Alguém escreveu que: através da arte criada por si, criou-se de forma a não contradizer a personalidade reflectida no espelho que fabricou. Concordo, com a ideia de que as obras de qualquer pessoa contêm inerentemente algo do seu criador, isto para mim é obvio; mas também o autor acaba por ser influenciado pela obra, consciente ou inconscientemente. Para mim esta dialéctica é inerente ao acto da criação!
Em relação à s palavras que a minha alma verte para o rio de existência contrária à sua: o papel - que os nossos sentidos podem tornar real sentindo-o -, na esperança que sejam encontradas por uma existência semelhante à sua: outra alma - que a nossa intuição ou fé podem tornar real intuindo-nos ou fazendo-nos acreditar a sua existência, mesmo que essa alma seja diferente na essência não tem importància, o desejo é que seja igual na matéria porque é composta... se a alma for composta por matéria alguma!... -, afirmo que não me criam, pelo menos conscientemente! Mostro-me! Sim!, mostro-me enquanto escrevo! O que acontece quando me leio? Esta pergunta é pertinente, não escrevo sem ler! Acontece que me descubro, ganho uma ideia mais real do que realmente sou!... Sendo assim, quando me corrijo, aperfeiçoo-me... Não!, não sou perfeito, logo não posso aperfeiçoar-me a mim próprio! Simplesmente, quando me corrijo adequou melhor as palavras à mensagem que pretendo transmitir e evito os erros inerentes ao acto de escrever! Adequou-me à minha escrita, corrigindo-me..., pois..., em certo sentido, criando obra, crio-me!...
Pergunto-me diversas vezes, se há razões que convençam alguém a ler estas palavras. Imagino tantas razões..., pois fui eu que desenhei estas frases..., e não encontro motivos realmente válidos que justifiquem a existência de uma pessoa possuindo o anseio de me ler!... Sinto no coração e na alma um vazio criado pela possibilidade destes entes, que vivem no mundo dos meus rabiscos, nunca atingirem qualquer outra alma!... Choro!... Se alguém estivesse perto de mim e suficientemente junto aos meus olhos diria que minto, mas é verdade, choro..., choro sim..., com os olhos da alma, lágrimas secas que existirão, possivelmente, durante toda a eternidade no meu interior. Nem o pano da certeza da eternidade da minha obra, se, algum dia, tecido surgir no mundo que permita a fabricação de tal pano nas oficinas da minha alma, poderá secar essas nascenças das glàndulas lacrimais da minha parte menos mortal... No caso de virem a secar, como erosão não há nas almas, os leitos por elas deixados nunca desaparecerão, talvez nasça um pano, de qualquer coisa, que possa esbater os leitos mais profundos e fazer desaparecer os menores, mas algo deles restará para todo o sempre...
Não escrevo unicamente para ser lido, mesmo que tal nunca venha a acontecer, continuarei a rabiscar! Muitas páginas deitei já para o lixo, por não querer que continuassem a existir! No entanto, nunca, mas nunca mesmo, me arrependi de algum dia lhes ter dado vida!... Se toda a minha obra for para a lixeira das coisas esquecidas ficarei triste, chorarei, sentir-me-ei frustrado,..., mas em tempo algum!, me arrependerei do tempo gasto ou ganho a escreve-la, rele-la e corrigi-la! São momentos e momentos de prazer que nunca renegarei!
Como sempre entusiasmei-me e o que desejava escrever apartou-se de mim, de forma irreversível!..., ou não?... Não faz mal! Resta-me a esperança, consoladora, de que poderei dar forma a esses seres, neste instante fugidos das minhas existências: carnal e não-carnal, noutros momentos quaisquer...
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