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Contos-->Júnior Cocada -- 12/08/2003 - 14:45 (Paulo Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos



Naquela noite da Sábado, Júnior Cocada tinha pouca mais de trinta anos.
-- Diz Paulin
-- Fala Júnior. Senta aí e toma uma cerveja comigo.
Eu conheci Júnior há uns dez anos. Ele cantava “Canteiros” no aniversário de uma prima minha. Era um boêmio na forma da lei. Um irresponsável da melhor espécie. Tinha uma voz maravilhosa, onde chegava fazia a festa, tomava o microfone de alguém e comandava a noite. Cantar era a única coisa que ele fazia bem e sabia disso.
Não posso afirmar com exatidão que ele seria um grande cantor. Não levava nada a sério, nem mesmo a música. Acho que a irresponsabilidade era o seu grande talento. Aquele sim era um perfeito inconseqüente. Largou cedo a escola e se dedicou a boêmia. Viveu uma vida de Condor. Sem medidas. De causar inveja. Não tinha muito dinheiro, mas não precisava dele. Ele tinha a vivacidade dos irresponsáveis. Nada o detinha.
Até que em noite ele acordou. Ou melhor, acordaram ele.
-- Diga lá Cocada. Como anda a vida ?
-- Caminhando. Meu amigo. Caminhando.
Há alguns anos Júnior dirigia o seu chevete de volta para casa, alcoolizado, como de costume. Tinha sido mais uma madrugada de muita farra. Atropelou um jumento. O animal quebrou o parabrisa do velho chevete e chocou-se contra o rosto de Júnior. Ele deve múltiplas fraturas na face. Ficou deformado. Desdentado. Diziam que não usava chapa porque não tinha o “céu da boca”. Eu nunca o perguntei se isso era verdade. Não tive coragem.
Apenas isso, talvez não o incomodasse muito. O pior para Júnior foi perder a voz. A voz que todos admiravam. O único trunfo que possuía diante da mesmice dos outros. O que o diferenciava. Cocada ficou fanho.
Aquele acidente foi a sua despedida tardia da adolescência. Acabou a festa. Cantar, que era o seu grande prazer, ficou impossível. A boêmia desmedida já não possuía a beleza de outrora. O encantamento da noite esvaiu-se. Um lombo de jumento despertou Júnior do seu sonho de eternas madrugadas juvenis.
Ele continuou na noite. Como que a desafiando. Agora no papel de garçom. Arranjava bicos nos bares da cidade. Naquela noite de Sábado não arrumou emprego.
Cocada nunca foi de lamurias, por isso eu estranhei quando ele disse:
-- Paulin...
-- Fala Cocada.
-- Todo dia antes de sair de casa. Eu me olhou no espelho e digo: “Júnior, tu é o cara mais bonito de Limoeiro.” Porque, senão meu amigo, eu não saio de casa.
Jogou uma tonelada de melancolia naquela mesa de bar. Talvez mais do que ela pudesse suportar. Tinha o olhar cansado dos desistiram.
-- Um brinde. Eu propus.
-- A que ? Meu amigo. Respondeu Junior erguendo o seu copo
-- A Júnior Cocada. O cara mais bonito de Limoeiro.
-- Aquele que deu um beijo de boca num jumento. Pior pra ele que morreu. Eu tô aqui vivo.
Abriu um sorriso banguela. Era mais um desdentado rindo da vida.
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