Meu andarilho, de noite sem brilho ,
olhe as musas de tuas esquinas
e abraça meus moleques desta pracinha.
Acalenta , afaga, orna essas rimas
com brilhantes das lágrimas dessa linda moça.
Dela naufrága toda piedade,
perdendo-se pela margem escura toda bondade
secando-se sem poesia,
pois não há mais flores vivas nesses dias
só versos cinzas , sem fantasias.
Constrói , arruma os escombros de abandono
desses corações vazios, meu andarilho ,
que quase sempre insistem em bater forte,
bater com ódio inconstante.
Olhe para essa pobre linda moça
que chora , grita esfomeada
e está sempre a tremer de frio do medo
pelo vestido sujo e contido.
Veja , pois és a dor daquele cálido amor
onde estes frios versos irás compor
Meu Andarilho , de noite sem brilho,
puseste tu a forçar a rimar
em teu desvelo eterno de sempre procurar.
Por onde anda a pobre linda moça ?
Olhe para estes fios caídos vermelhos tingidos
que dobram a tua esquina,
que enlaça-te o odor de perfume fétido.
Escute o entoar desses choros,
das musas de olhos d’água da alameda,
e a pobre linda moça caída.
Caía-lhe também sua profunda dor desfalecida,
solidão desta pele pura pálida
com braços vazios e seios cálidos murchados,
redundante ao pó de vossos corpos.
Não te precipites em ajuntar o corpo, meu andarilho ,
pois não acharás nenhum gemido.
Meu andarilho , de noite sem brilho ,
não há mais tua musa
tragaram-se as poesias , todas essas rimas
Olha teu coração em escombros
e o corpo singelo da pobre linda moça :
Não há mais cabelos
somente o vestido curto que encobre todo o rosto
mas descobre o corpo
definhando , espalhando escombros da nua cidade
cheia de Hades e maldade .
Vagueia , meu andarilho , nesse lugar errante
a esmo , a vento , a tua sorte ,
não sejas triste em achar pobres rimas sem brilho
pois tu és somente um pobre andarilho.
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