Ela jogou o pano para o alto, com a dificuldade de carregar muitas décadas no corpo, enchendo-o de ar e deixando-o cair levemente sobre a mesa, cobrindo quase toda a sua extensão. Esticou os velhos braços para desfazer as dobras que se formaram do outro lado da pequena e retangular mesa.
Vendo-a forrada pela toalha de mesa branca, quase amarela de velhice, e cuidadosamente bordada com flores amarelas e vermelhas, sorriu. Esticando as rugas.
Caminhou lentamente ate a cozinha, com dificuldade retirou do armário os pratos de louça, um a um lavou-os, retirando a poeira do tempo.
Colocou os quatros pratos sobre a mesa dispondo-os meticulosamente a frente das cadeiras, com particular atenção para o da cabeceira, onde o marido sentava. Assim o fez com talheres de prata, depois de lava-los com igual cuidado. Fez tudo com uma descomunal paciência que so a velhice possui.
Depois de tudo pronto, olhou com prazer a mesa posta e durante alguns segundos viu naquela mesa toda a família reunida. Lembrou-se do marido morto e dos filhos e netos, a muito, distantes.
Sentou-se sozinha a mesa, repousou , lentamente, as velhas mãos sobre os talheres a sua frente, como se deles emanasse alguma energia. Fechou os olhos.
Ela sabia que naquele domingo ninguém viria almoçar, mas ao menos a mesa estava posta.
Paulo Lima
02.08.2003
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