"...Que o medo da solidão se afaste, que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
Que o espelho reflita em meu rosto o doce sorriso que eu me lembro de ter dado na infância.
Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei..."
Oswaldo Montenegro
Me
ta(r)de
Parte de mim é fragilidade. A outra face, alicerce.
Parte, adere meus fragmentos e faz-se una, enquanto a outra, de natureza porosa à tristeza, se desconjunta.
Em parte sou um corpo sólido. Em parte, partícula, suspensa em líquido.
Uma parte de mim é transparência. Minha outra metade, guarda a opacidade das sombras densas.
A parte aparente dá passos (em falso) de felicidade pelas ruas. Na verdade, valsa a amargura no obscuro de meus becos sem saída.
Do lado de lá de meus muros, desconheço temor. Mas, cá dentro, circunda o medo - quase fobia - desse meio a meio que sou.
Diante do espelho, disfarço um mar de lágrimas. Dou um corretivo nas marcas persistentes, passo base para sustentar a maquigem, realço o sorriso dos lábios, traço o contorno dos olhos baços, belisco as maçãs do rosto - para dar-lhes rubor.; para acordar do pesadelo: esse meio, quase termo.
Porque metade de mim vive a minha espera.
A outra metade, quem dera...mas cansou.
Valéria Tarelho
Clique aqui, para ver o texto ilustrado e ouvir o poema Metade, de Oswaldo Montenegro.
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