Você me obriga a escrever. O mesmo acontece com a vizinha ao lado que me pede um cigarro. “Não dou, vendo”. E ela sai assustada. Antes mesmo de pedir o perdão e dizer que é brincadeira, já fecha a porta na minha cara. E agora estou aqui, gritando o nome da vizinha sem parar, oferecendo dois, dez, vinte cigarros, esses mesmos que farão alivio em minha consciência. Também estarei aliviada ao escrever esse texto, mesmo que esteja torto, mesmo que ninguém entenda.
Continuo ouvindo uma grande seleção de musicas espanholas bregas. O mesmo acontece com minha incansável vontade de formular historias para as pessoas. Hoje fui ao correio e havia uma criança branquinha que me olhava diretamente. Perguntei o que queria. Ela franziu a testa e fez cara de desgosto. Então pensei bem: vou arrumar uma ótima vida para essa criança.
Você não me disse a data especial da sua vida. O mesmo acontece quando lembro do dia em que encontrei aquele cara no calçadão da praia. Ele estava parado, lendo um livro e cultivava um frescor nos cabelos. Fiz de tudo para parar de caminhar, desejava saber qual o livro preferido dele. Enfiei a cara em sua leitura e depois pedi desculpas.
Tem certeza que me entende? O mesmo acontece quando escrevo “o mesmo acontece..”. Não tem razão, nem solução, não vê?