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Artigos-->Trazendo à baila um velho tema polêmico... -- 03/06/2002 - 20:17 (Lílian Maial) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Interessante é o homem.

Ele faz as leis, ele protege o feto, ele, ele, ele... e ela? Quem protege a mulher que não deseja a maternidade, a gestação, a obrigação pós-parto para o resto da vida? Quem protege a mulher?



Tudo bem, há métodos para evitar uma gestação não desejada, concordo, mas e se eles falharem? E se não teve acesso a eles? Ela é obrigada a ter seu corpo transformado sem que queira?



Isso é o maior absurdo que alguém pode imputar a outro. A maior violência de todas!

Obrigar alguém a ter seu corpo modificado contra a sua vontade. O corpo é o único bem inalienável de uma pessoa. É sua vida. Cada pessoa deveria ter direito a escolher o que fazer com ele.



Queria ver um homem sendo obrigado a ver algo crescer dentro de si, contra sua vontade, que viesse a modificar toda a sua vida dali para a frente, e seu corpo, com todas as implicações médicas e de risco que uma gestação pode acarretar, inclusive risco de vida.



Não sei como um país pode querer crescer, pode querer figurar entre as grandes nações do mundo, com leis e regras que não conseguem conter a violência. Como se pensar em diminuir a violência das ruas, se não se acaba com a violência contra a mulher, no seu direito básico de mandar em seu próprio corpo?



No fundo, nossas leis protegem a violência com uma grossa maquiagem de justiça, e uma falsa religiosidade e moralismo de milênios passados.



E com tudo isso, não conseguem impedir o aborto, apenas conseguem aumentar o número de mortes por práticas abortivas de forma e em locais inadequados.



Conseguem deixar mais e mais mulheres com seqüelas irreparáveis para o resto de suas vidas, por uma prática, na maioria das vezes, realizadas na tenra juventude, quando não podiam e nem queriam arcar com o peso da gestação.



Com tudo isso, conseguem enriquecer profissionais da saúde que, ilicitamente, praticam o ato e, em grande parte das vezes, sob as "vistas grossas" da lei e dos conselhos. E ainda bem que eles existem!



Na realidade, se fosse liberado o aborto legalmente, os hospitais gerais estariam aptos a proceder com toda a técnica e segurança aos abortamentos com um trauma bem menor às mulheres e com a liberdade para as menos favorecidas, que são as que pagam o pato literalmente. Sim, porque as "filhinhas de mamãe" freqüentam as discretíssimas clínicas de conceituados profissionais da área na zona nobre das cidades.



Hipocrisia. Tudo não passa de hipocrisia e controle das castas baixas pelas elites dominantes.



Com isso perpetua-se a miséria, a fome, a dependência, a violência nas ruas, as desigualdades. Mais menores abandonados, mais viciados, mais pivetes e bandidos em potencial. Filhos sem lar. Filhos sem mãe e sem pai. Filhos sem nome. Filhos sem o alento da "pátria mãe não tão gentil".



Estou cansada dessa conversa de proteção ao feto, quando tantas crianças são aviltadas aos nossos olhos diariamente. Onde está a lei de proteção aos fetos? São só os fetos? Quando viram crianças chorando de fome, cadê a lei?



Sinto muito se fui incisiva. Não tencionava magoar ou cutucar feridas. Apenas como médica e cidadã brasileira sei que o aborto legal não seria a solução, mas seria uma medida que daria mais dignidade à mulher brasileira e traria uma luz de justiça e de igualdade entre os sexos e as classes sociais.



Pela minha experiência de 20 anos na profissão, muitos deles pelas emergências da cidade do Rio de Janeiro, não teorizo a decência e a violência, eu a vejo, a respiro e a vivencio.



Gostaria que cada legislador pudesse ver o desespero de uma menina grávida, querendo livrar-se da circunstância de ser indefesa diante da recusa do parceiro em usar preservativo.

Ou a distância e desamparo do olhar de uma mulher que acaba de ferir-se gravemente por introduzir objetos perfurantes na vagina, na tentativa de exercer seu direito de escolha, à sua maneira, já que não há outra para ela.

Ou da mulher com mais de 5 filhos, todos famintos, emprenhada pelo marido alcoólatra, que não respeita seu direito de dizer não.



Mais uma vez sinto muito. Mas não sinto pelas minhas palavras ou atitudes, mas pela falta de atitude de quem teria a palavra e cala.



Lílian Maial

Médica e Escritora





Se observarmos bem as listas dos países que são contrários ao aborto, verificaremos que estamos bem à altura.

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