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Contos-->LUÍSA FERNANDA, A FODIDA -- 17/07/2003 - 11:07 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Naquela manhã havia em minha boca, muito mais do que 206 dragões orais causadores daquela halitose horrível. Busquei a pasta dental e com movimentos rápidos, na escova, higienizei os dentes e a língua. O ato lembrou-me Edbar, o grandíssimo colega, que numa noite de sábado, quase morreu depois da ingesta d´água no escritório, adrede corrompida, pela seita do pavão louco.

A chave de fenda, postada ali na pia do banheiro, indicava que alguém descumpria as regras dos acordos e compromissos assumidos, para a manutenção das coisas nos seus devidos lugares. Afinal, ferimentos profundos, dolorosos, e indeléveis, poderiam ser provocados pelo uso equivocado da ferramenta. Na mesa da cozinha, restos do que fora um café rápido, durante a noite, jaziam polvilhando a toalha enodoada. Entre as migalhas de pão, um exemplar novo de "NÃO CONSULTES MÉDICO" do Machado de Assis. Eram de vinte e cinco por cento, contra zero, as chances de que fora o leitor notívago, quem deixara a porta da cozinha aberta, por onde entraram, durante a madrugada, os gatinhos rapinadores.

Eu pensava que no conflito, entre a fome e a defesa de uma ideologia, a prioridade pertencia à satisfação da necessidade basilar. Afinal, meu amigo, quem poderia defender idéias se nem as podia ter em decorrência da subnutrição?

Botei a água pra ferver. Lá fora, o nebuloso do céu e o zunido causado pelo vento frio, demoveram-me da intenção de escancarar o vitrô. O mal estar provocado pela aspiração dos gases, resultantes da queima do GLP, seria melhor suportável do que a percepção dos rigores da gelidez.

A atmosfera carregada, na cozinha, produzia-me num crescendo, angústia e a travação da epiglote. Eram nesses momentos danosos que a imagem funesta da Luísa Fernanda, a fodida, sobrevinha-me. Zombeteira, como sempre, com suas macaquices e janota, surgia-me pela frente, bem faceira, rebolando aquela sua bundinha mole.

Ela tinha uma língua enorme. Diziam que quando se via compungida por qualquer falta cometida, ou quando estava assim, como direi, absorta na costura duma peça rara, mordiscava aquela sua língua-de-badalo. Era comum prende-la entre os dentes. A prensa do músculo, na cremalheira nova, servia para apuro da concentração, ou objetivava, quem sabe, travar qualquer desejo inopinado e incontrolável de xingamentos.

Poderíamos dizer que ela tinha uma personalidade egocêntrica; centrando-se sempre em sí mesma. Não atendia os apelos, de quem mais sabia, para dedicar-se à filantropia e deixar de ser a chata do jeito que era. Apesar da feiúra, que lembrava um capitão-do-mato, tinha certa leveza para representações. E quando convocada pelos colegas da seita, usava com desembaraço os figurinos, saíndo sempre às ruas e casas comerciais, onde desempenhava os papéis, que lhe atribuíam, naquele Teatro Pobre do Grotowsky.

Luísa Fernanda tinha predileção especial para representar mulheres falecidas cujos viúvos eram os suspeitos principais de assassina-las. Ela era excelente nisso, apesar dos problemas psiquiátricos que já teimavam em surgir. O gênio irascível não admitia nunca a supressão do uso dos cigarrinhos do demônio e a dedicação exclusiva ao suor-de-alambique estonteante.

Uma de suas manias excêntricas era a coleção de perucas. Usava-as com os mais variados penteados, guardando-as em seguida, ainda armadas com laquê, numas caixas brancas enormes, feitas de madeira.


Luísa Fernanda, por onde passava envenenava os presentes, usando mentiras e boatos urdidos contra quem não gostava. Ela era sobrinha da vovó Bin Latem, aparentada do Allan Brado, o veadinho, fã do doutor Val, o terrível; e ocupava lugar de destaque na seita do pavão louco. Diziam que pra começar agir ela precisava dum copo de filha-de-senhor-de-engenho nas mãos e maldades na cabeça.

Dela, meu amigo, minha amiga, e senhoras donas de casa: eu queria mesmo era distância.


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