Usina de Letras
Usina de Letras
148 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62219 )

Cartas ( 21334)

Contos (13263)

Cordel (10450)

Cronicas (22535)

Discursos (3238)

Ensaios - (10363)

Erótico (13569)

Frases (50614)

Humor (20031)

Infantil (5431)

Infanto Juvenil (4767)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140800)

Redação (3305)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6189)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Infanto_Juvenil-->Depois da aula -- 29/01/2003 - 00:25 (William Henrique Pereira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




DEPOIS DA AULA



1 - As Tribos


Eram 11:30 da manhã. O dia estava ensolarado em São Paulo e os alunos do colegial não viam a hora de saírem da escola. Era uma escola grande, na capital. A aula, de Geografia. O professor discutia animadamente a questão do subemprego com menos de meia dúzia de alunos lá da frente. O resto já não agüentava mais. Principalmente por ser esta uma quinta-feira e estar perto o fim-de-semana, esperado desde segunda de manhã.
A classe era apertada. O ventilador estava quebrado e não devido ao descuido da escola. Os próprios alunos haviam quebrado há um mês. Como em quase todas as classes de quase todas as escolas, havia diversas espécies de alunos e grupos distribuídos pela sala.
Um dos mais destacados era o do fundo. Uns dez alunos integravam este grupo, formado basicamente por repetentes, meninos e meninas. Eram os mais baderneiros. Quase não estudavam. Os professores não sabiam mais que atitude tomar quanto a estes alunos.
Havia um pequeno grupo sentado nas primeiras carteiras, conhecidos por serem os mais estudiosos e quietos. Seus nomes a maioria não sabia. Eram procurados por todos somente para a cópia da lição. Estavam sempre atentos à aula. Era meia dúzia, no máximo. E os maiores alvos das gozações.
Um dos grupos era formado somente por meninas, que fingiam ser estudiosas. Bajuladoras dos professores. Na verdade só se interessavam em competir com o visual e conversar.
Outro grupo era aquele formado por garotos desajeitados. Alguns estudiosos, outros não. Não tinham jeito com as garotas. Um grupo intrigante.
E é claro que havia muitos que não faziam parte de nenhum grupo. Um deles é César Salezzo. Um garoto esperto, com olhar observador. Tem muito conhecimento e costuma ser educado. Adora computadores.
Um de seus amigos é um dos “desajeitados”. Vladimir Mendes Paulista, muitíssimo inteligente, cheio de cultura, mas totalmente sem jeito para se relacionar com os outros. Para todas as perguntas dos professores ele tem resposta, e para todas ele engasga e gagueja.
No grupo das meninas “bajuladoras” havia uma menina com um nome muito interessante. Kelly Kelly Kello. Ela já teve diversos apelidos, como Kelly-Kelly, Ku Klux Klan, etc. O motivo do nome é que sua mãe, muito pobre, engravidou sem querer com um cliente, pois era prostituta. Nunca mais o viu. O problema é que não conseguiria cuidar de uma filha. Sentiu raiva dela durante toda a gravidez. Amaldiçoava-a. Resolveu colocar um nome ridículo na filha, como uma forma de vingança. Kello era seu sobrenome. Kelly, uma de suas amigas prostitutas. A mãe, já drogada e doente, abandonou-a aos oito anos, na rua. Dois anos depois foi adotada por um rico empresário, que a achou linda quando a viu na rua. Agora vem sendo mimada por ele, sem saber quem é seu pai e sem conhecer direito a mãe. É muito bonita e vaidosa, gosta muito de falar.
Vicente Jesus Maria é o “líder”. A classe o tem como um ídolo. Da turma do fundão, ninguém se atreve a mexer com ele e com seu nome. Baderneiro e conquistador. Forte, alto e... burro. Mas é uma boa pessoa, no fundo.
Uma das alunas da frente se chama Noemi Fujiko Narada. Filha de japoneses. Foi criada de maneira rígida, tendo sempre que honrar a família. Uma santa. Sempre sentada, quieta, imóvel, prestando atenção na aula.
Ester Gonçalves Prado nasceu no Rio Grande do Sul. Loira, bonita, muito inteligente. Tem a aparência reservada. Não agüenta injustiças. Dedicada às aulas mas não pertencente a nenhum grupo. Sua melhor amiga é Elizabete, que adora poesia.
Fabrício Otelo Júnior é o garanhão da classe. Dá em cima de todas, está sempre alegre e fazendo gozações. É da turma do fundo.
Inácio Portiolli é um garoto sério, quieto, um mistério. Muitas vezes arrogante e cínico, porém inteligente.
Fora estes existem diversas espécies de alunos na classe, mas são tantos que não vale a pena citar todos.
Finalmente o sinal bateu. O alívio aparecia agora no rosto de todos, até no de Noemi. César foi desviando das carteiras, saiu da sala e esperou por Ester. Eram grandes amigos, desde o primário. Pegavam o ônibus juntos.
E lá foram eles descendo as escadas, quando Ester disse:
· Preciso passar na secretaria. Vamos lá?
· Vamos - respondeu César. Eram inseparáveis.
· Quando chegaram lá, Kelly estava conversando com o rapaz da recepção. Parecia interessada na conversa, e quando Ester notou-a, disse para César em voz baixa:
· Eu não suporto essa galinha. Seria capaz de esmurrá-la. É muito falsa. Veja só, está puxando o saco do cara, como faz com todos os professores. Ela e as amiguinhas dela...
· César não disse nada, porque já estava acostumado a ouvi-la falar mal de Kelly.
· “Kelly-Kelly”... - resmungou Ester, olhando fixamente para a menina, que já estava indo embora.
· Kelly tinha um rosto muito bonito e não havia quem discordasse disso. Na verdade não era bem beleza. Era um rosto zombeteiro, auto-confiante, que desafiava os outros. Segundo as meninas era “cara de metida”. E na verdade, era. César nem ousava dizer a Ester que achava Kelly muito bonita, pois iria ouvir um longo discurso, que parece inveja e das boas, mas que na verdade é só a necessidade de ser igualmente valorizada, própria da personalidade de Ester.
· Dez minutos depois estavam ambos no ônibus. Falavam sobre o trabalho de História.
· Precisamos formar nosso grupo. - disse Ester.
· Pois é. - respondeu César - Com quem vamos fazer?
· Sei lá. Já não dá para formar grupos naquela classe. É tudo burro!
· Vamos chamar o Vladimir... - sugeriu César.
· Pode ser... vai ser na sua casa, né?
· É. Eu ligo para ele. Quem mais? - perguntou César.
· Ah, a Bete. - lembrou-se Ester - E podemos chamar o Inácio, aquela múmia. Não suporto a cara dele. Parece que não se abala com nada! Mas deve servir para alguma coisa, no trabalho. Duas e meia na sua casa, né?
· Isso. Até logo - despediu-se César.
· Ester desceu do ônibus e César a observou. Ela acabara de atravessar a rua correndo, quase sendo pega por um carro. Sempre fazia isso. Era afobada demais e as coisas, quando aconteciam, não deixavam ela em paz.
·
·
·
· 2 - Havia coisas acontecendo
·
·
· Eram duas da tarde quando o telefone tocou na casa de Inácio. Ele mesmo atendeu.
· Oi, Inácio, aqui é o César, da escola.
· Não houve resposta. Disse novamente:
· Inácio, ainda está aí? Alô?
· Como sabia meu telefone?
· Hã? Hã... Eu pedi para a Ana, que te conhece. Precisava falar com... Alô???
· A linha ficou muda.
· Quando, ela te deu meu telefone? - perguntou Inácio.
· O quê? Quando? Hoje mesmo. Por quê? Se tem algum problema... eu só queria saber se você quer fazer o trabalho de história comigo.
· Ah! - disse Inácio - Vamos fazer. Pode ser na sua casa?
· Duas e meia aqui, hein?
· Certo. Tchau!
· César desligou e pensou: “Que cara desconfiado...”
· Antes de receber os amigos César tinha que ir até a escola pegar alguns papéis. Chegando lá viu que muitas pessoas se amontoavam no portão da frente. Ele foi empurrando e sendo empurrado até que conseguiu chegar lá. O motivo de tanto rebuliço era uma briga entre um homem que provavelmente era pai de algum aluno e o porteiro da escola, Sr. Pessoa, uma boa pessoa. Todos conheciam-no como uma pessoa extremamente gentil, prestativa, sempre auxiliando quem quer que fosse. Já tinha seus 70 anos e trabalhava há anos na escola. O outro homem era alto, forte, peludo como um urso, pinta de caminhoneiro, com barba e bigode, uma imensa tatuagem no braço, roupas sujas e um charuto entre os dentes.
· No momento em que César estava olhando, ele acenava para outro homem dentro de um caminhão estacionado em frente à escola, como se dissesse para esperar por ele. Depois se virou para o Sr. Pessoa, que o olhava, confuso.
· O brutamontes partiu para cima dele, e foi aí que as pessoas se amontoaram mais ainda, alguns segurando, ou melhor, tentando segurar o grandalhão.
· Neste momento o professor de educação física, Marcângelo (é assim mesmo que se escreve) saía da escola e, metido a valente, como sempre, foi tentar segurar o “pai de aluno”. Quando estava perto dele, mandando-o parar, só não usando o tradicional apito porque não o tinha em mãos, tomou um soco no nariz. Na verdade o soco foi dado sem querer por alguém da multidão. Ele ajoelhou e, com o nariz sangrando e a cabeça virada para cima, entrou em desespero.
· César não sabia como reagir. Agiu por instinto. Sr. Pessoa era tão carinhoso, servira-o por tantos anos nesta escola... não podia deixar isso acontecer. Quando o grandão estava empurrando pessoas que o atrapalhavam, César abaixou, pegou um pedaço de ferro da rua e foi até o homem, entortando o ferro em sua cabeça. O homem demorou um tempo parado, mas logo depois capotou no chão. Logo chegaram outras pessoa da escola, que colocaram tudo em ordem. Sr. Pessoa, César e alguns professores entraram, para esclarecer tudo.
· Você conhece aquele homem, Sr. Pessoa? - perguntou um dos professores.
· Nunca o vi antes.
· Eu sei quem é - disse Marcângelo, que agora se juntava a eles - Aquele é Igor Jesus Maria, pai de um de nossos alunos. Se não me engano, pai de Vicente, da classe de César.
· Sim, agora me lembro - disse César - Mas por que iria atacar o Seu Pessoa?
