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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->VENENO NO MEL -- 21/09/2004 - 12:04 (ADELMARIO SAMPAIO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
VENENO NO MEL

Olá amigo,

Vou resumir o que foi que aconteceu:
Há apenas um ano atrás eu vivia com o meu querido nesta mesma casa, e ele se deitava nessa mesma cama, e se aconchegava a mim todas as vezes que se deitava um pouco depois de mim, e eu fingia que dormia só para sentir o roçar do seu rosto no meu, no mesmo beijo que se repetia sem que eu pedisse mas ficava esperando com a certeza de que viria.
Ele é músico e poeta. Eu o conheci justamente no mesmo lugar onde trabalha ainda hoje.
Naquela noite olhei para ele, e senti um calafrio como só as mulheres que sentiram a mesma coisa sabem o que é. Eu procurei uma mesa mais perto de onde ele estava. Ele não me via. Tocava seu instrumento e eu não podia ouvir porque o meu coração estava tão elevado que os sons pareciam elementos de um segundo plano. Depois de uma das músicas, apanhou um livro que tinha perto, já previamente marcado em uma das páginas e leu o poema mais lindo que eu jamais havia ouvido. Parecia ter sido escrito pra mim. Dessa vez, meu coração abriu meus ouvidos e mesmo sabendo que não me conhecia e não me percebia senti que sua alma lia pra mim. Procurei-o depois, e soube que o poema era seu. Autografou-me um dos livros. Ditei as palavras, e ele riu quando pedi que dedicasse a mim com amor. Foi só aí que me notou.
Meses depois estávamos namorando para desespero dos meus pais e zombaria das minhas amigas. Menos de um ano depois estávamos nos casando em um cartório, sem convidados e sem festa. Perdi por isso o contato com minhas amigas e vi se esfriar o carinho dos meus pais.
Mas eu o amava loucamente, e era correspondida, e vivemos felizes, embora eu tivesse que trabalhar desde então para ajudar na nossa difícil sobrevivência, coisa que eu não havia feito antes.
Eu o acompanhava no início ao seu trabalho, mas depois que comecei o meu, não foi mais possível. Então ele chegava quase sempre de madrugada, quando eu já estava dormindo. Esperávamos que essa agonia acabasse assim que conseguíssemos uma independência financeira que tanto eu como ele sabíamos que viria somente por um milagre. Mas nós acreditávamos em milagres, porque já tínhamos recebido um, quando o amor nos elevou para gozarmos do que muitos procuram e não conseguem achar.
Vivemos anos desse jeito, e o amor parece que nos unia a cada dia. Não havia nada que nos desagradasse no nosso relacionamento, embora aos olhos de todos isso fosse impossível. Mesmo porque ele era de um meio social muito diferente do meu, e as culturas das nossas famílias fossem também muito distantes.
Um dia li um dos seus poemas e fiquei intrigada com as palavras “como mulheres solidárias que compartilham do veneno colocado no mel”. Pedi que me explicasse, e ele disse:
“Olha meu amor, eu não sei explicar o que escrevo... Parece que foi Neruda quem disse que a arte não pode ser explicada nem mesmo por quem a faz. Eu sinto isso. Se tentar explicar, já empobreço o que escrevi”.
Achei sábia a sua explicação, embora não respondesse o que eu havia perguntado. E as palavras ficaram martelando a minha cabeça. Eu não queria entender, mas tinha a impressão que elas eram mais do que uma poesia, mas tinham o mistério de uma profecia.
Um dia, uma das minhas colegas de trabalho estava passando por uns momentos negros na sua vida. Vivera muito bem com seu marido, mas de repente, as coisas se tornaram um inferno. Ela desconfiou que ele estava tendo um caso com uma outra mulher. Tudo parecia evidente. Tudo se confirmava. E como ela não tinha uma amiga mais chegada, eu fui a sua confidente. Fiquei sabendo de toda a história dela, e do enorme drama que estava passando.
Quando falei com Maurício, ele fez cara de quem não gostou da história. Então perguntei:
_ Que foi amor?...
Ele estendeu a mão e pousou na minha, e disse:
_ Acho que você não devia se envolver, querida.
Eu não respondi. Embora ele sempre tivesse razão no pouco que falava, dessa vez achei que se enganava. Mas eu não queria argumentar que estava somente dando um apoio, ouvindo uma amiga que estava com uma dificuldade. Parece que ele leu meu pensamento, e disse:
_ Eu entendo o seu lado, querida. Você quer ajudar mas não pode. E sinto que isso tem muito a ver com o que escrevi naquele poema...
Parou e não disse mais nada, e também não falamos mais disso. Mas eu decidi que não ia me afastar da minha amiga por causa dessa conversa. Mesmo porque ela só me procurava no trabalho, e vez por outra telefonava para desabafar. Eu ouvia apenas com o coração dolorido por saber das maldades que um marido pode fazer a uma esposa. As piores humilhações. Um homem que não a merecia, com todos os vícios: futebol, bebidas e mulheres. Eu tinha um sentimento bonito quanto a ela, e enquanto falava, pensava que embora minha vida fosse difícil financeiramente, não experimentava esse tormento. Mas ela disse algo que me intrigou:
“Todos os homens são iguais Li... Não pense que o teu é um santinho. Ele deve estar nesse momento nos braços de outra mulher... Deve estar recitando seus versos a outros ouvidos... Cantando suas músicas a outros corações... Eu acreditava em tudo como você. Mas um dia uma amiga me abriu os olhos. Ela foi quem me disse: “Vá atrás, que o bicho tem rabo...” Fui e vi que tinha. Comecei pela roupa dele, e percebi um perfume diferente. Depois descobri que “os amigos” do futebol usavam saias, e tinham aquilo que todos os homens andam atrás...”
Eu fiquei com as palavras martelando na minha cabeça. Quando Maurício chegou, eu cheirei sua roupa. Pareceu que havia um cheiro estranho de perfume misturado com fumaça de cigarro... No outro dia contei para minha amiga. Ela deu uma risada irônica, e disse que isso não era novidade. Perguntou se ele estava atencioso como antes, se dava assistência na cama, e eu tive que admitir que não.
E fui somando os seus comentários com as evidências, e poucos dias depois falei com Maurício. Ele negou tudo. A minha amiga tinha dito que era assim mesmo. Eles negavam sempre, e esse era um sinal. Comecei a contar os dias que ele não me procurava na cama. Tudo conferia. E quando propus que ele deixasse de trabalhar à noite, tive todas as provas que ele não me amava, e que havia algo de muito errado com ele. Uma noite fiz o teste infalível repassado pela minha amiga, e perguntei de chofre: “Como é o nome dela”. Ele me olhou calado. A minha amiga disse que esse era outro sinal evidente. Fui até ele e quis bater no seu rosto gritando histérica. Ele me segurou os braços, e eu chutei seus testículos. Gritei pra todo mundo ouvir que o sem vergonha precisava passar por essa vergonha. Liguei pra todas as minhas amigas, e finalmente pedi ajuda aos meus pais. Eles me apoiaram em tudo, e diziam que estavam ansiosos que eu voltasse à realidade.
Hoje voltei a esta casa onde vivi com Maurício. Ela está toda desarrumada. Os homens são muito bagunçados e não sabem mesmo viver sozinhos. Está uma desordem total...
Acho que vou escrever um bilhete e deixar na cama dele. Vou dizer que eu o amo, e perdôo por tudo que me fez. Estou disposta a esquecer tudo se ele me prometer que nunca mais fará tudo que fez...

Sua amiga,
(...)

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Adelmario Sampaio
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