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Contos-->Amarelo ameba -- 06/08/2003 - 17:23 (Paulo Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Uma bosta, uma merda ou qualquer outro sinônimo para fezes, conseguia descrever, por completo, a vida de João. Tinha 25 anos, não completou o colegial, mesmo se tivesse completado não faria muita diferença pois na escola publica em que estudava so aprendeu mesmo a fumar maconha. Trabalhava há dois anos como Office boy de um escritório de contabilidade. A miséria que ganhava não dava nem pra tomar uma cervejinha com os amigos. Alias! Que amigos ?
Morava com a mãe num barraco na periferia, o pai havia morrido há anos de cirrose e os irmãos mais velhos foram tentar a sorte em São Paulo e há muito tempo não mandavam noticia. Sem contar com a total ausência de atributos físicos, João era esquelético e totalmente desprovido de beleza. A vida de João era uma merda.
E as coisas andavam piorando. João, que sempre foi um madrugador por necessidade, não conseguia mas levantar cedo, estava perdendo sempre a hora e chegando atrasado no trabalho. Andou perdendo peso, o que quase o levou a total invisibilidade, andava cansado, cabisbaixo e cada vez mais pálido. A mãe, vendo o estado decrépito do filho, aconselhou: “Procure um medico meu filho, você esta doente.”
Uma das poucas qualidades de João era a de sempre obedecer a mãe, embora as vezes se arrependesse. Seguindo o conselho de sua genitora e única acompanhante naquela jornada mal afortunada de viver, João dirigiu-se ao posto de atendimento do SUS mais próximo e depois de passar 2 horas e meia na fila foi atendido:
-- Qual eh o seu problema? Disse-lhe o medico sem olhar para João.
João descreveu minuciosamente todo o seu infortúnio, o cansado, a apatia, as dores pelo corpo, a moleza. O medico ouviu tudo desatento, como de costume.
-- Você terá de fazer alguns enxames. A começar pelo enxame de vezes. Eu acho que você tem vermes.
-- Vermes ?
-- Sim. (pausa longa) O medico, finalmente, levanta a vista, olha para João e completa.
-- VERMES.
João ouviu, atentamente, as instruções do medico, que se resumiam em:
-- Comprar um potinho, cagar dentro dele e traze-lo para a atendente do laboratório que ficava naquele mesmo posto do SUS.
Ele saiu do posto de saúde resignado, a sua vida era realmente uma merda. Ele tinha vermes, o que na sua cabeça era um atestado de pobreza. Ele já sabia há muito tempo que era pobre, mas ter vermes já era demais. Teria que cagar dentro de um potinho!!! Pensou seriamente em não fazer aquele enxame, mas ponderou que não dava pra permanecer naquele estado. Passou na farmácia e comprou o potinho:
-- Eu quero um potinho pra fazer enxame de fezes.
O balconista olhou com pena para aquela figura amarela e magra a sua frente:
-- Pois não.
Assim foi feito e João dormiu e sonhou com a sua merda. Não com a sua vida, que também era uma merda.
De manhã João foi a banheiro com o potinho na mão. Acocorou-se, posicionou o pote na saída anal e obrou a sua bosta matinal. Uma merda pastosa, amarela e tão quente que embaçou o pote.
Foi então para o posto de saúde entregar a mercadoria no laboratório, sequer tomou o cuidado de embrulhar o potinho pra ocultar o seu conteúdo. Para que demagogia, era merda mesmo.
Ao entrar no laboratório viu a fila monstruosa. Normal. Entrou na fila. Depois de alguns minutos ela apareceu.
De jaleco branco que contrastava com a pele morena, cabelos longos e lisos, andar sinuoso de felina. A coisa mais linda que João já havia visto. Passou por ele lentamente sem olhar. Deixou um perfume embriagador no ar. Dirigiu-se para ao começo da fila e se instalou na cabine. Ela era a atendente. A fila começou a andar.
João suava de pavor com a possibilidade de entregar nas mãos daquela beldade a sua merda amarela. A cada passo a agonia aumentava. Ele sabia que não tinha praticamente nenhuma chance com aquela princesa, mas conhece-la com um pote de merda cheia de vermes na mão, era humilhação demais.
A fila andava.
João olhou discretamente para aquela bosta amarela, a sua aparência era a pior possível, se bem que não se pode esperar uma boa aparecia de um monte de merda. Escondeu o potinho entre as mãos.
Observou a atendente. Traços finos e delicados. Como ela tratava bem as pessoas, sempre com um sorriso aberto. Por mas decadentes que fossem os paciente que ali estavam, ela sempre os recebia com um olhar de carinho e atenção. Com palavras doces e meigas. Era um anjo. João não podia entregar a sua merda a um anjo.
Saiu da fila e jogou o potinho com merda na primeira lixeira que encontrou. No outro dia procuraria o medico. Iria lhe perguntar se não dava para detectar os vermes com um enxame de sangue.


Paulo Lima
06.08.2003
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