· Por quê? Porque esta é uma atitude própria do sexo incontestavelmente inferior que é o masculino - Manifestou-se Lia, professora de Biologia. Ela era o que se pode chamar de feminista ao extremo. Não suportava qualquer idéia que menosprezasse as mulheres em qualquer aspecto. Era boa de briga. Todos sabiam que com essa não se podia mexer. Era alta, encorpada, muito bonita, se vestia elegantemente e estava com uns trinta anos. Às vezes, em sua aula, se exaltava, se empolgava, e começava a discursar sobre as vantagens de ser mulher, fugindo ao assunto da aula.
· Bem... isso não vem ao caso... Precisamos saber do que se trata - falou Marcos, o professor de Matemática. Este era um sujeito cuca - fresca. Era mineiro. Estava sempre calmo e procurando não se envolver com os problemas alheios. Era uma boa pessoa.
· César, você pode ir, se quiser. Vamos tentar resolver isso.
· Tudo bem. Nos vemos depois - disse César, saindo da sala onde se encontravam e se dirigindo à secretaria. Foi atendido por uma moça. Depois de fazer o que precisava, saiu da escola e passou pelo corpo de brutamontes, que era levado por uma ambulância. Se sentiu mal vendo o que tinha feito ao homem, mesmo sabendo que ele iria ferir Seu Pessoa. Foi caminhando lentamente até o ponto de ônibus. Demorou um bom tempo para chegar em casa, pois começara a chover forte e as ruas estavam inundadas. O trânsito, infernal. A coisa se agravava cada vez mais. Ele encontrou Ester, Vladimir e Inácio na porta de sua casa, perguntando a causa da demora.
· O ônibus demorou, oras! Com esta chuva... além disso... ocorreu algo na escola...
· Vamos entrar, lá dentro você conta. Está frio aqui - disse Ester, se dirigindo para a porta.
· O quarto de César não chegava a ser exatamente bagunçado, mas era extremamente “lotado” de coisas. Além da cama e do guarda-roupa havia o computador, o aparelho de som, o videocassete e uma porção de outros objetos. Na mesa do computador estavam os restos de um lanche de fast-food.
· César - disse Ester - Isto é o seu quarto???
· Desculpem, não tive tempo de arrumar - disse César, enquanto ligava o computador. Ele contou o que acontecera na escola naquela tarde.
· E agora eu não sei como eles resolv... - ia dizer César, quando a campainha tocou.
· Depois de alguns segundos seu irmão gritou lá de baixo ( era um sobrado ), pois era alguém querendo vê-lo.
· César disse que já voltava e desceu. Não sabia quem podia ser. Estava indo para a porta quando viu que era um sujeito que nunca tinha visto antes.
· Pois não? - disse César.
· Boa tarde. Meu nome é Fernando - disse o homem. Era um homem alto, magro, com uma jaqueta de couro caríssima, cigarro na boca e o cabelo penteado para trás, todo engomado. Tinha uma cicatriz que atravessava o nariz - Você não me conhece, mas preciso lhe pedir algo.
· César ficou esperando.
· Acontece que eu sou amigo de Igor Jesus Maria.
· César se lembrou do que ele tinha feito na escola naquela tarde. O homem continuou:
· Pois é. E eu quero o bem dele, entendeu, amigo? Só queria pedir que você não denunciasse o meu chegado. Que não dissesse o que viu. Ele não tem culpa. É muito exaltado, o meu chegado.
· Mas eu não posso ir omitindo informação da polícia deste jeito. Não quero me prejudicar - disse César.
· Você não vai se prejudicar. Eu falei com as outras testemunhas. Eles vão me ajudar. Agora só falta você. Acho melhor me ajudar, amigo - o homem sorriu e um dente de ouro reluziu contra o sol.
· Tudo bem. Eu estou ocupado, preciso...
· Aceita, então, amigo? - disse o homem, tirando uma nota de cinqüenta do casaco e dando-a para César.
· César ficou sem fala e só pegou a nota, fechando a porta em seguida.
· Ele subiu as escadas pensativo e resolveu falar com os amigos.
· Vocês não sabem o que acabou de acontecer - disse quando entrou no quarto.
· Claro, não estávamos lá - disse Inácio, cínico.
· Conte logo - disse Ester, entusiasmada.
· Ele disse o que ocorreu e todos estavam muito surpresos.
· Eu não acredito! Eu não acredito! Isso é loucura. Você não pode se meter nestas coisas... - disse Ester.
· É óbvio o que é isso - disse Inácio - É a máfia, César. A máfia. Eles pegam qualquer um. Faça o que eles estão pedindo se quiser ficar vivo. Não conte nada para a polícia e denuncie o Sr. Pessoa, ao invés do Jesus Maria.
· Eu não posso fazer isso. Que tipo de pessoa faria algo para incriminar um homem como o Pessoa? E depois, como é que fica pra mim, também?
· César - continuou Inácio - Eles não brincam. E não esquecem...
· É isso aí - disse Bete, pensativa.
· Bete! O que deu em você? - surpreendeu-se Ester.
· É sério, Ester - disse Bete - Os meus avós antigamente faziam parte de um clã que era parecido com a máfia, o crime organizado. Eles executavam atividades ilegais, traficavam drogas, se metiam em vinganças sangrentas... é terrível, mas minha família era assim. Se eles eram assim, imagina os criminosos de hoje! César, escuta o que eu estou falando.
· Ester balançou a cabeça negativamente.
· Não dá pra saber se eles são mesmo criminosos... - disse Vladimir, pensativo.
· Já sei - disse Ester - Por que nós não vamos até a escola e não falamos com os professores? Precisamos ver se eles realmente vão ajudar o Igor. Aquele brutamontes.
· Boa idéia - disse Inácio - Mas eu tenho quase certeza de que os professores caíram nessa também, porque não são estúpidos e não recusariam dinheiro algum.
· Eu vou ter que voltar para casa - disse Vladimir - Preciso ir com o meu pai na oficina. Depois falo com vocês para ver no que deu.
· Eu também vou ter que voltar - disse Bete.
· Então vamos - disse César, vestindo o casaco e saindo do quarto.
·
·
·
·
· 3 - Averiguação
·
·
· Quando César e os outros chegaram na escola já estava quase na hora de fechar. Passaram pelo portão e lá estava um grupo de alunos, entre eles Kelly Kelly. Ela cumprimentou César, que também acenou, e este percebeu que ela estava fumando. Não gostou de ver aquilo. Ela era tão bonita, tão capaz, e estava se destruindo. Outras pessoas também fumavam.
· Entraram. Resolveram falar primeiro com Marcângelo. Ele estava na sala dos professores, e quando saiu, Ester pediu para falar com ele. Ele concordou e eles foram para a cantina. Lá estava Fabrício, o conquistador. Estava comendo e prestando atenção nos colegas.
· Podem falar - disse Marcângelo.
· É um assunto complicado, o senhor provavelmente já está por dentro de tudo.
· Marcângelo se calou e olhou para um ponto no infinito.
· Eu já sei o que é. Vocês vieram falar de Igor, pai de Vicente. Olhem, para vocês entenderem isto vocês vão ter que aceitar o que talvez não seja muito justo. Nós não podemos denunciar ele. Fernando provavelmente tem superiores mais poderosos e estas pessoas precisam dos serviços de Igor, entre outros.
· Mas eu não entendo - disse Ester - Por que Igor iria bater no Sr. Pessoa, meu Deus?
· O senhor Pessoa provavelmente está envolvido com drogas - soltou Marcângelo, fazendo uma longo pausa diante do susto dos alunos.
· Nem pensar! - disse César - Eu estudo aqui há anos e...
· Não importa. Às vezes as pessoas cometem loucura por algum motivo, e foi o que aconteceu com Pessoa. Quero que vocês digam que não vão dizer nada contra Igor.
· Nos vemos depois - respondeu César, virando-se e indo embora seguido dos outros.
· Marcângelo começou a ter um ataque de espirros, como sempre acontecia quando ficava nervoso.
· Os alunos foram indignados para a sala dos professores e encontraram Lia, professora de Biologia. Ela estava sentada na mesa e sorriu ao vê-los.
· Oi... o que fazem aqui à tarde? - perguntou ela.
· Na verdade, precisamos falar com você, Lia - disse Ester.
· Claro. Podem falar.
· Bom... - começou César - Você sabe sobre o que vamos falar. É uma coisa séria. Você recebeu a visita de um homem em sua casa hoje, não recebeu? Um tal de Fernando?
· Fernando? - perguntou ela - Não... Por quê? - perguntou ela com cara de desentendida.
· Não?! - impressionou-se César - Hã... você estava aqui hoje à tarde quando aconteceu tudo aquilo, não estava?
· Sim...
· Professora... esquece que a gente veio aqui - disse César, saindo da sala e empurrando todos para fora.
· Ela ficou com uma cara ainda mais confusa.
· Lá fora eles conversavam.
· Já saquei tudo - disse Inácio - É impressionante...
· Não temos certeza de nada, ainda! - disse César.
· Certeza do que? Não entendi - disse Ester.
· A máfia vai mandar alguém apagar a Lia, é isso o que vai acontecer - disse Inácio.
· Ester - disse César - Você conhece a Lia. Ela é meio feminista, não é? Tendo isso em mente, ela seria a primeira a denunciar Igor, porque não suportaria uma injustiça destas. Além disso nunca seria subornada, muito menos por um homem. Pois bem, por que motivo Fernando não tentaria subornar a Lia e sim os outros professores? Porque ela é difícil de se controlar. Então a solução provavelmente vai ser eliminar a Lia.
· Meu Deus, o que está acontecendo? - disse Ester, indignada.
· Isso é normal - disse Inácio - Estes caras sempre agem assim...
· Cala a boca! - gritou Ester - Você precisa parar de ser tão insensível, seu animal!
· Nesta hora vinha se aproximando Kelly, que quis saber o que estava acontecendo.
· Não é nada, sua metida - respondeu Ester.
· Calma - disse César - Kelly, é uma coisa muito sigilosa... com a qual não sabemos o que fazer.
· Por acaso tem a ver com o Davi? - perguntou Kelly.
· Quem é Davi? - quis saber Inácio.
· Ele e um tal de Fernando foram hoje até a minha casa... e tentaram me subornar. Eu fiquei sem opção. Eu estava aqui também quando houve a confusão. Mas já estou acostumada, porque quando eu morava com a minha mãe ela passava por situações parecidas.
· Quer dizer então que mais de um deles está agindo... - disse Inácio - Como era esse Davi, Kelly?
· Ele era mais baixo que o Fernando. Era mais forte, também. Tinha o cabelo cheio de gel, para trás, usava óculos escuros e um casaco comprido. Era muito sério. Usava costeletas e toda hora estralava os dedos. Fernando era bem mais descontraído.
