Num passado recente, quando apenas os generais exerciam a presidência do Brasil, os vices não tinham lá muita importância e nós nem lembramos os nomes de alguns deles. Após a redemocratização do país, o colégio que elegeu Tancredo e a eleição que levou Collor ao Palácio da Alvorada, os vices ainda não eram escolhidos com critérios de acordo com a relevância do cargo. Com a posse de Sarney e, posteriormente, de Itamar, a classe política despertou para a escolha mais apurada do vice-presidente.
Nas eleições deste ano este paradigma cai por terra. A atenção dos candidatos aos seus vices está sendo muito bem articulada, é pauta de muitas e intermináveis reuniões. As especulações surgem diariamente. É praticamente unânime entre os políticos que o vice agregue e complete o candidatura presidencial.
As articulações atuais envolvem vários nomes femininos. Resquícios da escalada abrupta de Roseana Sarney, que apenas sorrindo e falando pouco chegou a ser segunda colocada nas pesquisas eleitorais. Mas aquela dinheirama mal explicada na gaveta diluiu a incipiente candidatura maranhense.
Rita Camata foi o outro nome feminino que despertou o interesse e a percepção dos políticos de que as mulheres têm a simpatia do povo neste ano eleitoral. Numa tentativa, aparentemente bem sucedida, de alavancar a candidatura Serra e fechar uma coligação com o PMDB, Rita Camata vira vice do candidato do governo. Entre a bela da câmara e a fera do senado, os marqueteiros do establishment tucano, escolheram a beleza feminina capixaba. Alguém deve ter dito “desculpe-me senador, mas beleza é fundamental”. Provavelmente fizeram a opção correta, pois a candidatura do PSDB, em meio as perdas do fundo de renda fixa, galgou pontos percentuais nas pesquisas.
Essa coqueluche eleitoral de que uma mulher seja vice, começou a pipocar nas demais candidaturas. Para vice de Lula, salvo se o PL estiver fora, surgem os nomes de Osmarina Silva e Emilia Fernandes, ambas senadoras, do Acre e Rio Grande do Sul, respectivamente. Para vice de Ciro surgiu a indicação do nome de Sônia Santos do PTB-RS, ex-vereadora, foi candidata a vice de Collares na eleição para prefeito de Porto Alegre.
Há um desfile de sorrisos femininos, batom, maquilagem e rouge nas faces das disputas presidenciais no Brasil, não perceptível em outras eleições.
Entretanto, para a mosca azul, o sexo do candidato é indiferente.
Nesta fogueira das vice-vaidades o senador Pedro Simon aparece como o mais alvejado, foi picado três vezes; pela mosca do PMDB, quando queria ser candidato a presidente, e pelas moscas do PSDB e do PT numa eventual candidatura a vice-presidente. É natural que o senador seja assediado desta maneira, possui uma trajetória curricular invejável na política brasileira, mas vamos devagar, porque as feridas da mosca azul custam cicatrizar. E na política pode causar resultados indesejáveis. Como um cidadão pode ser cogitado para ser candidato a vice de duas candidaturas antagônicas e com propostas divergentes?
Emíla Fernades comentou, ao ser citada, que era “soldado do partido e está pronta para esta empreitada”. Primeira picada. Sônia Santos, disse que “recebia a notícia com cautela mas não era de fugir da briga”. Outra picada da mosca azul.
A declaração mais sensata acerca dos prováveis vices foi feita pelo pré-candidato Ciro Gomes: “Quero alguém que, no caso de eu sofrer um enfarto, possa governar como eu governaria”. Impressão minha, ou foi um recado direto para Sônia Santos e para o dirigente da Força Sindical? Se foi, pouco adiantou, Paulinho é o vice de Ciro e a Frente Trabalhista está formada. Um cara que se chama Paulo Pereira da Silva (PPS) só podia ser o vice de Ciro.
Nesta questão dos vices o PT tem uma prática interessante, ou seja, o vice do PT trabalha. O vice-prefeito é secretário de município e o vice-governador é secretário de estado. Passa a responder por demandas do governo, deixando de ser uma figura meramente decorativa na administração.
O futuro vice-presidente do Brasil, deve ser um cidadão qualificado para o cargo e ser responsável por um ministério, justificando, assim, o salário que receberá. Caso contrário teremos que rezar para que o presidente eleito não sofra qualquer tipo de enfermidade que o afaste da presidência e que não dê motivos para os carapintadas saírem novamente às ruas.