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Contos-->A AMANTE DO PRESIDENTE -- 31/07/2003 - 15:27 (Airo Zamoner) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
© Airo Zamoner

– Parem tudo! – disse o presidente irado – Chega! Num güento mais! Quero paz! E agora!
Claro que um rompante desses não era habitual. Todos se calaram abruptamente e ouviram estarrecidos:
– Não entendo mais nada! Nem sei se um dia compreendi alguma coisa. É tudo uma confusão dos diabos! Cada solução que apresento se desdobra em dois problemas que precisam de mais duas soluções que viram quatro novos problemas! Chega! Fora!
Daquele dia em diante ninguém mais foi convidado para o costumeiro lazer esportivo dos finais de semana. A algazarra dos domingos de supostos merecidos lazeres foi substituída por um silêncio divino.
Nos estertores da madrugada de todos os dias, um carro negro, vidros negros, era o único adentrando em palácio. E isto se repetia todos os finais de semana. As viagens foram canceladas. O presidente reunia-se com alguém em seus aposentos. E esse alguém era o mistério de todos os poderes. Era o mistério da república!
Evidentemente, tentaram seguir o carro na saída e investigar de onde vinha, para onde ia e, principalmente, que misteriosa figura transportava. Foi depois da quinta tentativa investigadora que o carro não saiu mais do palácio.
A primeira dama, abordada pela imprensa, dizia não saber quem era. E não sabia mesmo! Nunca entrou na sala e nunca viu a figura. As más línguas já falavam em amante secreta e ela se acabrunhava com as intrigas. Na verdade, não só pelas intrigas. Em seu íntimo entristecia-se, percebendo inusitadas mudanças de comportamento no velho companheiro. Estranhava seu vocabulário, antes tão rude e primário, agora mais distante e complicado para sua compreensão.
A situação piorava a cada semana. As reuniões se estendiam até altas horas, cada vez mais longas e não mais restritas aos finais de semana.
As dificuldades da nação continuavam a se agravar. O mandatário estava omisso, distante, mais e mais calado. Já não fazia discurso algum. Não participava de encontros públicos, inaugurações, eventos. Parecia obcecado pela amante. Sim, pela amante. Ninguém mais tinha dúvidas de que aquilo só poderia ser a válvula a desafogá-lo dos problemas intransponíveis para seu modesto preparo.
Não se falava em outra coisa por todos os caminhos. O chefe da nação, escondido em seus aposentos com misteriosa amante, uma primeira dama a ponto de se mudar do palácio, e um país desarvorado entregue ao caos.
Nenhuma palavra ou gesto se conseguia do recluso presidente. O clima se deteriorava dia a dia. O Congresso se agitava e falavam em renúncia, e até em coisa pior.
Finalmente o silêncio se quebrou. O assessor veio a público avisar que finalmente haveria um pronunciamento pessoal. A angústia era evidente. Alguns esperavam novas desgraças nacionais. Outros, viciados em esperança, a droga dos pobres, esboçavam sorrisos de santas notícias. A aparição seria no parlatório, transmitida por todas as emissoras.
Na hora marcada, nem um segundo antes ou depois, ele apareceu acompanhado de linda jovem e se postou diante dos microfones. A primeira dama, ausente. O burburinho se agigantou. A suspeita fez sentido. Os cochichos se propagavam. Nem era preciso que ele falasse coisa alguma. Estava óbvio! Apresentaria a nova primeira dama.
– É mesmo uma amante! Que pouca vergonha! – sussurravam em desaprovação.
No meio da turba, após alguns momentos, alguém alertou para a beleza daquela jovem mulher. Alguns já se conformavam com o fato. Afinal, pelo menos era uma linda mulher!
Mão erguida, pede silêncio. Fala! E fala de modo estranho, diverso do habitual. Pronúncia perfeita. Linguagem formalíssima, escorreita, castiça. Fala sobre questões relevantes e apresenta medidas inteligentes, imediatas e concretas.
Mas o povo, ora, o povo queria saber quem era aquela mulher. O resto pouco interessava! Queriam desvendar o estimulante mistério guardado por tanto tempo! E alguém mais corajoso gritou!
– Não embroma! Fale logo de sua amante!
Era o que faltava para a multidão entrar em coro no mesmo tom.
Ergue novamente a mão direita com solenidade. O gesto nobre impõe respeito e silêncio. Volta-se para a jovem a seu lado e diz:
– Apresento a vocês, minha professora particular!

Airo Zamoner é escritor
airo@protexto.com.br
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