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Cronicas-->O salário do mês -- 09/02/2003 - 01:38 (Aparecida Nunes Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Saiu hoje meu pagamento. Entre aliviada e desconsolada, dirijo-me ao banco que guarda meus preciosos centavos e os valorosos milhões de quem mais pode. O dinheiro veio...mas não vai dar para nada. Dentro do banco, meu olhar perdido e cansado se encontra e se apoia nas rugas formadas em rostos que também fazem contas. Diante do caixa automático, conto e reconto os pedaços do papel colorido que alimentam o comércio. Mas, por mais que eu os esfregue entre meus dedos calejados, não consigo fazê-los render. Azar dos cobradores!
Dou pouco mais que cem passos e já percebo que, na porta da loja vendedora de ilusões, uma mulher busca reconhecer entre as cabeças baixas quem honrará com os compromissos com ela assumidos. Também baixo minha cabeça e acelero meu caminhar, na esperança de que a memória dela já esteja cansada. Mas não dei sorte...Fui identificada! E, entre as lamentações dela e as dificuldades minhas, jogamos a culpa no governo. Fica a promessa de que, no próximo mês, minha dívida com ela será quitada. Tomara que eu cumpra!
Mais alguns metros... Entro por uma portinha sem vigias. Atrás de um balcão de vidro, o sorriso do vendedor de saúde é tranquilo. Gentilmente, pergunta-me qual o número da ficha. Tristemente respondo. Ouço o barulhinho da calculadora que não tem dó de mim. Custo a acreditar no valor declarado como sendo minha dívida. Insensível aos meus argumentos, o dono dos remédios para o corpo conta as notas vagarosamente. E que Deus envie o remédio para as dores da alma!
Outros passos mais, chego ao mercado onde acostumei-me a assinar num final de linha minha sentença de dívida eterna. A dona dos meus quilos a mais e do que chamo de higiene e limpeza, recebe-me indiferente. Ela sabe que preciso dela. Arregalo os olhos, quando sou informada do quanto custou minha brincadeira de ser gente. Deus meu, pedi que o Senhor desse-me o pão nosso de cada dia... Mas...Como é caro!
Continuo minha caminhada...Vejo uma fila. Automaticamente, busco o último lugar. Ali, certamente, não haverá um caixa eletrónico cuspidor de notas variadas. Mas minhas notas suadas pagam contas vencidas da água que a natureza dá de graça e da luz que rouba minha energia. O telefone que me liga ao resto do mundo também não merece ser de mim retirado. Com a culpa no inconsciente, arrisco-me em riscar uma raspadinha...Desta vez, não tive sorte. Sorte...Quando tive? Quando terei?
É dia de pagamento...Meus filhos terão o direito de comer aquele bife que prometi há vinte dias atrás. Compro o bife. Compro também o frango. O músculo e a carne moída serão também levados. O dono das carnes passa-me o preço do que não me é permitido mas teimo em desejar. Maldizendo o Lula e o Fernando, pago irritada, já planejando quantas dúzias de ovos terei que utilizar no complemento dos almoços.
Com o peso do mundo nas costas, finalmente chego em casa. Meus filhos, sorridentes, aguardam as moedas que irão alimentar as latinhas que chamam de cofre. Piedosa, cato as poucas que me farão menos falta... Deposito-as nas mãozinhas daqueles que tão pouco me pedem. Vou para o quarto e vejo o que sobrou. Desolada, penso se não perdi algo na rua. Repasso meus passos e percebo o quanto não ganho. Tento conformar-me...Sou apenas mais uma a esperar o próximo pagamento.
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