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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->A REVOLUCIONÁRIA CAMPANHA POLÍTICA -- 01/10/2004 - 10:49 (ADELMARIO SAMPAIO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

A REVOLUCIONÁRIA CAMPANHA POLÍTICA



Um dia Neca entrou em casa radiante com a idéia que tivera: Iria se candidatar a vereador!...
As duas mulheres (esposa e sogra) se entreolharam espantadas quando ele falou gesticulando como num palanque, mas não disseram nada. Ele (com a postura de candidato vencedor), já discursava pra elas com a sua vozinha que ficara cada vez mais aguda como um falsete de soprano:
-Sabem, minhas diletas primeiras eleitoras, que essa é a solução para todos os nossos problemas financeiros? – dizia levantando o corpinho mirrado nas pontas dos pés diante das duas.
Dona Izilda sabia quando ele falava a verdade, e mesmo conhecendo a sua teimosia muar resolveu retrucar:
-Não acredito Neca!... Logo você que nunca gostou de política, e muito menos dos que fazem dela uma profissão!...
-Nunca gostei e não gosto...
-Como é que vai fazer uma coisa que detesta?...
-Aí é que está o segredo!... Durante anos conversei com muita gente que também não gosta, e quer com certeza votar num candidato que é contra essa política suja que está aí. Esse vai ser o trunfo da minha candidatura, minhas diletas!...
-Mas você não é de nenhum partido político, homem de Deus!...
-Já me filiei a um deles. Fui muito bem recebido, e já tenho apoio nas minhas idéias revolucionárias, que pelo visto logo serão seguidas por alguns invejosos...
-E dinheiro pra campanha, homem?!...
-Não precisa. Todos me conhecem nessa cidade. Quando souberem que sou um candidato diferente, que não picho as ruas, que não poluo a cidade com uma imensidão de santinhos, e que não alugo ouvidos de ninguém pedindo votos, e nem subo em palanques, vão votar com certeza em mim.
-Nem em palanques? – as duas perguntaram ao mesmo tempo.
-Sou um candidato revolucionário. Ninguém ouvirá de mim, o barulho que esses outros fazem.
As mulheres se entreolharam novamente.
-E tem mais!... – ele continuou em tom de discurso: - vocês serão minhas “cabas eleitorais”, se é assim que se diz de duas mulheres que exercem essa tão nobre função na campanha mais revolucionária que essa cidade jamais viu... Não terão que fazer absolutamente nada e mesmo assim quando eu eleito for, serão promovidas às mais diletas secretárias de Manoelzinho Alfaiate, e ponto... Tenho dito.

O homem se candidatou mesmo... E como prometeu, não pediu um voto. Saía pelas ruas falando com um e outro que não gostava de política, mas não se esquecia de dizer que era candidato... Contou todos os possíveis votos dos que eram favoráveis ao seu discreto discurso, e anotou com quantos falou durante todo o tempo em que os outros poluíam visual e sonoramente a cidade, e viu que tinha apoio de muita gente. Muito mais do dobro que precisava pra se eleger.
Houve a eleição, apuração manual, e resultado...

Foi anunciado que Manoel Divino da Luz teve dois votos...
Um ele tinha certeza que era o dele... Agora tinha que saber qual das duas traidoras não tinha votado nele porque essa não dormiria nem mais uma noite na sua casa construída com o sacrifício honesto de uma vida assentado numa cadeira na Alfaiataria O Fino da Agulha (nome que por sinal ele se orgulhava por causa da inteligente duplicidade de sentidos). Porque uma coisa era não matar a cobra. Mas outra muito diferente era morar com ela na mesma casa...

Enquanto isso as duas mulheres pegavam pelo rádio o resultado das eleições. Uma disse pra outra:
-Ele só teve o voto dele mesmo, e o teu.
-O meu?!... Pensei que tinha sido o teu...
-Se não fui eu nem você quem votou, quem terá sido?...
O riso abafado quase explode nas bocas das senhoras, mas de repente...
Manoelzinho entra enfurecido, resolvido a quebrar o pau em casa com a que traiu sua confiança. Foi logo dizendo de chofre:
-Quero saber quem é a cascavel que me mordeu o calcanhar!...
O homem estava mesmo descontrolado com o bigodinho fino tremendo acima da boca entreaberta deixando à mostra os dentes amarelos e roídos das dentaduras postiças.
As mulheres ficaram assustadas, mesmo porque foram apanhadas de surpresa e nem tiveram tempo de pensar uma desculpa. Mas dona Izilda com a sua presença de espírito tomou a palavra:
-Veja Neca... Estava conversado com minha mãe nesse momento... Veja como é que ela está assustada coitada... Ela pediu pra não contar, mas eu conto porque a coitada não teve a menor culpa... Não é de ver que ela foi votar e esqueceu os óculos... Acabou votando em branco...
A sogra aliviada disse fingindo tristeza:
-Foi sem querer, meu filho... Mas na outra eleição pode contar com meu voto...


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Adelmario Sampaio
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