Venho administrando a depressão como posso, desmascarando muitos dos mecanismos psicológicos responsáveis pelas crises que muito me incomodaram e que ainda, em certos momentos, voltam a assustar. Hoje, entretanto, é diferente. Não caio mais tão facilmente, percebo a aproximação de um processo auto - destrutivo com antecedência. O que permite tomar as devidas precauções mentais.
A ansiedade, porém, tem atrapalhado um bocado. Ela é comum em qualquer mortal e sempre esteve presente. Contudo, de um tempo para cá, cresceu em demasia devido ao aumento do volume de trabalho e, conseqüentemente, da responsabilidade das decisões cotidianas. Ouvi de um médico que em certos casos a ansiedade pode aparecer como uma das formas de manifestação da depressão.
Como vem se mantendo em um nível suportável, sigo em frente. Falo mais que o normal e atropelo os acontecimentos. Aqueles que comigo trabalham têm demonstrado uma considerável paciência. Os compromissos profissionais além das fronteiras do escritório requerem um maior auto – controle de minha parte. Tranqüiliza saber que a situação poderá ser normalizada com a solução de algumas pendências e com o remanejamento e a diminuição forçada de funções.
Fui avisado pelos amigos. Mesmo assim assumi tarefas demais.
Ter consciência do problema facilita estabelecer limites. Procuro não ultrapassar a linha por mim demarcada e mantenho o equilíbrio. Procurarei auxílio médico antes de perder o controle.
A primeira alteração notável causada pela ansiedade, no meu caso, é a dificuldade em dormir. Durmo, mas não descanso. Tenho um sono agitado, acordo várias vezes durante a madrugada e desperto cansado, com preguiça de enfrentar o novo dia.
Estou bem. Continuo lutando sem cessar.
Nota do autor:
Segundo a Revista Superinteressante – Mundo Estranho, de agosto / 2002, estrategicamente arquivada, as lagartixas se desfazem da cauda por vontade própria. Não se trata de nenhuma crise masoquista de autoflagelação e, sim, de uma estratégia espertíssima que ajuda o bicho a salvar a vida. Quando perseguido, ele corta um pedaço do próprio rabo, que continua se movimentando, o suficiente para distrair o predador e ele fugir.
A idéia aqui é utilizar esta metáfora animal para simbolizar o poder de recuperação dos seres humanos e suas táticas de sobrevivência. As múltiplas interpretações, incluindo as de mau gosto, do por que da escolha desta figura são fantásticas e enriquecem a discussão. Aguardo a viagem de cada um!
Silvio Alvarez é assessor de imprensa da banda rock pop YSLAUSS, artista plástico de colagem e colunista.
Ilustração - Bruno César: brunoartes@uol.com.br
