Levantei-me cedo a procura do saber. Uma constante do saber pode ser adquirida pelo ato de ler o jornal. Coloquei largos sapatos nos pés, abri a porta do fundo, contorno pelo lado direito da casa (sol poente), dei-me no pequeno jardim a procura do papel ainda a cheirar tinta.
Creio que você, leitor, captou a minha descrição. Quarto. Corredor. Cozinha. Área do fundo. Lateral da casa - sol poente. Jardim. E o jornal?
Que nada! Roubaram. Roubaram-me a cultura. Liguei, reclamei. A voz do outro lado - após alguns minutos de espera: "Realmente, senhor, foi entregue. Mas providenciarei uma nova entrega. Cortesia." Agradeço, desligo.
Mas penso cá com meus ticos e tecos: `Estou feliz, muito feliz. Fui assaltado - roubaram-me cultura.
Como é bom ser assaltado culturalmente, não achas? Você já parou e pensou nisto? Pense.
Porém, contudo, todavia, entretanto... e se levaram para aquecer os pés? Neste caso tenho que processar o Sistema de Governo - sabe por quê? Não preciso nem dizer, você é um cidadão consciente e logo chegará a conclusão.
Poderia citar outros, mas colocarei um basta em vãs palavras, sigo para outra. Faço o caminho inverso - claro que escrevi depois - coloco água para ferver. Um café forte, por favor.
Pedro César Alves
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