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Contos-->Você inventou minha solidão -- 22/07/2003 - 19:53 (Vanessa Zéfiro) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Depois de algum prazer, depois de tudo – línguas chupadas –, encontrei seu legado. El breve amor, Julio? Nada disso. Só a solidão. A solidão da língua – única falante que sou do nosso prazer. Você esqueceu as frases, meu bem, esqueceu o vocabulário e os caminhos secretos. Na hora em que as nossas línguas se encontravam perdíamos o rumo – mas achávamos outro, comum. Desenhávamos nosso contentamento e até algumas possíveis tristezas, mas, principalmente, tínhamos certeza. Pequenas certezas. Lambidas certeiras umbigo a baixo, xoxotas bem chupadas – sexo, esporte, alegria, sacanagem da boa, enfim. Passei meus dedos entre suas pernas. Paraíso. Nossas bocas se encontravam – e encontravam a culpa e um pouco de amor verdadeiro (gemendo alto, arranhado nossas costas). Eu levanto a cabeça e sorrio, os verbos se confundem – o tempo, a concordância (passado e presente se misturando num turbilhão de arrepios). Exagero, a solidão toma conta disso. A distância têm lentes coloridas e disformes. Tudo azul, ambas nuas – línguas roçando insistentemente. Depois de algum prazer é o que sobra: eu, de um lado, e você, do outro – cada qual com seu prazer particular, intransferível (mesmo que tenhamos andado juntas, dividido os mesmos caminhos e sermos responsáveis por eles).
Daí por diante é buscar sua boca em outras, sua língua em outro país, seu sexo em qualquer buceta. Daí por diante a solidão se encarrega de inventar palavras, e inventa uma quase definitiva e quase completa: amor. Amo-te distante, impossível, perfeita. Foi o que minha solidão inventou.
Foi assim que nos encontramos: éramos vazias. Brasília, imensa, nos fazia sucumbir a ela – a suas obras, seus espaços, seus pequenos infinitos. Queríamos alguma dor. Ternura. Descobrimos, juntas, um caminho que não levava a lugar algum – mas a nós mesmas, por um tempo. Nos encontramos como todas as pessoas se encontram – acaso? Não sei, mas nos encontramos. Ela me desvendou com um simples olhar e depois nos desvendamos mutuamente, enquanto descobríamos outros caminhos. Uma chupada furiosa, um gemido. Depois, olhos nos olhos – e havia algo ali que não tinha nome, não sei como descrever. Havia todo um vocabulário novo – fácil de ser esquecido, como você revela agora. Estou sozinha, minha língua é uma língua esquecida. A distância impossível entre minha boca e a sua.
Você inventou minha solidão. Minha solidão veio com um mundo de novas possibilidades e novas palavras. Esquecer era uma possível – mas não fazia parte do aprendizado. Amor? Talvez.
Ridículas, por um tempo. Apaixonadas – vazias. Não era pelo sexo em si, mas pela idéia. Juntas. Meu joelho contra sua xoxota, seus olhos. Eu adorava o som da sua buceta molhada contra minha mão, seus gemidos e seu silêncio – sua cara de puta, também (mas estou tentando ser sutil). Carinho, outras pequenas depravações e técnicas de felação dignas de qualquer filme pornô. Isto é hardcore, baby. Nos desencantamos com o mundo – Brasília, infinita, derrubava nossas certezas com seus vazios. Solidão inventada – pronta pra ser vivida.
Fomos feitas – eu, você e a cidade – pra solidão, acredite.
Sinto falta dos seus líquidos, seus sabores. Sinto falta de uma boa chupada – e de te ver gozando também. Sinto falta da sua cara de puta. Mas a solidão me completa, mostra novas maneiras de ter algum prazer – meus dedos, infinitos. Pílulas de sabedoria – coisa de mulher mal comida, como dizem alguns filhos da puta. Sapata solitária, não acredite no amor. Não é bem isso, faz falta a idéia – e é ampliada pela ausência. Um beijo. Esqueci que foi você que inventou minha solidão – porque ela se tornou tão maior. Quero-te ainda que em silêncios e vazios.
Depois de algum prazer, vinha sempre o silêncio – predizendo o que estava por vir: nada. A entrega se fazia necessária. Você e eu. Felação. Beijos sinceros. Ciúmes. Querer amar, enfim. Não é pra mim. Pra mim resta o sexo vazio, o carinho aparente e a falta de uma pica – entre nós. Você inventou minha solidão, meu sexo e minha vontade de amar, depois disse adeus. Deixasse alguma coisa, pelo menos, alguma coisa boa. Ficou só a nostalgia – nosso passado comum. Sabores e sensações sem nomes – só a lembrança forte, esmagadora. O que nos fez bem, me esfola toda agora. Isto sim é hardcore.
Saudadezinha boba, minha filha. Posso viver com isso, foda-se. Tanta merda, porra, porque ficar chorando por isso? Você também acha? Que se foda. Queria ser sutil, mas você me obriga a te mandar a merda, caralho. No final das contas não estou sozinha, sou. Romance? Impossível: não trabalhamos. Um pouquinho de raiva, aquele gostinho bom do que passou (é sempre assim) e cá estamos nós: com saudades da aurora de nossas trepadas. Minha solidão, inventada, é só medo de seguir adiante, acho que sim.
Merda. Fico elegendo culpados pros meus próprios erros e esqueço que não há mais nada. Escrevo sem motivo, as histórias acabaram, as bocas, os lábios, sua xoxota, minhas vontades, tudo acabou. Isso é, se você não existe mais pra mim, não existe nada, nem minha solidão. Em tese, baby. Na verdade, ela está logo ali – na possibilidade de uma nova relação, uma nova decepção (a velha história). Ela está no que você me ensinou – eu aprendo com os erros (merda: até os macacos aprendem), mas insisto neles. Encontros – todos prenúncio de uma nova, revista e ampliada solidão.
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