OLHOS DE INGAZEIRO
Elane Tomich
Pelas águas desenhada
esculpida em cachoeiras
colava à blusa molhada
cambraia ofertando seios
adivinhando o macio
entre veios e entreremeios.
A mímica do desejo
contorcionista sem pejo
iguana sorvendo nas beiras
da fruta, a carne que cheira
crescente a dor da serpente,
sede excedente e afluentes
Pupilas grandes no espio
na fenda dos ingazeiros
vendo o sugir do feitio
a provocação arteira.
Erguia-se, como um sol, do rio,
musa, ninfa, feiticeira.
Olhar felino de fome
acorrentado ao feitiço
inchaço que não tem nome
vértice no alagadiço
ponta que denuncia
coisa que não se esvazia
.
Olhos verdes de tocaia
esperando a distração
de um leve vôo de saia
certeira suposição
de ser mãe d água ou sereia
deitando-se à luz da areia.
em lapso nuvem, desmaia.
O que será que escorria
daquela concha escondida?
Eram águas, leite, répteis
ou eram dedos tão ágeis
tocando o botão do desmando
de um céu de pavor tremulando
pra tê-la sob comando?
Tão nua, de água vestida.
que a mão no molhado da saia
o que era de ser, sentiria,
Antes, bem antes do quente
dançavam seios e ventre,
cobertos de transparente.
mum pégaso que em asas corria
em descampados de euforia.
Na arena da vigíla
deusa vencedora, vencida
num torpor, agradecida.
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