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Cordel-->O PRÍNCIPE SAPO -- 01/10/2005 - 12:17 (Benedito Generoso da Costa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O PRÍNCIPE SAPO

I

Vou contar-lhes a estória
Duma princesa encantada,
Muito bela e por isso
Era por todos amada;
Em seu leito ela dormia,
Quando o castelo jazia
Nas sombras da madrugada.

II

Sonhava estar abraçada
A uma enorme serpente,
Que lhe lambia os lábios
Com sua língua repelente;
Acordou e viu um sapo
Sobre ela a estufar o papo
E falando como gente.

III

Disse vagar tristemente
Pelos pântanos lodosos,
Porquanto fora rebelde
Em tempos dos mais ditosos,
Quando era filho de rei
E desrespeitou a lei
Dos códigos valorosos.

IV

Diante dos pais chorosos
Confessou ele o pecado:
Tinha amado uma plebéia
E por ela fora amado,
Esquecendo que entre nobres
Não há lugar para pobres,
Conforme assim decretado.

V

Por isso fui condenado,
“Dizia o sapo à princesa”,
A me tornar um anfíbio
Asqueroso e sem beleza,
Fui para a margem dum rio
E uma cobra me engoliu
Com toda sua vileza.

VI

Eu só sentia tristeza
Na barriga da serpente,
Porém lembrava de Jonas
Que reviveu novamente
Depois de ser devorado
E em seguida vomitado
Na praia em tarde quente.

VII

Guardava em minha mente
As lembranças do passado,
Quando príncipe eu era
Em toda corte amado,
Até conhecer aquela
Mulher de feição tão bela
Que me fez enfeitiçado.

VIII

Do reino fui deserdado
Tão somente por amar
Quem eu sempre desejei
E Deus me fez encontrar
Dentro da casa minha,
Servindo minha mãezinha
Nos afazeres do lar.

IX

Nela eu pus o meu olhar,
Voltando-se, ali me viu,
Preparava uma ceia,
Baixou os olhos, sorriu,
Dizer nada foi preciso,
Achamos o paraíso,
Entre nós o amor surgiu.

X

O meu rival que assistiu
A mim a ela abraçado
Foi depressa denunciar
O que tinha constatado:
Ali dentro do castelo
Com todo o seu desvelo
Havia algo errado.

XI

Sendo o guarda destacado
Para vigiar o jardim,
Foi testemunha de um beijo,
Prenúncio de amor sem fim;
Entre o príncipe e a escrava
Um amor nascendo estava
Perfumado de jasmim.

XII

Reuniu-se a corte, enfim,
Convocaram-se os jurados,
Para julgar uma serva
Pelos seus muitos pecados,
Porquanto havia dormido
Com o príncipe escolhido
Na alcova dos reis amados.

XIII

Os magos foram chamados,
Viessem de qualquer recanto,
Pois que ali se precisava
Realizar algum encanto;
A escrava atrevida
Seria queimada em vida
Embrulhada no seu manto.

XIV

O príncipe, entretanto,
Num sapo se tornaria,
Porquanto herdava o sangue
De uma nobre fidalguia;
Sobre uma carruagem
Faria longa viagem
Durante uma noite e um dia.

XV

No charco habitaria
Até completar cem anos,
Depois disso, tendo sorte,
Conforme está nos arcanos,
Uma princesa encantada,
Passeando pela estrada
Livrá-lo-ia dos danos.

XVI

A vida tem os seus planos
E assim ocorrem mudanças,
Por isso enquanto o sapo
Fazia suas andanças
Na beira de muitos lagos,
Chegaram de outros pagos
Duas cobras nas vizinhanças.

XVII

Tendo línguas como lanças,
Uma a outra beijava,
Ou assim se parecia
Para quem lá se achava:
O sapo, ali postado,
Belo príncipe encantado
E que a tudo observava.

XVIII

A cascata ressoava
Naquela imensa floresta,
Enquanto o astro rei
Buscava por uma fresta
Em meio às verdes ramagens,
Bifurcando as folhagens
Para abrilhantar a festa.

XIX

O macho beijou a testa
Da cobra fêmea e foi embora,
Esta mostrou sua língua
E deslizou sem demora
Até chegar junto ao sapo
(Ali um simples farrapo)
E o engoliu na mesma hora.

XX

Esclareço sem demora
Que o sapo ora tragado
Não era mais do que eu
Que fora enfeitiçado
Por amar a bela escrava
No reino onde reinava
Meu pai, tirano odiado.

XXI

Em um sapo transformado
Fui para o sertão bravio,
Pulando moitas de gramas
Semanas, dias afio,
Até que este feio sapo
Foi passado para o papo
Da cobra que me engoliu.

XXII

Nas margens daquele rio
Havia índios morando,
Crianças bugres estavam
Ali na areia brincando,
Sem ver que a cobra inimiga
Com o sapo na barriga
Descia o rio nadando.

XXIII

Foi na areia se aportando
Aquela cobra imensa
E, ao calor do sol da tarde,
Penetrou na mata densa,
Chegou a uma escarpada,
Ficou lá enrodilhada
Até curar sua doença.

XXIV

Já não tendo mais defensa
Fui ali esgorgitado...
Um sapo livre eu era,
Porém todo melecado,
Embora lembrasse ainda
De minha amada linda
Por quem fora castigado.

XXV

Depois de ser vomitado
Fiquei como um almofreixe
E um indiozinho pegou-me
Levando-me com seu feixe,
Mas como era um vomito,
Para a cobra dei um grito:
- Oh, Serpente, não me deixe!

XXVI

Nas margens do rio do peixe
Vi uma víbora fugir,
Deixando sem pai nem mãe
Sapo que não quis parir;
Volto então onde estava
A princesa que sonhava
Com um príncipe a sorrir.

XXVII

Vi essa princesa vir
Nos meus longos pesadelos,
Trazendo fitas douradas
Enlaçadas nos cabelos,
Com colares de marfim,
Exalando alecrim,
Seguida por seus camelos.

XXVIII

Alá ouviu meus apelos
E um sapo não mais sou,
Nem sequer procuro cobras
Pelo caminho que vou,
Busco só uma mulher
A quem amo e que me quer
Do jeito que eu estou.

XXIX

Se uma me abandonou,
Por não amar o bastante,
Terei uma nova esposa
Que me ame doravante;
Ao lado dela serei
Não mais sapo e sim rei,
Um príncipe triunfante.

XXX

Vejo uma estrela brilhante
Do céu descendo até mim,
Vem ela ao meu encontro
No amor que não terá fim,
Acabou-se o amargo fel,
Chegou a lua de mel
Entre flores de um jardim...

BENEDITO GENEROSO DA COSTA
benedito.costa@previdencia.gov.br
DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS



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