· Em seguida César contou a Kelly tudo o que havia acontecido. Foi então que Fabrício chegou e abraçou Kelly. Ela sorriu e disse:
· Nós estamos namorando.
· Ester não agüentava aquilo. Achava nojento.
· Ela vai contar tudo para o “namorado dela” - disse Ester em voz baixa para César.
· Se ele for um pouco esperto, não vai contar nada para ninguém - respondeu César.
·
·
·
·
· 4 - Situação de pânico
·
·
· César, à noite, estava em casa e não se sentia nada bem. Tinha um problema grande envolvendo-o e não sabia se contava para os pais, ou para a polícia. Ficou matutando na cama um bom tempo e o pânico crescia cada vez mais.
· O dia seguinte era um Sábado. Isso o deixava com uma sensação de desespero, porque não poderia apurar nada da situação. Não poderia conversar com os professores, e provavelmente não seria possível ver os amigos. Quando estava quase pegando no sono, veio algo em sua cabeça. Decidiu que, se fizesse tudo como os criminosos mandavam, provavelmente não teria problemas. O único porém era denunciar Pessoa, no que ele não suportava pensar. Seria horrível.
·
·
·
·
· 5 - Interrogatório
·
·
· Na manhã de Sábado, quando estava sozinho em casa, recebeu a visita de um policial, que queria lhe fazer algumas perguntas. O policial era meio arrogante.
· Bom dia - disse ele - Quero que responda algumas perguntas, filho, que conte o que viu naquele dia em que houve a briga em sua escola.
· Certo - respondeu César, desanimado, porque não sabia ao certo ainda quem iria defender.
· Você sabe, pelo que viu, quem começou a briga?
· Sim... quer dizer... eu acho que sim.
· Quem foi? O porteiro ou o grandalhão?
· Foi o porteiro... digo, o caminhoneiro! - César não sabia o que dizer. O policial olhou para a cara dele, com dúvida.
· Você sabe ou não? Qual dos dois?
· Foi o caminhoneiro. Tenho certeza.
· Certeza absoluta?
· Tenho.
· Você viu ele agredir ferozmente o porteiro?
· Vi. Ele atacou o Sr. Pessoa, não sei por quê.
· Você não faz idéia de qual possa ter sido o motivo?
· Não, o Sr. Pessoa não teria inimigos - respondeu César, com certeza.
· E se eu lhe dissesse que, após a averiguação da polícia, foi achada, no quartinho de limpeza do Sr. Pessoa, uma grande quantidade de droga escondida? Heroína.
· César sentiu os sentidos irem embora, a visão fraquejou, não sabia o que dizer.
· Cocaína? Eu nunca imaginaria que...
· Certo - interrompeu bruscamente o policial - Há mais alguma coisa, qualquer coisa que possa ter achado estranho, que quer acrescentar?
· Não. Não há... - respondeu César. O policial acenou com a cabeça e foi embora pela porta, que estava aberta.
· César ficou imaginando o que o Sr. Pessoa estaria fazendo com toda aquela droga. Não poderia ser um viciado. E nem estar traficando, pois estava satisfeito com seu emprego.
· Decidiu ligar para Ester. Contou o que estava acontecendo. Ester foi até sua casa. Não podia acreditar naquilo.
· O que fazemos, agora? - perguntou César, aflito - Se aqueles caras forem mesmo bandidos, vão querer me pegar.
· Eu não tenho certeza - disse Ester - Inácio pode ter exagerado, também. Não sei.
· Vou ligar para Inácio, Vladimir, Bete e Kelly... - disse César.
· Não acredito que vai atrás dessa piranha. Maldita hora em que ela quis saber o que estava acontecendo.
· Agora já foi - disse César, discando - Precisamos contar a eles o que está havendo.
· Meia hora depois, estavam todos em uma lanchonete, reunidos, comendo algo. Pensavam.
· Eu disse, César. Eu tinha razão, para variar - disse Inácio, mordendo um enorme sanduíche - Agora você vai ter que passar a vida toda se escondendo.
· Cala a boca, Inácio! Você só sabe dizer exageros! - disse Ester.
· Olha, a melhor coisa que você pode fazer agora - disse Bete, tomando refrigerante - É contar aos seus pais e à polícia a verdade, e ficar trancado na delegacia sob a vigilância da polícia.
· Não - disse César - Precisa haver um fim melhor para esta situação. Isso já se espalhou por tudo quanto é canto, já é notícia. Todo mundo já sabe. E os professores disseram que o Sr. Pessoa é culpado. Menos eu. Se pelo menos alguém mais que estava lá estivesse defendendo o porteiro...
· Eu estava lá e defendi ele - disse Kelly, sorrindo - Recebi a visita de um policial ontem à noite.
· Mais uma que vai virar presunto - disse Inácio.
· Cala a boca, Inácio - disse Ester, colocando o adoçante no suco.
· Eles todos estavam perdidos nesta situação. Não tinham idéia do que fazer agora.
· Já sei - disse Vladimir - Por que não vamos até a casa da Lia? Precisamos avisá-la do que vai acontecer com ela.
· É isso aí - disse Inácio - Senão os mafiosos chegam antes e furam ela inteira.
· Vladimir foi até o balcão e pediu ao homem uma lista telefônica. Depois voltou à mesa e, junto com os amigos, começou a procurar o endereço de Lia. Acharam o telefone.
· Ester foi telefonar para ela no telefone da lanchonete e cinco minutos depois voltou, dizendo que não tinha ninguém na casa dela, pois a secretária fora acionada.
· Eu tenho certeza que os caras já passaram por lá e a capturaram - disse Inácio.
· Eu sugiro ir agora mesmo até lá. É importante - disse César.
· Eu concordo - disse Bete.
· Bom - disse Ester - Nem adianta eu discordar.
· Vladimir - disse César - Copia o endereço num papel e vamos.
· A casa da professora de Biologia era um pouco longe, e depois de vinte minutos de ônibus eles chegaram.
· Ela pode ter só saído, afinal, hoje é Sábado - disse Ester, quando estavam na frente do portão da casa, que era enorme.
· Fabrício estava junto, e disse:
· Vamos logo, vamos entrar!
· Ele forçou o portão, que estava destrancado. Caminharam até a porta. Quando viram que esta também estava aberta, estranharam.
· Meu Deus! - disse César - Se está tudo aberto...
· Eles entraram e viram que a sala estava em completa desordem. Como se tivesse ocorrido uma briga há pouco tempo.
· Andaram mais. Não havia ninguém mesmo, na casa. Na cozinha, viram que o fogão estava ligado. Foi aí que tiveram certeza... ela estivera cozinhando, e nesta hora devem ter chegado os bandidos.
· Não pode ser... - disse Ester - Inácio tinha razão...
· Vou desligar o forno - disse Bete. Depois olhou dentro da panela que estava no fogo e viu que a comida ainda não estava pronta. Isso só podia significar uma coisa... que a briga tinha ocorrido há pouco tempo...
· Deve ter sido uma meia hora atrás - disse César.
· O que fazemos? - perguntou Vladimir.
· Não faço a mínima idéia - respondeu César, sentando-se em um sofá.
·
·
·
·
· 6 - É a máfia
·
·
· Sabatini e Bonadelli estavam jogando cartas. Matando o tempo. Na mesa, uma garrafa de vinho tinto e suas pistolas carregadas ao lado. Sabatini estava irritado. Queria receber logo seu dinheiro, mas o chefe não lhe dava há uma semana. Quando ele ficava irritado, sua enorme cicatriz no rosto coçava. Ardia. E às vezes até sangrava.
· Mas que droga! O chefe não me paga este maldito salário, Genaro! O que eu faço, agora? O que eu faço?
· Eu não sei, Sabatini... só sei é que você não devia reclamar e questionar o chefe, entendeu? Ele não gosta disso, você sabe muito bem - disse Bonadelli, apagando o cigarro.
· Se eu fiz o serviço, ele deve me pagar! É a norma no nosso ramo! Não tem desculpa... não importa que ele é o chefe... eu preciso comprar sapatos novos, você sabe! Mas ele disse que só paga quando acabar “esta etapa”. Mas que raio de etapa é esta, Genaro, que dura meses e meses?
· Esquece isso um pouco, Sabatini. Me diz, como foi lá, com os banbinos? Que nome você deu a si mesmo?
· Ah, eu me chamei de Fernando. O nome de meu avô, você sabe. Eu acho que esta parte nós cumprimos da maneira certa...
· Claro. Eles têm medo, isso é certo. A cara deles é sempre de espanto. Não ousariam ir contra a gente, não mesmo!
· Há alguém batendo na porta... - disse Sabatini, levantando-se - Já volto. Não vai roubar as cartas, hein, Genaro? Não rouba! Eu estou de olho!
· Sabatini foi atender a porta e viu que era um de seus parceiros. Franco Frantini, também da máfia. Homem extremamente violento e sanguinário. Degolava suas vítimas, com o maior prazer. Tinha as feições calmas, manhosas, vagarosas, era alto, forte, estralava os dedos a todo minuto. Devia ter uns cinqüenta anos, era um dos capangas mais velhos. Todos o chamavam de “Papa”.
· Ah, “Papa”, o quer aqui, caro parceiro? - perguntou Sabatini.
· Em primeiro lugar, me chame pelo meu nome, porque eu não sou seu papa, belo! Segundo, porque você bem sabe que ele não gosta de que me chamem assim.
· Ele quem, não gosta?
· Ele.
· Ah, “ele”...
· É... “ele”... - completou Franco, olhando para Sabatini gravemente - Porque, se há um “Papa” entre nós, esse alguém é “ele”... e não eu... fui claro, belo?
· Claríssimo... mas o que veio fazer aqui? Por que não está com Murilo?
· O Murilo não está mais comigo, belo - respondeu Franco.
· Como assim, não está? - perguntou Sabatini - Trocou de parceiro?
· De certa forma, belo. O parceiro do Murilo agora é nosso Dio Santo, entendeu, belo?
· Quem matou o Murilo, Franco? - perguntou Sabatini, em desespero.
· Calma, belo. Deixa eu entrar que eu conto tudo para você e para o nosso Genaro que está sentado ali e que não está participando do papo.
· Ele entrou e foi sentar-se na mesa em que estava Genaro, depois de cumprimentá-lo. Franco, devido à idade, tinha dificuldade para se sentar, e soltava um longo gemido que terminava em um suspiro, quando o fazia.
· O que aconteceu? - Perguntou Genaro.
· O Murilo andava com um monte de problemas nestes dias, entende, belo? Ele não conseguia largar aquele maldito vício que o dominou já há um ano. E você sabe como o “Papa” é, não sabe? Ele não gosta nem um pouco disso, porque atrapalha todo o negócio, entendeu? O pobre Murilo foi apagado para que fossem evitados futuros imprevistos. E você sabe o que eu acho? Eu concordo com o “Papa”, belo!




