Noite chuvosa e melancólica, dessas que dá, apenas, vontade de nada fazer.
Saio, da escola noturna, um pouco mais cedo, mas não retomo logo o caminho de casa. Sento-me ao volante, ligo o rádio, a esmo, em qualquer estação e uma música toca... E que música...
Na emoção da surpresa, tomo um atalho, para ouvi-la melhor:
"Tão longe, de mim distante, onde irá, onde irá meu pensamento..."
Por que veio, neste justo momento de saudade, essa canção, que tanto passou a representar, depois de ti? Por quê?
Estaria meu pensamento ao teu, interligado, naquele momento? Decerto que sim!
Lágrimas teimosas tornaram-me baça a visão. Olhava para os luminosos do shopping e as luzes vinham a mim, como em sonho... Um ou outro transeunte entrecortava-me o olhar, naquela hora tardia, onde as pessoas, apressadas, procuravam chegar ao aconchego do lar. Mas eu, não. Estava ali contigo, a beber os acordes tristes daquela música suave:
"Quisera saber agora, se esqueceste, se esqueceste o juramento..."
Não me dei conta da direção que tomei, guiada somente por aquelas notas mágicas que te colocavam tão próximo...
Quando dei por mim, estava a caminho da praia. E fui, como que magnetizada, ao encontro do mar... Talvez, quem sabe, esperando encontrar-te entre as brumas, em algum barco perdido na linha do horizonte.
Mas, ao chegar, era apenas escuridão, numa noite fria de outono. Sem lua, sem estrelas, sem nada... Mas, mesmo assim, naquela imensidão de trevas, consegui, por um momento, único, ainda, vislumbrar uma gaivota branca, que voava, ao sabor da melódica saudade que me invadia o peito, naquele momento, dando-me a frágil certeza de que não mais te encontraria, a não ser na lembrança que em mim sepultaria tua imagem, doce e terna, para sempre...
O que teria causado a tua fuga? Pus-me a rememorar e veio-me à mente um "segredo". Sim!Ia contar-te um segredo... Detalhado... Que repousa, agora, no papel. Não o quiseste saber. Pensei em apagá-lo, rasgá-lo, e várias vezes tentei, sem conseguir, pois, tudo o que ali estava, já não me pertencia mais. Foi escrito para ti. É teu!
Por que embargas o meu segredo, se somente tu podes conhecê-lo? Eu deleguei-te esse poder! Preciso dizer-te...
Se é "medo" do inesperado, não te aflijas! É apenas uma "travessura de criança"; nada que nos comprometa. Mas é tão importante, para mim, que tu o saibas, que o avalies, sem afetação. Por favor, ajuda-me a pensar, para que eu melhor me conheça... É apenas um inocente segredo, que nos tornará mais cúmplices.
Talvez até te rias muito, ou fiques brabo, não sei... Mas eu preciso dizer-te! Depois, então, tudo estará perfeito, pois teremos o
"Nosso Segredo".
Saudades
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