Mais de uma vez ao dia
percorro amiúde a mesma trilha:
atravesso planícies vazias,
vales, abismos, cavernas sombrias.
Mais de uma vez ao dia
meu pensamento atravessa
mares revoltos, densas florestas,
onde o sol pouca vez penetra.
Mais de uma vez ao dia
meu olhar esquadrinha
cuidadoso, linha a linha,
passo a passo, sinuosa estrada,
leito de rio, montanha escarpada,
casa vazia, cidade abandonada.
Mais de uma vez ao dia
meu coração intranqüilo,
viajante constante, insistente,
segue seu curso em busca daquilo
que nem minha mente pressente.
Mais uma vez ao dia
ele percorre o caminho
já tão dele conhecido
sem saber que em seu ninho
mora o xis, o desconhecido.
Mais de uma vez ao dia
retorna ele ao seu leito,
e novamente insatisfeito,
antevê a próxima viagem,
e já prevê o roteiro, a paisagem,
que há de percorrer, insistente,
com uma certeza quase demente,
de que o inesperado, embora buscado,
há de chegar certo, em hora incerta,
e dar descanso derradeiro
a este insistente guerreiro,
buscador, andarilho arruaceiro,
cujo único desejo,
é encontrar o paradeiro
do espelho de si mesmo.
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