7 - Hora de tomar um rumo

· Esperem um pouco - disse Ester - Pensem bem, seus tontos! Como é que podem parar para pensar em uma questão tão óbvia como esta? Abram os olhos! Isso é um assunto muito sério, se não perceberam.
· Com quem você pensa... - começou Kelly.
· Ainda não acabei, sua metida. Para começar, parem imediatamente com esta história, ou melhor, palhaçada imaginativa sobre a tal de “máfia”. Não percebem a estupidez que dizem? Se alguém seqüestrou a Lia, foram seqüestradores muito dos mal encarados, se não forem pé-rapados. Máfia não existe, seus palhaços! Pensem como pessoas do mundo real, da nossa realidade, e não como Francis Copolla... Podem ter existido os tais assassinos, mas não aqui e nem nos dias de hoje... E outra! Nós não temos nada que nos meter nisso, é assunto policial. Estamos mexendo com nossas vidas, se não perceberam. Um bando de pivetes não tem nem idéia do que se trata e tem como dever procurar as autoridades. Mas se preferem ser acusados de omissão de informação...
· Eu acho que você deveria me respeitar, sua... - disse Kelly.
· Espera aí, vocês duas! - interrompeu Inácio - O que ela disse é a pura verdade... Deixar de contar à polícia por pura curiosidade é muita cara-de-pau...
· É... - disse César, pensativo - Bom, vamos sair logo daqui. Se alguém nos vir aqui, vocês já sabem...
· Todos deixaram a casa e se sentaram na calçada. Ester estava impaciente.
· O que estão esperando para ir à polícia? - perguntou ela.
· Nós estamos caindo em um caminho perigoso e disfarçado sob uma máscara que não se parece com a realidade, e sim com a fantasia criada pela cultura da ficção realmente influenciável que vivemos... - disse Vladimir, com clareza.
· Não poderia ter dito melhor, Vladimir - disse Ester, olhando em seguida para César, que estava dividido entre dois potentes imãs, ambos muito atraentes. Um o seduzia com o prazer da louca aventura... o outro o puxava, racional, para a realidade que prometia ser mais segura e confiável. Ele queria agir com justiça e sabedoria... mas não conseguia.
· César somente disse, decidido:
· Eu quero pôr a nossa situação a limpo...
·
·
·
· 8 - Quando a verdade se transforma em... trabalho escolar!
·
·
· Inácio bateu três vezes na porta da sala do delegado, que estava fechada. Os amigos, atrás, aguardavam, junto com um policial.
· A porta foi aberta por um sujeito mulato, muito alto, magro, porém corpulento, que vestia uma camiseta e uma bermuda, ambos coloridos, e chinelos. Tinha pinta de malandrão, e ficou olhando para todos eles.
· Fala, grande! - falou para Inácio, mantendo a porta meio encostada.
· Ghrunn... - Inácio limpou a garganta, e disse: - É sobre uma pesquisa escolar, nós precisávamos falar com algum policial que pudesse responder algumas...
· Que tipo de pesquisa? - perguntou o mulato.
· É sobre o trabalho do policial hoje em dia, as tendências... - começou César.
· Sei. Precisam falar com o delegado? Não pode ser eu?
· Você?! - espantou-se Kelly.
· Uma voz vinda de dentro da sala disse alguma coisa.
· Pode não parecer, mas eu sou policial, guria. Entra aí, vai!
· Inácio, César e Kelly, os únicos que haviam entrado na delegacia, andaram até a sala e viram que lá estava o delegado, sentado atrás de sua mesa. Era um brutamontes, fumava cigarro e encarou os três. Havia ainda outro homem na sala, também com camiseta e calça jeans, com um controle remoto na mão. Usava-o no vídeo, que estava sob uma televisão na parede. Ele congelou a imagem e disse para o delegado:
· É exatamente isso que a gente ficou olhando um tempo depois dos caras irem. O dono da loja ficou aterrorizado mesmo depois de saber que estávamos indo atrás dos caras. Olha a cara dele! Na hora eu não liguei, mas... presta atenção, o cara parece estar sob ameaça, eu não sei... - em seguida continuou rodando o vídeo.
· Espera aí - disse para ele o delegado, virando-se novamente para César e dizendo: - Pode falar...
· Como ele falou - disse César - é uma pesquisa escolar sobre os trabalhadores públicos... precisamos entrevistá-lo.
· Manda ver, chefia! - disse o mulato, tirando sarro - O herói da nova geração... delegado Moreira!
· Fica quieto! - respondeu o delegado, não gostando da brincadeira - Tudo bem, se for rápido... pode ir falando...
· Ótimo, será rápido - disse Inácio, começando as perguntas: - Como o senhor acha que estão as condições financeiras, em geral, do policial brasileiro de hoje?
· Seguiram-se outras perguntas deste tipo, que foram respondidas com clareza pelo delegado. Os outros dois policiais observavam.
· Chegou então o momento de interesse:
· Delegado - disse Inácio, fazendo uma pausa - Quais as espécies de bandido com os quais vocês lidam hoje em dia? São em geral assaltantes, seqüestradores, etc., ou há criminosos de gravata, ou seja... o crime organizado?
· Olha... não se iludam com a ficção que existe em torno do crime organizado. Sim, há esta espécie de crime, há alguns grupos aqui na América Latina, que trabalham com tráfico de drogas. São muito audaciosos, agem com cautela e dificilmente são pegos. Tem técnicas superiores aos bandidos que estamos acostumados a ver na televisão. Não são simples vagabundos. Eles têm toda uma fachada que garante suas operações sem que ninguém desconfie.
· Existe a possibilidade de a máfia ainda existir? Digo... grandes famílias mafiosas, como acontecia décadas atrás? - Inácio esperava que o delegado fosse rir.
· A máfia já teve seu tempo, mas ainda existem alguns casos em alguns países, sim. Na Europa ou nos Estados Unidos, por exemplo. Mas toda aquela tradição que havia em torno deles, em especial da máfia italiana, parece já ter acabado.
· E quanto ao Brasil, delegado? Poderia existir a máfia brasileira? - Inácio suava.
· Não posso entrar em detalhes sobre os casos que enfrentamos, garoto. Quem vai ler isso aí?
· Só a nossa professora... e o resto da classe - respondeu César - Pode confiar na gente.
· Não é bem assim, garoto. Bom... se eu tenho que dar uma resposta...
· Sim? - Inácio estava na expectativa.
· Há mafiosos em operação no nosso país, sim. Não posso entrar em detalhes - o delegado desviou de leve a cabeça em direção à televisão, que rodava mais uma vez o golpe a uma loja. Voltou a cabeça em seguida, e olhou para eles, como se dissesse que nada mais iria falar.
· Espero ter ajudado vocês com o trabalho. Tenho o que fazer aqui, se não perceberam. Bom dia.
· Os dois policiais levaram os três jovens para fora da sala. No corredor havia um banco, e nele estava sentado um homem carrancudo com um policial ao lado. Quando os dois policiais voltaram para dentro da sala e fecharam a porta, os três olharam para o sujeito. Era alto, olhos e cabelos negros, pele branca e um nariz aquilino. Tinha olheiras e usava o cabelo para trás, empastado de gel. Vestia um terno preto, o que era muito estranho. Estava algemado. Parecia estar muito bravo, e não parava de dizer palavras de ódio para o policial, em italiano.
· César olhou com mais atenção e descobriu que já havia visto aquele homem antes. Era o homem do vídeo.
· Os dois se levantaram e foram para outra sala. César, Kelly e Inácio foram obrigados a sair da delegacia.
·
·
·
· 9 - Vicente e a japonesa
·
·
· Eram cinco horas da tarde, no Domingo. Os pais de Noemi estavam desorientados. Ela, que sempre fora a aluna mais devotada da classe ou até mesmo da escola inteira, estava agora diante da necessidade de dar uma explicação aos pais. Estes, sérios, olhavam-na, esperando que dissesse algo. Estavam os três sentados na sala decorada ao estilo japonês. A sala era quase escura, tinha a iluminação de dois abajures japoneses. A cortina que dava para a rua estava fechada. Havia um gongo, também. Era uma sala confortável, mas conforto era o que Noemi não sentia naquele momento.
· E então, Noemi? Como pretende explicar isso? - perguntou o pai, em japonês.
· Vamos, Noemi - disse a mãe.
· Eu... não posso dizer. Desculpe - disse Noemi, cabeça baixa.
· Escute aqui, Noemi - começou o pai - Eu venho de uma honrada linhagem de japoneses cuja origem é tão antiga que eu mesmo desconheço. Durante séculos, estas famílias têm se comportado da forma mais plausível possível, evitando qualquer espécie de escândalo ou reviravolta. Eu me orgulho disto. Escute bem... Quando meu pai morreu... - Hiroshi fez uma pausa de constrangimento - velho e cansado... me disse algo. Foram suas últimas palavras. Ele disse que tinha orgulho do que tinha criado, e que o único motivo de estar morrendo feliz era por estar completamente satisfeito e realizado com a família que tinha criado. Eu fazia parte desta família. Por isso, ele disse também que eu tinha o dever de agir igual e honrá-lo, continuando a nossa linhagem com respeito e orgulho. Jurei para ele, naquele momento, ajoelhado ao lado da cama dele, segurando a mão dele... que faria o que ele mais me pedira... educar meus filhos.
· A mãe de Noemi bocejou duas vezes seguidas.
· A voz de Hiroshi se tornou mais explícita e determinada:
· Noemi, você deveria saber que quando eu pergunto algo, você tem a obrigação de responder.
· Então a voz se tornou extremamente severa, e Hiroshi começou a cuspir, vermelho:
· Então, sua idiota, como eu lhe fiz uma pergunta, eu não espero que você me diga nada senão a maldita resposta! - Hiroshi deu uma pancada no gongo, que soou pela casa inteira - Aonde você estava esta tarde? Por que chegou às cinco horas, Noemi?! Fale! Na época de sua mãe, ela não podia sequer pôr o pé para fora de casa!!!
· Desculpe! Desculpe! - gritou Noemi, chorando.
· Em seguida disse que levaria os pais ao lugar em que estava naquela tarde.
· Chegaram. Era um apartamento. Hiroshi tocou a campainha. Um brutamontes veio atender. Era invocado, e perguntou:
· O que quer, japa?
· Eu soube que a minha filha esteve aqui hoje, senhor. Posso saber do que se trata?
· Nunca vi mais gorda. Não conheço ela - disse o homem, soltando um arroto.
· Mas ela esteve aqui! - gritou Hiroshi.
· Só o meu filho estava aqui hoje à tarde, cara! Vou chamar ele.
· Eles esperaram na porta do apartamento. Noemi chorava, e sua mãe a abraçava.
· O homem voltou em seguida, trazendo seu filho, que não era ninguém menos do que Vicente Jesus Maria...
· Vai, filho, vê se cê conhece a japa... - disse o homem que, dias antes, arranjara a confusão na escola, com o porteiro, Sr. Pessoa.
· O rosto de Vicente se transformou. Entrou em pânico, por dentro. Não sabia o que fazer. Começou imediatamente a suar, e Hiroshi insistiu:
· Minha filha disse que esteve aqui, esta tarde. Gostaria de saber por quê.
· Ghaf - Vicente se engasgou.
· Vai, moleque - disse Jesus Maria - Responde.
· Responder o quê?
· Senhor - disse Hiroshi, sério - Há alguma coisa de errado.
· Ela esteve aqui? - perguntou a mãe de Noemi para Vicente.
· S-sim... - disse ele, com medo.
· Eu falo, Vicente - disse Noemi, ainda chorando.
· Todos ficaram em expectativa, e Noemi abriu a boca.
· Eu estou grávida, papai.
· Hiroshi desmaiou.
·
·
·
·
· 10 - Reunião com o “papa”
·
·
· Os cinco homens entraram na imensa sala que servia de escritório para o seu chefe. Os homens eram capangas, e o chefe, o “capo”, o chefão, o “Don”.
· Três dos homens já são conhecidos. Sabatini, Genaro e Franco. Os outros dois são Castellari e Calado. Giulio Castellari era um dos homens mais importantes no império do crime. Cuidava dos negócios, mantinha as empresas que serviam de fachada, viajava muito, garantia o sucesso das operações.
· Calado tinha este apelido porque não falava quase nada, só agia. E agia com grande eficiência. Era italiano puro, e se chamava Bruno Bronzelli. Na sala também estavam as duas auxiliares do chefão. Ana Paula cuidava de seus papéis, enquanto Roberta tinha a tarefa de dar prazer a ele.
· O chefão era Lorenzzo Saprieri. Um homem de estatura média, corpulento, de seus cinqüenta e tantos anos. Tinha os olhos negros, cabelos muito bem penteados e com uma mecha branca no lado. Tinha olhos vingativos e penetrantes. Olhar fixo, reflexivo. Um olhar que intimidava. O nariz era pontudo e a boca, uma meia lua com a concavidade para baixo. A posição da boca não mudava, pois ele nunca sorria. Quando falava algo, falava alto, claro e com desprezo. Era um pouco rouco, mas não era uma rouquidão ao estilo de Marlon Brando, e sim mais grossa e feroz. Chegava a incomodar. Mas ninguém se atrevia a dizer que incomodava.
· Mãos grandes e peludas e sempre imóveis. Não tinha o hábito dos italianos de falar gesticulando. Era reservado e objetivo. Fumava muito, e bebia sempre o melhor dos vinhos.
· Tinha dois filhos e uma filha que trabalhavam na Saprieri Tec, a empresa que servia de fachada. Preferia não envolvê-los diretamente no crime. Trabalhava com tráfico de drogas, especialmente cocaína. Também havia armas, cassinos por toda a América Latina e mulheres. Além disso possuía muitas das pizzarias, lojas e padarias no território brasileiro.
· Lorenzzo mandou todos se sentarem, e pegou mais um cigarro. Mandou todos se servirem de vinho, e assim o fizeram, exceto Sabatini, que ficou esperando os outros se servirem.
· Não vai tomar, Sabatini? - perguntou Lorenzzo com o vozeirão.
· Não, obrigado, senhor.
· Por que não? - perguntou Lorenzzo, se virando para ele.
· Não estou com vontade, obrigado.
· Você está dizendo que não quer vinho? Está recusando algo que estou lhe oferecendo?
· Não é isso... quer dizer, é sim.
· Você se acha bom o suficiente para que eu respeite sua vontade, Sabatini? - perguntou Lorenzzo, franzindo a testa.
· Não, senhor.
· Quando eu digo para vocês fazerem algo, seja a porcaria que for, vocês são obrigados a fazer, seus merdas! Entenderam?!
· Você pode me pagar em dinheiro o correspondente ao vinho que não bebo, senhor. É melhor - disse Sabatini, vermelho. Logo se arrependeu de ter dito isto. Um grave erro.
· Todos os homens olhavam com medo para Lorenzzo e para Sabatini. Lorenzzo deixou o copo na mesa, apoiou o cigarro no cinzeiro e, cuidadosamente, se levantou. Andou vagarosamente, porém resoluto, ao lado da mesa. A mesa era realmente comprida, e só se ouvia na sala o som de seus passos. Ia se aproximando de Sabatini, que suava e tremia. Estava amedrontado. Lorenzzo parou ao seu lado. Pegou a garrafa de vinho.
· Você não quer, Sabatini? - perguntou o chefão.
· D-desculpe-me, senhor. Eu aceito...
