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Cronicas-->Devemos Ser o Brasil -- 31/07/2000 - 08:55 (Fábio Lucas Pierini) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
É interessante o que se tem falado a respeito de nós brasileiros nessa passagem de 500 anos. Percebe-se de imediato que nunca foi tão acentuada a busca por uma identidade nacional, por um denominador comum a todos os indivíduos formadores dessa raça tão peculiar ao resto do mundo. Também não é para menos: apesar das absurdas diferenças e distàncias que separam um brasileiro de outro, continuamos unidos numa única nação; embora sejamos cada um proveniente de uma região distinta do mundo e mantenhamos algumas das tradições provenientes dessas mesmas regiões, não somos nem um pouco parecidos com o que se encontra por lá hoje. Parece haver em torno deste país uma parede invisível que aprisiona toda nossa História antepassada quando o adentramos e que jamais se recupera ao deixá-lo. Esta terra é realmente muito estranha.
É preconceituoso, para não falar politicamente incorreto, estabelecer que a identidade do brasileiro se formaria amalgamando-se o que são seus povos formadores, ou seja, europeus, negros e indígenas nativos, porque um europeu é diferente do outro, assim como um negro não tem nada a ver com outro e assim sucessivamente. Portanto é preciso encontrar em nossa História de gente sem passado algum detalhe que também tenha mais a ver com fatos do que com comportamento característico de um povo.
Sabemos hoje que as pessoas são estimuladas por fatos relacionados diretamente com suas vidas e reagem a eles de uma maneira muito natural, ou até mesmo inconsciente. Levemos em conta então, que o que forma a identidade de um brasileiro atual, são as mensagens a que ele respondeu ao longo de sua vida por aqui, transmitindo hereditariamente (pelos seus atos e palavras e não geneticamente) tais respostas. Que mensagens foram essas então, tão necessárias para a formação da identidade do brasileiro de hoje?
Os primeiros a chegar numerosamente foram os famosos degredados, escória portuguesa, prisioneiros que nada mais faziam a não ser superlotar as cadeias d´Além Mar. É extremamente determinista afirmar que isso unicamente contribuiu para a formação (inegável) de uma boa parte do mau (ou falta de) caráter nacional. A Austrália por exemplo, foi uma colónia penal inglesa e hoje é um país de primeiro mundo. A diferença está na terra: enquanto a maior extensão de terras da Oceania era um deserto esquecido por Deus, o Brasil era um paraíso, onde era necessário apenas o mínimo esforço de apanhar uma fruta qualquer para se manter vivo. Haverá nessas condições terreno fértil para uma mudança de comportamento? Primeira mensagem: Por que plantar se há tanto por aí para ser colhido inpunemente?
Mais tarde, descobriu-se ser possível enriquecer-se e voltar para a Europa de bolsos cheios e viver bem pelo resto da vida. Muitos vieram, poucos puderam voltar e muito menos ainda foram os que voltaram com bolsos cheios, bolsos que acabaram sendo esvaziados tanto pela coroa portuguesa quanto pela inglesa, mas isso é outra história. Aos que ficaram, uma segunda mensagem: Esta é uma terra ingrata; uns passam por cima dos outros para conseguirem o que querem; um dia vou enriquecer e cair fora daqui.
Quando se percebeu que aqui se plantando tudo dá para abastecer os mercados da Europa, foi necessário arrumar mão-de-obra de baixo custo de manutenção e os negros foram arrancados de seus lares para servirem de escravos numa terra que não era a deles. Essa revolta só não foi maior porque os filhos eram separados de seus pais e não recebiam sua porção de História que caberia ser distribuída pelos mais velhos (também porque nenhum deles conseguia viver o bastante para ficar velho) e receberam a terceira mensagem, que pode ser tanto usada para o bem quanto para o mal: viver o presente, sem débitos no passado, sem garantias de futuro.
A última mensagem foi recebida pelos imigrantes do fim do século XIX, que devido às guerras de unificação na Europa e a superpopulação no sudeste asiático foi a de que: não há para onde ir; deve-se dar o máximo de si para conseguir o que se precisa.
O que forma o brasiliero atual então, não são coisas trazidas ou deixadas aqui, mas o que se aprendeu e viveu nesses quinhentos anos de parasitismo, pessimismo, conformismo/amistosidade e muito esforço. E nós hoje fazemos cada uma dessas coisas, independentemente da origem - porque o passado não atravessou a barreira que envolve o país e, se o fez, desfigurou-se quase que por completo - para resolver nossos problemas particulares, isto é, somos um conjunto de mensagens coletivas diluídas em seres individuais, ao contrário dos outros povos cujos indivíduos de dissolvem no coletivo. É a política do cada um por si...
Nós brasileiros somos portanto, pessoas querendo fazer a mesma coisa cada um do seu jeito ao mesmo tempo e não fazemos outra coisa a não ser trombarmos uns nos outros por causa, na maioria das vezes, de coisas sem importància que comprometem a coletividade, o Brasil no total. Percebamos que quando fazemos qualquer coisa, não visamos outro beneficiário senão nós mesmos, senão o que os outros vão falar, o que os outros vão pensar... A nós brasileiros falta compreender uma nova mensagem, que talvez estejamos recebendo neste mesmo momento Histórico: é preciso ser sem se esconder sob as opiniões alheias, sem mascarar dados estatísticos, sem querer mostrar uma cara que não é a nossa.
É preciso mais do que nunca encarar a verdade e construir uma nova realidade com muito suor e sangue, porém sem lágrimas; depois comemoramos a Copa e pulamos Carnaval.

Fábio Lucas Pierini, 29/07/2000
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