É verdade.
Falo demais, eu sei.
Falo mesmo, sem parar
até de coisas que não sei.
Falo sério,
falo claro, exato,
com deboche e pouco tato.
Falo o que sinto
(e o que não sinto também).
Falo , mas não consinto
minh’alma a falar também.
São palavras e mais palavras,
bonitas, feias,
minhas, tuas, alheias...
Falo. Falo muito mesmo.
falo de tudo, a esmo.
Minha boca não se cala,
nada a detém e ela fala
de tudo que a deixo dizer.
Mas, eu, esta outra cá dentro
não deixo nem dez por cento
do que eu sinto aparecer.
Os meus medos, meus segredos
vivem eterno degredo,
no qual teimam em crescer.
Nada sabe de mim
quem me escuta.
Nada sabem desta luta
entre a que está fora e não escuta
o que a de dentro quer falar.
Só sabe de mim quem me olha,
bem dentro dos olhos
e insiste ,
no olhar teimoso resiste
ao meu desvio de olhar.
Percebe-me a alma ,
e no instante mesmo,
quase tira-me a calma
quem me desvenda o olhar.
Se me olha assim,
com um olhar tão direto,
tira-me o chão e o teto
com que me busco ocultar.
Por que me ocultas, pergunta,
aquela que mora dentro,
para que este tormento
de não me quereres mostrar?
Responde a de fora, teimosa,
que esconde a de dentro ,
bem no fundo
por que é um risco nesse mundo
quem ama e se deixa amar
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