· O quê?! Mas não tinha dito que não queria? - perguntou Lorenzzo sério, olhando para todos os presentes.
· Eu... aceito, sim, senhor.
· Então, beba - Lorenzzo chacoalhava a garrafa, quase cheia, em cima de Sabatini, deixando o vinho cair sobre ele. Escorria pelos cabelos.
· Está bom? - perguntou Lorenzzo - É tinto, como não vai estar bom? Aproveite, pois é caro! E está saindo mais caro ainda para você, seu bosta! - O vinho acabou, e Sabatini estava ensopado.
· Lorenzzo pôs a garrafa na mesa. Sabatini se levantou, enfurecido, e, a passos fortes, foi andando em direção à porta. Lorenzzo, vendo que ia escapar, fez um sinal com a cabeça e Bruno saiu correndo até alcançar Sabatini. Trouxe-o até Lorenzzo, que mandou Bruno se sentar.
· O chefão segurou o coitado pelo braço e com a outra mão pegou o saca-rolhas que estava na mesa. Tirou a rolha, que estava presa, com os dentes, e segurou-o como se fosse uma faca.
· Sabatini, desesperado, ia protestar, mas Lorenzzo começou a girar o instrumento na palma da mão dele. O homem entrou em pânico e ajoelhou-se no chão, chorando. O chefão chutou-o no estômago várias vezes, fazendo-o permanecer deitado no chão. Ele cuspia sangue.
· Desgraçado, está sujando meu tapete persa! - gritou Lourenzzo, enfurecido - Pare de cuspir, idiota! Você gosta de cuspir? Pois veja como é!
· Lorenzzo cuspiu nos olhos de Sabatini, que estava quase sem sentidos.
· Você reclamou do atraso do pagamento? Você quer o seu dinheiro? Pois bem.
· Enfiou a mão no paletó preto e tirou um maço de dinheiro. Abaixou-se perto do infeliz e entrouxou tudo dentro da boca dele, tão fundo que provocava ânsias de vômito nele. O mafioso se levantou, virou as costas para o corpo caído, e quando ouviu uma tosse sufocada vinda de trás, parou, e, enquanto se virava, sacou a pistola que também guardava no paletó. O pente foi esvaziado em segundos, um tiro atrás do outro, em Sabatini, e nenhum foi desperdiçado, apesar de Lorenzzo ter atirado à medida que se voltava, tamanha era sua mira e precisão.
· O sangue respigou todo pelo tapete e no rosto de Franco, que se limpou devagar com um lenço.
· O chefão olhou para todos eles, agitado, indo se sentar e resmungando:
· Ele vem com essa merda pra cima de mim! Recusa meu vinho, me ofende e vem sujar a minha casa, esse traste! Vamos começar essa bosta logo, vai.
·
·
·
·
· 11 - Confusão
·
·
· Noemi era sacudida por sua mãe, que se revezava nela e em seu pai, desmaiado.
· Vicente também era sacudido, embora com mais violência, por seu pai.
· Miserável! Irresponsável! Acha que pode cuidar de um filho sozinho, idiota? Só me traz problemas e agora me vem com essa! O caramba que eu vou aturar um neto! Você trate de enfiar na cabeça destes japoneses que ela vai abortar!
· Não vai abortar nada! - gritou a mãe de Noemi - Isso é crime!
· Sua...!
· Nessa hora Hiroshi acordou, e começou a enlouquecer, gritando em japônes. As portas dos apartamentos vizinhos se abriram, e todos observavam, curiosos. O que deveria ser abafado e tratado com cuidado já era de conhecimento do andar inteiro, que não parava de comentar.
· Veio gente de outros andares, outros prédios do mesmo bloco, prédios de outros blocos e casas também. Chegou o português da padaria. O tumulto crescia, e Hiroshi começou a brigar com o pai de Vicente. Rolaram escada abaixo.
· Hiroshi gritava que ele pagaria caro por isso, e o pai de Vicente dizia que não tinha culpa de nada.
· Chegou uma pessoa no prédio que, pode não parecer, mas tem grande importância. Esta pessoa não deveria ficar sabendo do que estava ocorrendo. O problema é que os dois passaram rolando bem ao seu lado, e foi por causa disso que se iniciou uma intrincada corrente de fofocas.
· Essa pessoa era Renata Schmidt, moradora do prédio vizinho. Quase nunca ia lá, mas a confusão a atraiu.
· Quando a poeira se assentou e a família de Noemi entrou no apartamento de Vicente para conversarem racionalmente, a multidão começou a se dispersar. Renata caminhou lentamente até seu prédio. Entrou no apartamento, foi para o seu quarto e fez a lição que tinha para o dia seguinte. Mês de Novembro, fim de ano... muito cuidado com as notas. Cansada, achou que merecia um pouco de lazer após o dever. É importante e interessante notar que pontos chave existem pois, caso contrário, muitos fatos não aconteceriam. Pontos chave costumam passar desapercebidos e, em si mesmos, não passam de rotina. Mas eles existem e, se forem muitos, causam mais desdobramentos. Mas isso será observado depois.
· Este ponto chave envolve Renata e o que ela fez depois da lição. Ela foi telefonar. Fazia isso todos os dias, mas neste dia ela executaria o ponto em questão.
· Sua melhor amiga, Carina, atendeu em pessoa o telefone.
· Oi, Renata. Demorou pra ligar.
· Ah, eu tinha que fazer a lição.
· Eu fiz mais cedo, hoje. Tive que ir ao dentista... - disse Carina.
· E aí, quais são as novidades? - perguntou Renata, deitada na cama.
· Nenhuma... estou na mesma... e você?
· Eu vou começar a trabalhar semana que vem, dá pra acreditar? - disse Renata, entusiasmada.
· Ah, não! Sério? Nossa!
· Adivinha aonde! - disse Renata.
· No shopping, é claro, né? - disse Carina.
· Lógico! Acha que eu vou ficar trabalhando em lugar que só tem pobre, tipo padaria, mercado... açougue?!
· Açougue?! Credo!
· As duas começaram a rir.
· Ah, você viu que chata aquela menina que senta na sua frente? Como é que ela chama? Raimunda! Meu Deus! Se veste pior que uma faxineira.
· É mesmo, né? Deus me livre... o que você fez hoje?
· Eu? - disse Renata - Nada de mais. Dei uma passada no prédio do lado, tava tendo porrada lá.
· Sério? Porrada? Quem? - perguntou Carina, sem saber atiçando o ponto chave.
· Ah, eu não conheço as pessoas de lá. Mas era uns japoneses, lá. Uma família. Estavam brigando com um pai e um filho.
· Por quê?
· Eles estavam falando que o moleque tinha engravidado a filha deles, acredita?
· Nossa! Essa gentinha é cheia de arrumar encrenca, né? Insuportável!
· O moleque era um tal de Vicente, que sempre foi notícia por aqui. Dizem que é um demônio... o pai é um vagabundo...
· Deus me livre... esse Vicente é da nossa escola?
· Não... não sei onde estuda...
· O resto da conversa foi como a de sempre, mas o estrago já estava feito.
· Carina de Souza Cruz foi dormir cedo, naquele dia. Ao desligar o telefone, deitou-se na cama e ficou um tempo pensando na vida, até que adormeceu.
· No dia seguinte estava voltando da escola e encontrou um amigo seu. Sempre foram amigos, desde crianças. Eram confidentes um do outro. Começaram a papear, e Carina disse que tivera um estranho sonho naquela noite.
· Tinha muita gente na minha casa, estava tudo confuso. Alguns eram japoneses, e eles gritavam comigo, furiosos. No sonho, eu não sabia o que tinha feito, mas sabia que tinha cometido algo imperdoável. A minha amiga Renata, que você conhece, também estava lá, me olhando. Estranho, né?
· Eu li um livro sobre sonhos há pouco tempo, Carina - disse Otávio - Às vezes, você sonha com alguma coisa que aconteceu durante o dia, por mais insignificante que seja. Ou, se, bem antes de dormir, você ver um filme, ler um livro, etc., você pode sonhar com o enredo, com o assunto, só que distorcido.
· É mesmo, Otávio. Mas eu não me lembro do que... Ah, já sei! Eu conversei com a Renata bem antes de dormir... ela me disse que, perto do prédio dela, um garoto engravidou uma garota japonesa e que os pais dela deram uma dura nele, os pais brigaram... teve até sangue!
· Esse garoto é da sua escola, Carina?
· Não. Deve estudar naquela escola aqui perto, aquela onde foi pego um porteiro com drogas. Só tem problemas, aquela escola.
· E, no sonho, você era a menina japonesa, sendo repreendida pelos pais japoneses, muito exigentes.
· Nossa, Otávio! Sacou bem rápido. Você deveria ser psicólogo...
· Obrigado.
· Naquele dia Otávio Mendonça encontrou-se com a namorada.
· Eu te vi hoje, Otávio, e você nem percebeu.
· Aonde, Patrícia?
· Junto com a sua amiguinha “dos velhos tempos”...
· E daí, Patrícia? Eu não te vi, o que posso fazer?
· Cara-de-pau. Você passa mais tempo com aquela idiota do que comigo. Acha que eu sou o que? Se está querendo me trocar por ela...
· Para de dizer besteira. Eu não posso ter amigos? É só você e mais ninguém?
· Do que vocês estavam falando? Eu vi você rindo, Otávio.
· Que besteira! Ela estava me contando o sonho que ela teve, Patrícia. Aí eu achei engraçado, só isso. Ela tinha sonhado com a conversa que teve com a amiga antes de dormir, acredita? No prédio da amiga tinha um japonês que engravidou a própria filha, acredita?
· Desta vez vou acreditar, Otávio. Ou você está dizendo a verdade ou sabe mentir muito bem...
· Não é mentira - disse Otávio.
· Quem são esses japoneses?
· Não sei. Parece que o cara é filho de um tal de Vicente, que tem outra filha, uma japonesa.
· Ah!
· Patrícia precisava voltar para o trabalho. Era auxiliar de um redator. Ela dava dicas e idéias novas a ele, para a seção do jornal que publicava contos.
· Ricardo! - disse ela, quando entrou na redação - Eu tive uma ótima idéia para te ajudar no conto de hoje.
· Qual é? - perguntou Ricardo, com um bloco de notas na mão.
· Bom, escuta só: tem um japonês, certo?
· Certo.
· Ele mora em um apartamento e tem uma grande reputação na família. Só que, um dia, ele não resiste e pede em namoro um vizinho seu.
· Ele é gay, então?
· Isso. Eles se envolvem, e tudo se complica quando a filha do japonês pega eles juntos no quarto. A reputação dele começa a desmoronar, e é obrigado a matar a própria filha por segurança. E a história se desenrola. Gostou?
· Nossa, Patrícia, aonde você arranja essas idéias geniais para as histórias?
· Ah, não exagera, vai! Essa idéia veio porque tem em japonês que realmente fez isso, só que com o filho. Eu fiquei sabendo, meu namorado me contou.
· Meu Deus! Aonde foi isso?
· Não sei... mas eu tenho uma sugestão para o nome do personagem da história: Vicente!
· Ricardo chegou em casa após mais um dia de trabalho e abraçou o filho de dez anos.
· Oi, André. O que fez hoje?
· Joguei bola. Trabalhou muito, pai?
· Claro!
· Pai, preciso falar uma coisa.
· Fala.
· Sabe o Felipe, aquele menino mais velho da minha classe?
· Sei.
· Então, ele está me chateando de novo.
· O que ele fez?
· Ele ataca giz na minha cabeça e hoje ele grudou um chiclete no meu cabelo.
· Está bem, filho, não se preocupe. Vou falar com a orientadora amanhã mesmo.
· O dia em questão era Terça-feira, e Ricardo telefonou para Laura, a orientadora.
· É a respeito do meu filho, o André. Ele está na quarta série, e há um garoto, Felipe, que não deixa meu filho em paz. A senhora precisa falar com ele...
· Olha, Ricardo, nós aqui na escola tratamos com muitos alunos desobedientes, essa é a verdade. Os casos mais sérios são no colegial, é claro. Temos por exemplo Vicente, um dos piores. Tentamos diversas vezes convocar os pais dele, mas parece que são mais despreocupados do que ele próprio. Isso se tratando do colegial. Mas no caso do primário não é diferente. Os pais muitas vezes não estão nem aí, mas vou tentar chamá-los. Infelizmente estamos sofrendo um terrível problema esta semana, Ricardo. Trata-se de um ato criminoso ocorrido com uma de nossas professoras, Lia.
· O que aconteceu?
· Nós estamos totalmente desorientados, estamos tentando abafar o máximo possível, mas não adianta! Parece que não vão devolver a Dona Lia...
· Ela foi seqüestrada?! - espantou-se Ricardo.
· Sim. A polícia não tem pistas, e os criminosos não mantiveram nenhum contato.
· Meu Deus! Isso é horrível! Como meu filho não ficou sabendo, Laura?
· É o que eu lhe falei. Procuramos esconder no início, mas parece que todos já sabem, agora. Nós, os orientadores, estamos totalmente aflitos.
· Laura, mudando de assunto... quem é esse tal de Vicente? - Ricardo pensou na possibilidade de ser a mesma pessoa envolvida no caso que Patrícia lhe contara.
· Um péssimo aluno... talvez o pior na escola inteira. A classe o tem como um líder... ele seria capaz de cometer as mais terríveis atrocidades!
· Deus! Será possível?
· O quê, Ricardo?
· Fiquei sabendo que um tal de Vicente engravidou uma menina japonesa alguns dias atrás, e que a família dela estava furiosa, que houve até briga entre os pais, e que o pai deste Vicente é uma espécie de boa vida preguiçoso...
· Espere, isso é verdade! Ele é um caminhoneiro muito mal educado, que não está nem aí com nada. Mas quem é essa garota?
· Disseram que é uma menina do colegial muito quieta e estudiosa que tinha o maior respeito por todos...
· Noemi!!!
· Quem? - perguntou Ricardo.
· Noemi é o nome da garota! Uma de nossas melhores alunas! Ricardo, preciso desligar. Depois conversamos.
· Ela desligou, aflita, e foi para a secretaria. Lá estava uma das psicólogas, com o telefone na mão.
· Sua metida! - gritou Laura - Estava ouvindo minha conversa?!
· Calma, Dona Laura, não é isso! Eu estava muito preocupada! Os seqüestradores poderiam tentar manter contato, e achei melhor ver do que se tratava o telefonema. Mas vi que não era nada de mais.
· Não adianta, os seqüestradores não vão manter mais contato... coitada da Dona Lia...
· Laura... você ouviu o que eu ouvi aquele homem dizer? - perguntou a psicóloga.
· É claro, eu estava falando com ele, e não você!
· O que acha daquilo?
· De o Vicente ter engravidado a Noemi? Eu acho é que esta escola está entupida de problemas! Primeiro, o porteiro envolvido com drogas, depois o seqüestro da Dona Lia e agora, uma adolescente grávida. Dá pra acreditar?
As duas não perceberam, mas havia alguém ouvindo o que elas diziam agora. Dois alunos haviam vindo à secretaria perguntar algo, mas, como estavam atrás do vidro do balcão, elas não os viram. Além disso elas estavam de costas, e quando se viraram já era tarde demais. Elas se olharam, os dois alunos também se olharam, e saíram correndo para não serem pegos.
Eles com certeza iriam contar tudo para a escola inteira, e elas precisavam pará-los. Mas eram mais rápidos, e logo entraram em suas classes, dizendo em voz alta que Vicente tinha engravidado Noemi. Um destes alunos que saíra correndo era Fabrício, namorado de Kelly, e que estudava na mesma classe que ela. Inácio, César, Ester, Vladimir, Kelly e Bete nem se abalaram com a notícia, pois estavam preocupados com a situação em que estavam. Porém, Vicente e Noemi ficaram pálidos. Seriam o centro das atenções por um bom tempo.




