Escolher o caminho não é olhar os guias,
não é traçar os percursos, nem consultar os mapas.
Não é continuar trilhando as mesmas vias
tantas vezes percorridas,
antevendo cada etapa,
hora de chegada ou partida.
Saber o caminho pode ser
simplesmente não saber
onde fica o tal lugar,
onde é que vamos dar –
SE vamos dar em algum lugar...
Pode ser apenas seguir a viagem
sem nunca perder de vista
a paisagem que se mostra,
generosa, à beira da pista...
Não deixar passar o detalhe
que não se viu da outra vez,
ver com olhos novos,
até onde alcança a vista.;
olhar o antigo como se fosse
ainda a primeira vez.
Não há mapas.
Nem estradas, nem percursos.
Não há que se gastar tempo,
nem os nossos parcos recursos
com receios e lamentos.
Não há que se perder
um mínimo de energia
querendo tocar miragens:
há que fazê-las reais.
Não há estrada, nem destino.
Nem nada.
Tudo que há é a viagem.
De nada adiantam guias alheios,
nem se levar por receios
que outros andaram criando.
A viagem de cada um de nós é única.
Não precisa mala,
só o coração na bagagem.
Basta a própria túnica
para lenço em alguma paragem,
que seque aqui e ali
a lágrima inesperada
ou que contenha o espanto
ante alguma paisagem
que nos esconda a estrada...
Só é preciso seguir.
Lembrar que não há destino.
Só é preciso insistir.
Sempre e novamente,
com espírito menino.;
seguir estrada adiante,
olhando o terreno e o divino
com olhos de eterno amante.;
perscrutar nossas entranhas,
cavernas e profundezas,
enxergar a própria imagem,
sem espanto ou estranheza ,
e saber que o caminho não existe:
é a viagem. |