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Poesias-->MINHA PARTE -- 03/02/2004 - 15:45 (adelay bonolo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
MINHA PARTE (*)



Deus, deste voz ao vento (na canção)

E sem que o peça dás-me o dom de ouvi-la...

Pássaros, um a um, todos em fila,

Cantam alegremente em minha mão!



Sinto o frescor das flores que baloiçam

Na flexível haste onde o grilo trila...

Pressinto o cheiro doce dessa argila

Que de molde serviu na criação!



Das libélulas ouço o balançar

Das asas transparentes e serenas

Beijando a água ou pairando no ar...

Falo com as borboletas tão pequenas,



Que andam em bandos e a grande, solitária

Princesa, apenas de tudo rainha.

Nessa felicidade imaginária,

Já vou cismando nessa vida minha...



Puseste no meu peito um coração

Capaz de ouvir a “estrela” do poeta,

Com os anjos falar numa oração,

Rir de tudo, brincar, sem ser pateta...



.................................................



Sentir o cintilar das estrelas,

o brilho inusitado da lua cheia,

o pio plangente da coruja no alto das torres e ciprestes,

o cheiro da terra calcinada,

o vento uivando por entre frestas e vales e depressões.



O canto sensual das pererecas buscando macho,

o trilo inesgotável dos grilos,

o pio soturno dos animais desconhecidos,

a visão da alma do outro mundo,

o medo das assombrações.



A desova das tartarugas,

o vôo cego dos morcegos,

o vôo rasante das andorinhas e dos gaviões,

a algazarra barulhenta dos pássaros-pretos e das maritacas,

o latido angustiante do cão preso e com fome.



A inconstância e o estupro das galinhas,

o ruído da relva crescendo,

o som das formigas cortando as folhas,

o zumbido da mamangaba,

a cantilena estúpida dos cocares.



O silvo moleque dos macacos,

a cantiga estridente das seriemas,

o relincho das éguas no cio,

o canto mavioso da corruíra,

o golfinho treinado para matar.



Falar com as plantas, ouvi-las e entendê-las,

o arrulhar da juriti nas palhadas de arroz,

a menina que não vem nem telefonou,

o primeiro e o último beijos e os do meio também,

essa excitação que não passa.



O corno do vizinho,

as infindáveis reuniões de condomínio,

o sorriso maroto das crianças,

o jabuti na forquilha da árvore,

as bundas, cartilagens e entranhas à mostras na televisão e na internet.



A chuva de prata dos lambarizinhos na beira dos rios,

o chefe que subiu no tijolo,

o bicho e a frieira nos pés,

esse fecho que não abre,

o sutiã arrebentado.



A menstruação fora de hora,

o cheiro de terra molhada,

o vento frio no rosto,

a chuva fina que não passa,

o relâmpago e os trovões que encantam e apavoram.



Uma dor-de-barriga insuportável,

vontade incontida de ir ao banheiro,

a pele macia do rosto,

o olhar carinhoso de quem ama,

as “mulheres“ da beira da estrada.



Os travestis imitando a vida,

o sol traspassando a folhagem verde das árvores,

o amassar do capim pelas vacas pastando,

o cheiro forte dos estrumes,

a visão angelical do Fernandinho (ponta de praia)...



O frescor da brisa da manhã,

o por do sol no Araguaia,

a relva macia,

o orvalho que rutila as folhagens,

as pobres mulheres feias.



O enterro de anão,

isso nunca me aconteceu antes,

o suor do amor e a seiva da vida...

a ferida que não sara,

este problema eu não sei.



A gripe asiática, americana, européia, africana,

o assaltante cara-de-capeta,

o desodorante vencido antes do tempo,

a mão gelada de emoção,

as pessoas sem escrúpulos.



A espera de qualquer coisa boa,

o político safado e desonesto,

o imposto de renda,

o orgasmo consentido sem remorso,

o aluguel vencido, a conta vencida, o salário vencido...



A guerra inútil, mas muito inútil mesmo,

as mães chorando,

a mãe de todas as bombas,

as crianças morrendo de medo e de fome sem razão,

os homens imprecando contra Deus e contra tudo...



A terra devastada e o povo humilhado,

A memória da humanidade perdida,

A blasfêmia sem-vergonha,

esse cara não tem mãe,

Boomba-filha-da-puta!



.................................................



Meu Deus, como este mundo é biodiverso!

Quanta alegria e tristeza contida

Num simples e desajeitado verso!

Como é complexa essa nossa vi... vida!



Dos seres que vi todos têm seu par

E trocam tudo, até carícias plenas.

Só eu, Senhor, só eu vou devagar...

Fico só a vagar, vagar apenas!





Adelay Bonolo



abril/2003





(*)Inspirado no cancioneiro português,

nos versos de Bilac, em Chico Buarque e,

sobretudo e principalmente, no majestoso cerrado goiano!

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