12 - Ordens vindas de cima


Após a reunião, todos os homens de Lorenzzo já sabiam quais eram suas tarefas. Todos eles saíram divididos em grupos em carros diferentes, e Lorenzzo esperava que tudo saísse perfeito. Realmente confiava em seus homens.
Naquela Terça-feira à tarde, Franco e Giulio Castellari saíram juntos. Andaram alguns minutos de carro e chegaram a seu destino. A casa de César.
Genaro e Calado pegaram uma estrada por um longo tempo, até que chegaram em uma região onde só havia mato, muito isolada de qualquer casa. E lá havia um casarão abandonado, que naquele momento servia de prisão para Lia.
Eles desceram do carro e entraram no casarão. Andaram até os fundos, onde havia um quarto com a porta trancada. Genaro pegou uma chave no bolso e abriu a porta.
O quarto tinha um armário quebrado e empoeirado, uma mesa pequena com uma cadeira e uma cama das mais simples, com um colchão todo esfolado em cima.
No canto do quarto, ao lado do armário, estava Lia, sentada. Estava vestindo só a camisola, pois no dia em que fora seqüestrada tinha acabado de acordar. Seu rosto, todo arranhado e abatido. Tinha chorado muito, e tinha os cabelos emaranhados na frente do rosto, profundamente sombrio. Genaro pegou-a pelo braço e sentou-a na cama. Ela se debateu, tirando a mão de Genaro de seu braço. Este não era nada tolerante, e virou a mão fechada no rosto de Lia. O nariz dela começou a sangrar. Ela mantinha os dentes travados, segurando para não tentar dizer nada. Limpou o sangue.
Calado tinha um embrulho na mão, e dele tirou algumas frutas. Deixou-as na mesa.
O quarto ficou em silêncio e Lia se atreveu a dizer algo:
· Eu não vou denunciar o porteiro, canalhas. É tudo mentira. Vocês inventaram tudo para conseguir uma vítima.
· Não inventamos merda nenhuma - disse Genaro - O tal do Pessoa é nosso freguês faz tempo.
· Como assim, freguês? - perguntou Lia, surpresa.
· Ele sempre comprou nossa mercadoria, e desta vez ele estava enrolando muito...
· Você se atreve... - começou Lia.
· Cala a boca, sua puta. Aqui eu faço o que eu quiser - disse Genaro, empurrando Lia na cama - E você não parece ser muito inteligente... não o suficiente pra saber que o Pessoa estava viciado faz tempo, entendeu, agora? Heroína, sua estúpida! Nossa fonte de lucros.
· Lia ficou quieta, pensando... lembrou-se de como o Sr. Pessoa realmente parecia muito mal... mas ele dizia que era por causa dos remédios que tomava para o coração. E agora ela percebeu que os mafiosos falavam a pura verdade.
· O telefone tocou e Calado saiu do quarto para ir atender.
· Genaro observava Lia. Esta chorava.
· Calado voltou um minuto depois e se aproximou de Genaro. Disse algo bem baixo em seu ouvido.
· Genaro pegou a mulher novamente pelo braço e arrastou-a. Deixaram o quarto. Foram até a cozinha, que também era quase vazia. Havia uma caixa de isopor no chão.
· Calado pegou a caixa e pôs na mesa. Abriu-a e foi tirando os instrumentos de dentro.
· Saíram diversas facas de dentro, alguns estiletes, tesouras, alicates, alfinetes, um serrote, uma furadeira, um martelo e outras ferramentas.
· Genaro estudava os objetos. Parecia indeciso sobre qual usar.
· Lia não conseguiu segurar e soltou um berro estridente que ecoou por toda a casa.
·
·
·
· 13 - Franco e Giulio
·
·
· Franco parou o carro em frente à casa de César. Desceu do carro, Giulio ficou lá dentro. Andou até o portão e tocou a campainha.
· Um rapaz, irmão de César, veio atender.
· Eu preciso falar com o César.
· Ele não está.
· Sabe onde ele foi?
· Deve estar na casa dos amigos, não tenho certeza - respondeu o irmão.
· Franco ficou parado olhando para ele e disse depois de um tempo:
· Está bem.
· Voltou para dentro do carro.
· Aonde ele foi? - perguntou Giulio.
· Não sei. Passa o meu cachorro quente aí. Deve estar frio.
· Como você consegue comer estas porcarias, Franco? - perguntou Giulio, enojado - Cachorro quente a 50 centavos? Coisa boa não é.
· Não é porcaria, é comida. Acha que eu sou diretor de alguma multinacional, que nem você, para ficar enchendo o rabo de fígado de galinha e olho de peixe? Vai te catar.
· É ganso, não galinha.
· Tudo a mesma merda. Vocês, grã-finos, comem muito mal, essa é a verdade. Pedem uns pratos com uma porcariazinha no meio e pagam o olho da cara, para continuar com fome. O que enche barriga é um prato de macarronada com bastante molho e almôndega - disse Franco, soltando um arroto no final.
· Não seja desprezível...
· É ele - disse Franco, largando o cachorro quente.
· Hã? - disse Giulio.
· O garoto. Dobrando a esquina!
· Franco saiu do carro e caminhou em direção de César. Este ficou imóvel, e sacou do que se tratava. Os mafiosos realmente não o perdoariam.
· César saiu correndo em direção contrária, e Franco foi atrás. Giulio saiu também com o carro, para alcançá-los.
· César entrou em uma avenida muito movimentada, e atravessou correndo a rua, sem esperar o trânsito parar. Franco quase foi pego por um carro, mas se jogou em cima, provocando confusão geral no trânsito. Continuou correndo.
· Entrou em uma rua menor, onde havia uma casa que ele conhecia muito bem. A casa de Ester. Pulou o portão rapidamente, correu até os fundos da casa e entrou no depósito que lá havia. Encontrou outra porta lá dentro. Abriu. Saiu na cozinha de Ester. Não havia ninguém. Subiu as escadas e foi até o quarto da amiga.
· Ester!
· César! O que foi?!
· Por favor. Pensa em algo. A máfia está vindo aqui agora mesmo!
· A porta do quarto de Ester foi aberta bruscamente.
·
·
·
· 14 - As más conseqüências
·
·
· Em pouco tempo a notícia do escândalo envolvendo Vicente se espalhou por todos os cantos. Todos na escola já sabiam, todos no bairro já sabiam, e o jornal ajudou a divulgar tudo publicando um conto cuja história era parecida com a de Noemi. Um conto inspirado nos fatos reais. E é claro que tudo isso chegou aos ouvidos de Lorenzzo.
· Lorenzzo não gostou nem um pouco. Um de seus homens, Igor, estava envolvido naquilo. Isso poderia trazer muitos problemas.
· Em sua casa, Inácio conversava pelo telefone com Vladimir.
· Acho que descobri algumas coisas, Vladimir - disse Inácio.
· Eu também.
· Veja só: aquele vídeo que estava passando na delegacia provavelmente era de uma loja que pertence à máfia, a tal máfia brasileira que o delegado citou. O dono deve ter sido ameaçado pelos capangas, provavelmente porque devia dinheiro. E aquele cara que chegou lá na delegacia, aquele mal encarado...
· Era um mafioso que acabara de ser pego - completou Vladimir - Deve ser um dos que foram até a loja.
· Isso mesmo - disse Inácio - Vladimir, você acha que a Lia foi apagada?
· Acho. Eles não podem deixar ela viva, pois ela certamente denunciaria a máfia, do jeito que ela é.
· Também acho. E César e Kelly também correm perigo. Vladimir, eles defenderam o Sr. Pessoa à toa. O cara era realmente drogado.
· Também começo a achar que sim, Inácio. O que a gente faz, hein?
· Não sei... ei! Vladimir, o homem que foi ver Pessoa era o pai de Vicente, certo? Provavelmente foi tentar pegar algum dinheiro com ele.
· Certo.
· E esse Igor, pai de Vicente, é um capanga da máfia, certo?
· Certo.
· Porque, como vimos, os caras foram mandados para inocentar Igor e culpar Pessoa. Homens que são mandados por alguém superior geralmente são perigosos...
· É - disse Vladimir - E a notícia da gravidez de Noemi certamente já chegou até este homem por trás de tudo.
· É mesmo! E isso pode significar perigo para Igor, pois o chefão pode tentar apagá-lo para que nenhum escândalo estrague seus negócios...
· Você tem razão - disse Vladimir - Inácio, precisamos fazer algo, é urgente!
· É mesmo. Acho melhor todos nós nos reunirmos. Vou ligar para Kelly, Fabrício e Bete. Você vai ligando para César e Ester.
· Certo. Até mais!
· Inácio combinou de se encontrar com os amigos, porém Vladimir não pôde falar com César, pois este estava na casa de Ester, fugindo dos mafiosos. E, quando ligou para Ester, o telefone chamou durante algum tempo. Depois atendeu uma voz de um italiano, muito irritado.
·
·
·
·
· 15 - A lâmina prestes a cortar a carne
·
·
· Lia ficou paralizada e não podia acreditar que estava prestes a morrer nas mãos de dois homens extremamente grosseiros, segundo ela. Sentia vontade de gritar com eles, dar um bom sermão neles e explicar que os homens devem sempre respeitar as mulheres, e não ousar encostar um dedo nelas com o intuito de machucar.
· Mas não podia falar nada. Eles tinham o poder naquele momento. E sua voz não saía, mesmo!
· Genaro olhava para ela friamente, enquanto afiava seu facão. O facão era de um açougue pertencente ao domínio de Lorenzzo, e quando certa vez Genaro o viu pendurado em um balcão todo sujo de sangue, quis imediatamente incluí-lo em seu arsenal. Lorenzzo concordou. E agora Genaro está contente, pois poderá usá-lo pela primeira vez. Em Lia.
· Começou bem devagar. Aproximou a faca no rosto de Lia e fez um pequeno corte no nariz dela. Adorava ver o sangue escorrendo. Lia manteve-se firme.
· Genaro levou o facão ao pescoço dela e a cortou, desta vez mais profundamente. Ela começou a soluçar e chorar, desesperada. O sangue aumentava.
· Ele não queria matar Lia muito rápido, não tinha graça. Queria prolongar ao máximo. Começou a fazer cortes no corpo inteiro de Lia. Ela sangrava muito. Havia cortes em todos os cantos de seu corpo. Pernas, braços, costas, lábios, mãos, pés... ela chorava e Genaro sorria.
· Calado então disse:
· Genaro, Lourenzzo não gostaria de saber que você ficou brincando com ela antes de matá-la. Ele disse para simplesmente matar, e não perder tempo. Nós ainda temos que pegar a garota, a tal Kelly.
· Ele só vai ficar sabendo se você contar, Calado.
· Se você demorar muito, eu também vou sair prejudicado, então...
· Então quer dizer que contaria para ele, não é?
· É. Corte logo o pescoço dela.
· Não me diga o que fazer, seu imbecil! Eu trabalho do jeito que eu quiser! - Genaro prensou Calado contra a parede e encostou uma navalha em seu pescoço - O que me impede de matá-lo agora mesmo, Calado?
· Ela! - respondeu Calado, apontando para Lia. Genaro olhou para trás e viu que Lia fugia. Saíra correndo.
· Os dois saíram atrás dela. Ela estava quase chegando na porta, quando Genaro a alcançou e puxou seus cabelos. Ela gritou.
· Genaro resolveu ser rápido e, usando seu facão preferido, matou-a enfiando-o em seu coração. Uma morte silenciosa.
· Pronto, chorão - disse Genaro, olhando para Calado - Está feito. Vamos embora.
· A máfia agia também na casa de Ester, onde estavam ela e César, diante de Franco.
· Franco ouvira o telefone tocar quando entrou na casa dela, e atendeu, apontando a arma para os dois.
· É um amigo seu, um tal de Vladimir - disse Franco - É melhor que ele não esteja vindo para cá. Fale com ele. Diga que está tudo bem, e que você está ocupada.
· Ele deu telefone para Ester e ela falou:
· Oi, Vladimir. Está tudo bem. Não. Não vou poder me encontrar com vocês. Estou ocupada. O César? Não sei. Não. Certo. Tchau.
· Ela desligou. Nesta hora, houve um barulho estridente vindo de outra parte da casa. Era o despertador de Ester, que sempre tocava na hora errada. Franco se assustou e olhou para trás. César aproveitou e saiu correndo para o outro cômodo, seguido de Ester. Lá, César pegou um pote cheio de bolinhas de gude do irmão de Ester, e jogou-as pelo chão. Assim que Franco entrou, tomou um tremendo tombo, batendo a testa em uma mesa.
· Idiotas! - gritou ele, enquanto os dois fugiam - Eu já mandei matar sua professora de merda, não terei nenhum problema em matar vocês!
· Os dois se aterrorizaram ao ouvir o que ele disse, ao saber que, afinal, Lia havia perecido sob a ameaça masculina, mas continuaram correndo. Ester passou pela cozinha e pegou algo na geladeira. César não entendeu, mas não disse nada. Chegando no quintal, pararam para decidir o que fariam, e Ester decidiu correr até a casa de uma amiga dela, pois tinha um plano. Quando estavam saindo pelo portão, Franco apareceu na porta da frente e continuou seguindo-os. Ester e César atravessaram a rua, correram até a próxima rua e lá havia uma grande casa com um muro imenso. Eles começaram a subir, pois havia falhas no muro que facilitavam a subida. E Franco vinha logo atrás.
· Chegaram no topo. Olharam para trás, e Franco também estava subindo. Eles pularam para o lado de dentro. Lá havia um pitbull adulto, de sua amiga. Ester tirou do bolso um pedaço de carne crua e deu para o cão, que começou a devorá-lo. Enquanto o fazia, César e Ester correram para os fundos da casa. Franco mal chegou em cima do muro e já foi saltando para dentro. O pitbull o encarou e, com um pequeno salto, agarrou sua perna com os dentes. Franco estava em pânico, não conseguia tirar o cachorro de lá. Sua perna sangrava. O mafioso caiu no chão, morrendo de dor, e desmaiou.
· O Matador é adestrado, César - disse Ester, atrás da casa - Acontece que os cães percebem a má intenção dentro de cada um.
· Em seguida foram os dois avisar a amiga de Ester do ocorrido, e saíram com pressa de lá.
· Está tudo virando uma imensa bola de neve, Ester - disse César.
· É. Precisamos nos encontrar com os outros. Disseram que iriam estar na rua do Inácio.
· Vamos lá.
· Quando iam saindo da rua, viram um carro estacionado, de onde saía um homem.
