São três da tarde. Dom... dom... dom... toca o velho relógio de parede. O calor é insuportável. Nem os mosquitos voam. A cidade se esconde dentro das casas, ninguém pelas ruas. As lojas estão vazias, os comerciantes, molemente debruçados nos balcões. Os pensamentos me vêm e me fogem sem eu ao menos perceber. O calor molha meus finos cabelos e minhas roupas grudam em mim. O relógio não pára: tic vai, tic vem.
Percorro minha velha casa com os olhos: os quadros estão na parede, o pratinho está com as pedrinhas coloridas, o tapete, varrido. Tudo nos conformes. Dom... dom... dom...dom... Ã s quatro em ponto passa o carteiro e me passa a correspondência por baixo da porta. Só contas, contas... É, o telefone anda mesmo caro. O calendário na parede me lembra que já é dia 22: amanhã recebo o pagamento. Tenho de me deslocar até o banco. Tomara que diminua o calor.
Dom... dom... dom... dom... Hora de banhar as plantas, as samambaias murcharam, a terra está seca, seca, seca... chupa os quatro dedos de água e pede mais!
O relógio bate seis. Três para dormir. O que virou esta minha vida, contar as horas, aguentar este calor, que Deus me perdoe, não é coisa certa.
O calor finalmente cede para o frescor da noite. Na cozinha eu já sinto uma brisa. O chão esfria, melhor ir calçar os sapatos. Mais um dia quente... ou seria menos um dia quente para aguentar?
Já são oito e antes de tocar a última badalada eu já estarei dormindo.
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