· Algumas.
· Bem, a firma do Sr. Hugo Brasi é relativamente pequena. Deve ser fácil para você acessar a rede deles.
· Eu posso tentar.
· Giovanni - disse Wilson, sério - Você precisa eliminar aquele e-mail que mandou, ofendendo o Hugo. Nós já vamos.
· Até outro dia - despediu-se Suzana.
· Na rua, os três conversavam:
· Estou faminto - disse César - Vamos naquela lanchonete, comer algo.
· Certo.
· Mais tarde, eles se reuniram no apartamento de Wilson. O telefone tocou. Era uma chamada do exterior.
· Wilson falou com seu padrasto, que estava furioso. Quando desligou, seus amigos, curiosos, perguntaram:
· O que aconteceu?
· Meu padrasto tem um notebook que ele leva para tudo quanto é canto. Ele recebeu um e-mail, ontem, insultando-o pra valer. Está furioso - respondeu Wilson.
· Era um e-mail em seu nome? - perguntou Aline.
· Sim - respondeu Wilson.
· Quer dizer que havia mais e-mails mandados por Giovanni?
· Não - disse Wilson, quase rindo - O nosso amigo hacker não foi o culpado desta vez.
· Foi você - disse Aline, certa do que estava dizendo, enchendo a boca de batata frita.
· Claro - respondeu Wilson, tranqüilo e satisfeito, pondo uma fita de vídeo no videocassete. O negócio era aproveitar a tarde se divertindo, até a hora em que “seus pais” chegassem de viagem.





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