· Durante a confusão, haviam esquecido de Giulio, que havia esperado Franco no carro. Ele vinha na direção deles, e César tirou algo do casaco. Era uma arma. Uma pistola.
· Não me obrigue a atirar, cachorro! - gritou César.
· Aonde pegou esta arma, pivete? - perguntou Giulio.
· Seu amigo deixou cair - respondeu César, sarcástico.
· Você não tem coragem de atirar... - zombou Giulio.
· Tenho, sim. Vocês mataram nossa professora! Ameaçaram todos nós! Já mataram centenas! Espalham o crime pelo nosso país, e não podem ser eliminados?
· Você não mataria alguém - disse Giulio.
· Eu sei. Mas um tiro no local certo pode imobilizá-lo o suficiente para que possamos chamar a polícia. Você quer ser preso?
· Eu já estive na cadeia. Posso sair de lá facilmente, meu chefe garante isso!
· Não se ele também for pego! - disse César, e em seguida atirou. Sua mão tremia. Nunca havia pego em uma arma antes. O tiro pegou na mão de Giulio. Este largou a arma e começou a gritar.
· Já chega? - perguntou César.
· Que se dane! Meu chefe não me deixará na cadeia! Pode chamar a polícia! Eu nem me importo!
· César deixou a arma de Franco no chão e correu, seguido de Ester. Estava apavorado, não conseguia raciocinar direito.
· Nós estamos perdidos. Eu não acredito que isto esteja acontecendo! - disse ele.
· Calma! Calma! Nós precisamos pensar e fazer o que...
· Ei! Espere! Eles vão tentar pegar a Kelly, também. Lembra-se? Ela defendeu Pessoa... devem estar indo para a casa dela!
· Mas todos iam se encontrar na rua do Inácio, ela deve estar lá, junto com os outros, e não na casa dela! - disse Ester.
· É. E eles podem ter encontrado ela, a essa altura. E se eles encontraram ela... encontraram todos os nossos amigos!
·
·
·
· 16 - A máfia não perdoa mesmo!
·
·
· Igor Jesus Maria chegou em casa de caminhão e entrou no apartamento. Seu filho estava lá, ouvindo música. Eles haviam discutido e conversado muito sobre a gravidez de Noemi. A família desta também havia pego no pé dele. Estavam cansados disso. Todos ficaram sabendo, e eles tinham que agüentar perguntas e gozações de todos os conhecidos que encontravam.
· Igor não gostava deste tipo de problema. Gostava de fazer seu serviço, de aproveitar a vida e não ser incomodado.
· Tinham chegado as contas pelo correio, e junto um pacote pelo qual ele não esperava.
· Vicente - disse ele - Quem entregou este pacote?
· Ah, foi um cara aí. Um cara de terno preto, provavelmente colega de trabalho seu.
· Igor ficou imaginando o que poderia ser, enquanto tirava o papel do pacote. Era uma caixa de papelão. Estava escrito: “De Lorenzzo”.
· Ele sentiu um frio na espinha. Demorou um pouco para abrir, e o fez bem devagar. Dentro da caixa havia uma bomba. Igor não conseguiu dizer nada, e no fundo sabia que era seu fim. Antes de morrer, Igor viu que havia algo escrito dentro da caixa. “Seu serviço não me serve mais. Você só me trouxe encrencas e escândalos. Não admito isso no serviço, e você deveria saber muito bem.”
· O estrondo foi ouvido no prédio inteiro, e mais uma vez a vizinhança voltou sua atenção para aquele pequeno apartamento.
·
·
·
· 17 - Louca estratégia
·
·
· César e Ester corriam rumo á casa de Inácio. Era relativamente longe, e eles estavam exaustos. Seus amigos, naquele momento, poderiam estar à mercê de perigosos mafiosos.
· Tem algum plano? - perguntou Ester.
· Não. Mas sei que nós não podemos ir entrando na casa do Inácio, eles devem estar lá. A família dele pode estar presa lá dentro, também.
· O que nós vamos fazer? Precisamos agir rápido!
· Não sei. Não faço a mínima idéia...
· Os dois chegaram na rua certa e viram que realmente havia um carro estranho estacionado em frente à casa de Inácio.
· É um carro caro demais! Deve ser dos mafiosos! Mas quantos deles estarão lá? - disse César.
· Bom - disse Ester - Mais de cinco, não são. Pois no carro só cabem cinco pessoas. Devem se três ou dois. Não dá para saber.
· Eu tive uma idéia - disse César - Inácio uma vez me contou que há na casa dele um porão. Esse porão tem uma passagem que vai por baixo da sala de estar. A passagem acaba em uma pequena escada, que leva a uma porta que dá na sala. É uma espécie de armário, ele me disse que usava o lugar para se esconder de seu pai quando era pequeno. Daquela porta é possível entrar na sala.
· Certo - disse Ester - Mas não podemos ir entrando na sala com os bandidos lá.
· Calma, já explico. Se houver alguma pequena abertura neste porta, pode ser que possamos saber quantas pessoas estão na sala, e, conseqüentemente, quantos bandidos estão lá.
· Será que é seguro, César?
· Nós précisamos arriscar. É o primeiro passo a ser seguido. Não podemos contar à polícia. Eles ainda não estão por dentro do caso, não sabem que quem está lá dentro é a máfia, e iriam agir como se houvessem bandidos comuns. Não temos tempo a perder, pois nossos amigos e a família de Inácio está correndo perigo de morte. Os policiais não iriam acreditar na gente...
· Mas eles não estavam investigando um caso de mafiosos que entraram em uma loja e ameaçaram o dono? - perguntou Ester.
· Quem está neste caso são os policiais da delegacia perto da casa de Lia. A delegacia que há perto daqui ainda não deve saber desta máfia, e então não acreditariam na gente. Não temos tempo de ficar convencendo eles. Vamos!
· Certo.
· Os dois entraram na casa tomando cuidado para não fazer barulho com o portão. Andaram em volta da casa, procurando alguma porta que levasse ao porão. Mas não achavam.
· Ester - disse César, em voz baixa - Deve haver uma porta para o porão no quarto de Inácio. Vamos ter de pular esta janela.
· Ai, meu Deus...
· Eles entraram pela janela de Inácio, sem fazer barulho, e ouviram vozes que vinham provavelmente da sala. César não encontrou porta alguma, e teve uma idéia. Procurou a divisão no carpete do chão do quarto, e, quando achou, arrancou-a. Tirou boa parte do carpete, e quando já ia desistir, surgiu no piso do chão um alçapão. Levantou a tampa. Realmente levava ao porão. Ajudou Ester a entrar e foi atrás, em seguida. Era completamente escuro. Tropeçaram em algumas caixas e acharam uma estante empoeirada. Nela havia uma caixa de fósforos. César pegou a caixa e acendeu um. Conseguiram enxergar melhor, e notaram um corredor que deveria ser a tal passagem. Eles foram até lá. César tinha que acender os fósforos constantemente, pois eles acabavam em alguns segundos. Seguiram pela passagem até encontrarem uma pequena escada. Subiram. Neste instante César fez um sinal para Ester fazer silêncio, e sussurrou no ouvido dela:
· A sala fica aqui ao lado - Ele apontou para a porta que havia no fim da escada. Chegaram perto da porta.
· César deu a caixa de fósforos para Ester segurar e ele se abaixou. A única abertura na porta era embaixo, pois ela acabava antes do chão. Havia uma abertura de no máximo um centímetro e meio separando a porta do chão. César deitou-se completamente no chão. Apoiou a cabeça no chão também. Aproximou o olho da abertura o máximo que pôde.
· As vozes dos mafiosos eram ouvidas. Ele viu somente os pés das pessoas na sala. Na verdade eram mais manchas, sombras dos pés. Mas ele pôde diferenciar uma das outras.
· Ele pensou: “Tem o Inácio, o Vladimir, a Kelly, a Bete, o Fabrício e os pais de Inácio. Sete pessoas.” César ia movimentando a cabeça na altura da abertura, tentando contar os pares de pés. “Há dois... quatro... oito... dez... quatorze... dezesseis... dezoito pés! Isso é igual a nove pares de pés, ou seja, nove pessoas! Há dois mafiosos nesta sala.
· Ele se levantou e disse a Ester o que descobrira. Em seguida houve uma gritaria na sala, e ouviram um dos mafiosos bater em alguém. E ouviram também Inácio gritar algo. Ele gritara “pai!”.
· Os dois precisavam agir rápido. Mas não sabiam como. Resolveram voltar pela passagem e voltar ao quarto de Inácio.
· Quando estavam no quarto, César pegou uma folha de papel de Inácio e uma caneta hidrográfica preta. Desenhou na folha um símbolo que havia inventado um dia na escola. E colou a folha com duréx na porta do quarto.
· Você já vai entender - disse César a Ester.
· Espero!
· Ester, quando estávamos perto da sala, lá no porão, eu ouvi a Kelly dizer que queria ir ao banheiro. Mas um dos bandidos disse para ela esperar, porque queria ir primeiro, enquanto o outro os vigiava. Bem, eu ainda não ouvi a descarga, então quer dizer que a Kelly é a próxima a ir, depois que o cara sair do banheiro. Daqui a pouco ela vai passar com um dos mafiosos pela porta deste quarto, que fica no caminho do banheiro. Pois acontece que a Kelly conhece este desenho muito bem. Quando eu fiz este desenho na classe, ela quis ver, e até pediu que eu fizesse um para ela. Você pode ver que eu escrevi “Estamos aqui, Kelly. Demore no banheiro” embaixo do desenho, só que em alemão. Você sabe que a Kelly é filha de um cara muito rico, e que ele colocou ela em uma série de cursos de língua nos últimos anos, pois quer que ela seja uma garota inteligente como ele. Ela entende o que está escrito aqui, e quando passar pela frente da porta com o desenho para ir ao banheiro, vai sacar tudo, afinal ela não é nada boba.
· Já sei - disse Ester - Ela vai saber que estamos aqui, e vai vir falar com a gente. Mas você acha que os mafiosos vão deixar ela ir sozinha no banheiro? Um deles vai vir junto e esperar do lado de fora.
· Não tem problema. O importante é que ela veja o desenho. Você vai entender por quê. Preste atenção. Você vai sair da casa, Ester. Vai chamar um policial na delegacia. Um só. Diga que sabe que nesta casa há um criminoso, e que ele está armado. Diga para o policial revistar ele. Preste atenção: você mesma tocará a campainha. Ele permanecerá atrás do muro, só aparecendo quando o mafioso vier para perto do portão. Tome. Pegue esta cesta. Diga que está vendendo algo. Force ele a abrir o portão. Só então o policial entrará em ação, tomando o cuidado de tapar a boca do mafioso, pois ele não pode gritar por socorro. E diga para ele ficar atento após pegar o primeiro cara. O outro aparecerá em seguida. Entendeu?
· Entendi. Mas e esse outro cara? Vai estar aqui dentro.
· Eu cuido disso. Faça a sua parte. É melhor ir andando.
· Certo. Até mais - disse Ester, saindo pela janela.
· César havia pensado meticulosamente no tempo certo de mandar Ester ir. Pois quando Kelly saísse do banheiro para vir falar com ele, o mafioso que estivesse vigiando ela já teria que estar lá na frente, atendendo a campainha. O outro precisaria tomar conta do resto das pessoas. César escreveu para Kelly demorar no banheiro, pois tinha de dar tempo de Ester tocar campainha com o policial. Quando ela tocasse e o mafioso fosse atender, ele poderia bater na porta do banheiro e falar com Kelly. Ela ainda estaria lá, pois ela sabia que deveria demorar bastante. Os mafiosos, é claro, eram Genaro e Calado. Genaro havia ido no banheiro. E César ouviu a descarga. Segundos depois ele saiu e caminhou até a sala. Em seguida César ouviu ele voltando junto com Kelly. Esta entrou no banheiro e Genaro ficou esperando do lado de fora. Passaram-se cinco minutos. César suava muito, estava muito tenso. Se algo desse errado, ele estaria na mesma situação que os presentes na sala, e não haveria mais chances.
· Até que ele ouviu a campainha tocar. Seu coração disparou. Tocaram de novo.
· Calado, que estava na sala vigiando todos, mandou Genaro ver quem era. Estava funcionando. Genaro foi. César olhou para fora do quarto. Caminho livre. Bateu na porta do banheiro. Kelly percebeu que era ele, pois ele bateu de leve e de uma forma melódica, como se batucasse uma música. Ela abriu a porta devagar e saiu. Os dois foram para o quarto de Inácio.
· César explicou o que estava acontecendo rapidamente.
· Lá fora, Ester convenceu Genaro a ver o que estava vendendo. Ele abriu o portão. O policial, ágil, pegou-o de surpresa e o imobilizou. Revistou-o e achou uma pistola. Ester sorriu para o policial. O plano de César estava funcionando.
· No quarto de Inácio, César explicou a Kelly o que ela deveria fazer. Ela se preparou e saiu do quarto. César a observava. Ela saiu correndo para a sala, e quando passou ao lado da mesa que havia no centro, pegou a arma de Calado, que estava em cima. Continuou correndo, em direção à porta da rua. Calado agiu por instinto e saiu correndo atrás dela. Ela saiu direto para a rua. Calado foi pego de surpresa pelo policial, que apontou uma arma para ele. César viu que tinha funcionado e ligou para a delegacia que tinha visitado aquele dia. Contou que havia encontrado os tais mafiosos que a polícia estava procurando. O policial não queria acreditar, então César chamou o que estava lá fora prendendo os bandidos. O policial confirmou o que César havia dito:
· É isso mesmo. Não. Sou da outra delegacia. Isso. Olha, eu não sou perito, mas posso assegurar que bandidos normais eles não são. Eles têm jeito de italianos. Tá bom. Até mais.
Ele desligou e disse que o carro da polícia já estava a caminho.
César foi falar com os amigos, que estavam na sala. O pai de Inácio havia apanhado, e sua mulher chamou uma ambulância. Ele ia ficar bem.
Foram todos para fora. Todos estavam exaustos. Já era fim de tarde, e o sol já se punha. O carro da polícia chegou, e houve longos interrogatórios...



