Eu te escrevo agora, amigo,
e você sabe que é contigo...
Você sabe do que eu falo,
embora saiba que eu calo
por razões que não convém
dizer a qualquer alguém
já que no mundo em que estamos
no mais das vezes calamos
aquilo que o mundo inteiro,
se pudesse abria um berreiro.
Buscar sossego na vida
é tarefa atrevida
porque o que parece, meu caro
paz é artigo raro.
Apanhei já um bocado –
bem sabes – estavas ao lado,
pra aprender um pouco do jeito
de fechar os olhos no leito
despreocupada de nada,
achar a mais bela estrada,
arrebentar as barreiras,
desbravar todas fronteiras,
escancarar as porteiras
e abrir as portas trancadas.
Não é tarefa fácil,
já disse e ainda repito,
mas ainda acredito
que o caminho que abriste
no teu peito, faca em riste,
mesmo que doa demais,
(que sermos nós mesmos é dose)
é o que vai direto à paz...
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