18 - O fim do caos


A polícia pegou todas as pistas que puderam com César e os outros. Era uma longa história.
Os policiais reprimiram todos eles e seus pais, por omitirem o caso da polícia desde o princípio. Eles explicaram que a culpa era deles, seus pais não tinham que pagar por isso. Eles tiveram uma dose de razão pelo que fizeram, sendo que estes eram bandidos diferentes, muito mais perigosos. Poderiam ter sofrido ameaças se contassem à polícia. Mas mesmo assim a polícia não gostou nem um pouco. Principalmente por não aceitarem que um bando de jovens ficassem com quase todo o crédito da solução do caso.
Calado, que sempre se mostrara tão seguro, frio e de poucas palavras, foi o único que se mostrou vulnerável à repressão da polícia para que eles contassem onde ficava o chefão, Lorenzzo. Ele entrou em pânico, pois a partir da hora em que tudo começou a sair de controle por causa de César, ele não pôde mais se manter firme. Sob pressão, disse tudo o que os policiais queriam saber. Ele acabou sendo o mais falante de todos os mafiosos, no final. A polícia checou a mansão de Lorenzzo. Este, quando foi pego, estava extremamente irado. Seu rosto deixou de ser frio e vingativo. Se tornou vermelho e mostrava uma imensa raiva. Raiva de seus capangas, que foram incapazes de assegurar sua proteção. Foi levado junto com seus outros homens para uma prisão de segurança máxima. Ele protestava, tentava se desvencilhar dos policiais, mas em vão. Foram localizados todos os seus pontos de comércio e os lugares que lhe pertenciam. Assim, muitos outros pequenos bandidos foram pegos, muitos traficantes e muitos donos de pizzarias. Foi também possível pegar pistas que podem levar a outros chefões do crime organizado no mundo inteiro. A polícia teria muito o que investigar nos próximos meses.
O Sr. Pessoa continuou preso. Realmente era um traficante e um viciado. Os alunos lamentaram muito o que ocorrera.
A família de Noemi teve que aceitar o nascimento da criança, e tiveram que cuidar dela, pois Vicente não tinha ninguém agora. Os pais dela acabaram fazendo um acordo. Vicente moraria com eles, para que, junto com Noemi, pudesse cuidar do filho, que recebeu o nome de seu pai, Igor.
A escola teve de superar a perda de Lia e conseguir outra professora de Biologia.
César e seus amigos continuaram estudando lá, apesar de tudo. Inácio continuou sendo o cara cínico de sempre. Vicente e Noemi agiam como um verdadeiro casal. Vicente melhorou muito desde então.
Ester nunca chegou a se dar bem com Kelly. Mas César e Ester continuaram sendo grandes amigos. Kelly terminou seu namoro com Fabrício, pois achava ele muito aproveitador. Foi aí que César aproveitou e a pediu em namoro, sem jeito. Ela aceitou, mas Ester não gostou nada disso.
Vladimir também pediu Bete em namoro, mas foi uma má idéia, pois os dois não combinavam, e ela lhe deu um fora.
O que acontecera com certeza não seria nunca esquecido por nenhum deles. Serviu para que se aproximassem ainda mais, e para que adquirissem uma grande experiência em suas vidas. É claro que acontecimentos como este não voltaram a acontecer na vida de cada um deles, mas este ensinou a eles sobre o mundo em que vivem. Ensinou que há perigos por aí dos quais eles nem suspeitam.
E é claro que tudo acabou em pizza.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui